O secretário-geral do PS considerou esta sexta-feira insustentável do ponto de vista social a situação em que classes médias e pequenas empresas suportam a maior parte do esforço fiscal e defendeu um acordo internacional para taxar multinacionais tecnológicas.

Esta posição foi defendida por António Costa na conferência da Aliança Progressista, num discurso em inglês em que analisou algumas das causas da “ameaça populista” às correntes socialistas, sociais-democratas e progressistas a nível mundial.

Nesta conferência com a presença de vários chefes de Governo sociais-democratas e socialistas da União Europeia, o primeiro-ministro considerou que “não basta denunciar a ameaça populista” e que é preciso “encarar os factos com realismo”, procurando “saber o motivo de alguns eleitores da classe trabalhadora e média, que costumavam votar na esquerda, agora estão votando em extremistas”.

“A tributação justa é um pilar de solidariedade e democracia”, frisou o secretário-geral do PS antes de lançar a seguinte pergunta: “A democracia pode sobreviver sem tributação das grandes corporações, enquanto a classe média empobrecida e as pequenas empresas suportam a maior parte do esforço fiscal?”.

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De acordo com António Costa, “nenhum país por si só pode tributar efetivamente gigantes da tecnologia como a Google, a Amazon ou a Microsoft sem ser penalizado pela concorrência desleal”.

Somente através da cooperação internacional nesse campo seremos fortes o suficiente para enfrentar esse desafio”, defendeu, recebendo palmas da plateia e antes de advertir que “a luta da esquerda democrática hoje é a luta da confiança contra o medo”.

“A revolução tecnológica e digital está a transformar o mercado de trabalho e a exigir dos trabalhadores novas habilidades e capacidade de inovar. Alguns trabalhos vão desaparecer, novos serão criados. A alternativa não é parar o progresso, mas investir mais nas qualificações de nossos trabalhadores: na educação, na formação vocacional e na aprendizagem ao longo da vida para garantir que ninguém seja deixado para trás”, advogou o líder dos socialistas portugueses.

Na sua intervenção, nesta conferência subordinada ao tema de “Uma agenda progressista para o futuro do trabalho e da sustentabilidade e da solidariedade”, António Costa registou o crescimento eleitoral de forças de uma “extrema-direita alimentada pelo medo, pela perceção de insegurança causada pela austeridade, por crescentes desigualdades, desemprego e falta de oportunidades”.

O medo alimenta a intolerância, o racismo e o protecionismo. Forças moderadas da esquerda e da direita continuam a descer nos estudos de opinião, enquanto a extrema-direita e o radicalismo estão aumentando”, alertou.

Nesse sentido, o primeiro-ministro português classificou como vital a existência de “mais cooperação internacional” em relação às migrações – questão que classificou mesmo como “uma das mais desafiadoras do nosso tempo”.

A migração não regulada é sempre um problema para todos: para os países de origem, para os de trânsito e de destino e, mais importante, para os próprios migrantes. Pelo contrário, a migração bem regulada é uma vantagem para todos. Precisamos combater o populismo sem fazer concessões ao ódio e ao racismo. As forças progressistas devem responder às oportunidades e desafios económicos e demográficos”, declarou.

António Costa identificou ainda como desafio global o combate às alterações climáticas, salientando que “o Acordo de Paris é um instrumento essencial para proteger o planeta e um motor de crescimento para as economias”.

Neste contexto, deixou uma série de questões sobre práticas negativas que subsistem no continente europeu, perguntando se “faz sentido ir contra a natureza e subsidiar a produção de abacates na Europa, desperdiçando água preciosa, para competir com os produtores de onde este tipo de fruto tem o seu habitat natural?”

“A abordagem inteligente e sustentável é um acordo comercial para abrir os nossos mercados aos abacates provenientes da América Latina e promover os nossos altos padrões ambientais e laborais naquele continente. O comércio global justo pode contribuir para reduzir a pegada ecológica. Este é um exemplo de uma resposta sustentável e progressista em que todos saem ganhando”, advogou, recebendo de novo muitas palmas da plateia.

Para António Costa, no plano político, “a escolha do presente e do futuro não pode ser entre neoliberalismo e capitalismo autoritário”.

“A social-democracia é mais necessária do que nunca para capacitar as pessoas contra o medo. Somente através do reforço da dimensão social em todos os desafios globais poderemos construir soluções sustentáveis para toda a humanidade”, acrescentou, num discurso em que elogiou o legado político do líder histórico dos sociais-democratas suecos, o falecido Olof Palm.