A médica oncologista Fátima Cardoso lamenta que a Autoridade do Medicamento apenas autorize para mulheres após a menopausa um medicamento que aumenta a sobrevivência em doentes com cancro da mama avançado, deixando de fora mulheres mais jovens.

[O Infarmed] está a sonegar às mulheres jovens com cancro da mama avançado uma classe de medicamentos que aumenta a sua sobrevida. O Infarmed está a acelerar a morte de doentes jovens com cancro da mama avançado”, afirmou Fátima Cardoso, que lançou a instituição internacional Aliança Global pelo Cancro da Mama Avançado.

Segundo a oncologista, o novo medicamento em causa foi aprovado pelo Infarmed para ser administrado em mulheres após a menopausa.

No Congresso Internacional sobre Cancro da Mama Avançado, que esta quinta-feira começa em Lisboa, Fátima Cardoso antevê que uma das recomendações passará por se disponibilizar a nova classe de medicamentos a todos os doentes com o subtipo de cancro hormonodependente, sejam mulheres antes e após a menopausa ou até homens com cancro de mama avançado daquele subtipo.

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A perita, que coordena a Unidade da Mama do Centro Clínico Champalimaud, explica que esta nova classe de medicamentos chega a aumentar a sobrevida de doentes com cancro avançado em um ano, numa doença em que a média de sobrevida são três.

Fátima Cardoso defende ainda uma maior rapidez por parte da Autoridade do Medicamento na avaliação e aprovação de medicamentos, à medida que vão sendo apresentados novos estudos clínicos.

A apresentação desta nova classe de medicamentos capaz de aumentar a sobrevida no subtipo de cancro da mama mais frequente é um dos avanços mais significativos em termos de investigação nos últimos dois anos e pode ajudar o objetivo de aumentar a sobrevida dos doentes com cancro da mama avançado.

Um dos objetivos dos peritos internacionais seria aumentar a média de vida para doentes com cancro da mama avançado para quatro a seis anos até 2025.

Um terço dos cancros da mama vão acabar por ser metastizados mesmo com os melhores cuidados de saúde ou mesmo que detetados precocemente, sendo que a média de sobrevivência para estes doentes é de dois ou três anos.

Em declarações à agência Lusa, Fátima Cardoso sublinha que o cancro da mama avançado, que abarca o inoperável e o metastático, ainda recebe menos atenção do que o cancro da mama precoce.

Em declarações à Rádio Observador, o presidente do Infarmed considerou “inaceitáveis” e “alarmistas” as acusações da oncologista, garantindo que “existem neste momento alternativas disponíveis” e que “as restantes estão a seguir o seu normal processo de avaliação”.

Rui Santos Ivo rejeitou também as críticas de que o Infarmed deve ser mais rápido a avaliar e aprovar medicamentos, uma vez que o processo “está a ser feito dentro dos tempos previstos”.

O medicamento em causa que “tem a indicação para situações de pós-menopausa” recebeu a aprovação pela União Europeia da “segunda indicação para situações de pré e perimenopausa” mais tarde e, por isso, o processo foi submetido mais tarde ao Infarmed e “está neste momento na fase final de avaliação”, explicou ao Observador o Presidente da Autoridade do Medicamento.

As estimativas mundiais indicam que há em todo o mundo mais de 1,7 milhões de novos casos de cancro da mama todos os anos, sendo que entre 5 a 10% têm localizações já avançadas ou espalharam-se por outras partes do corpo.

Fátima Cardoso defende também que os registos oncológicos dos países devem passar a incluir o registo de recidivas e de cancros avançados, para se saber quantos doentes existem, quais as suas características e ajudar a definir prioridades.

A oncologista será distinguida com o prémio internacional de Cancro da Mama Avançado pelo seu papel na luta contra a doença, no Congresso que esta quinta-feira começa em Lisboa e que reunirá cerca de 1.200 pessoas, entre especialistas e doentes.

No Congresso que decorre até sábado em Lisboa, a Sociedade Europeia de Oncologia e a Aliança Global do Cancro da Mama Avançado, vão atribuir o Prémio de Cancro da mama Avançado 2019 a Fátima Cardoso, diretora da unidade da mama do Centro Clínico Champalimaud, em reconhecimento pela sua capacidade de antever “a importante do cancro da mama avançado”.