Era um interesse mútuo confirmado há muito tempo, esteve quase para se materializar na temporada passada, mas foi adiado e consumado no verão. Griezmann queria ir para Barcelona, o Barcelona queria receber Griezmann. 120 milhões depois — e muita polémica à mistura, com o Atl. Madrid a reclamar mais 80 porque o acordo teria sido feito antes de a cláusula de rescisão do jogador baixar –, o avançado francês deixou o rojiblanco e passou a vestir de blaugrana. Na Catalunha, ainda ferida pelo fiasco na recontratação de Neymar, esperavam-se mundos e fundos de Griezmann. Mas a história não tem tido final feliz.
Desde que chegou ao Barcelona, o jogador francês marcou apenas quatro golos em 15 jogos — todos na liga espanhola e nenhum na Liga dos Campeões — e tem desiludido todos aqueles que acreditavam numa adaptação simples de Griezmann à equipa. Ainda que o talento do avançado nunca tenha sido provado e comprovado pelos golos, ou pela ausência deles, a verdade é que essa escassez é apenas mais um sintoma de que a nova peça não está a encaixar no xadrez catalão. O jogador atua constantemente arredado das mobilizações ofensivas e ainda só registou uma verdadeira boa exibição global, no final de agosto com o Betis, onde acabou por bisar: a dificuldade em receber bolas em profundidade nas costas das defesas adversárias, movimento que realizava com frequência no Atl. Madrid e que repete na seleção francesa, tem sido o principal ponto fulcral nas prestações cinzentas de Griezmann, que tem atuado numa posição que não, intrinsecamente, a sua.
Habituado a jogar como número ’10’, segundo avançado, elemento mais recuado do ataque e mais adiantado do meio-campo em simultâneo — tanto em Madrid como na seleção –, o avançado foi agora empurrado para o corredor. Seja no 4x4x2 de Ernesto Valverde ou no alternativo mas frequente 4x3x3, Griezmann joga tombado na ala, longe da faixa central onde mais facilmente desequilibra. O problema é que, no Barcelona, essa posição está totalmente reservada a uma pessoa: Lionel Messi. E tal como aconteceu com Philippe Coutinho, que nunca se adaptou aos catalães porque era forçado a jogar numa posição que não era a sua porque Messi estava onde ele poderia estar, o argentino parece ser simultaneamente o maior ativo e também o maior problema do Barcelona.
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Durante a semana, e já depois de todos os jornais espanhóis questionarem o momento de forma de Griezmann, foi a vez de o francês L’Équipe perguntar na capa “qual é o problema?”. Esta quinta-feira, depois da receção da seleção francesa à Moldávia que acabou por valer o apuramento para o Euro 2020, o avançado de 28 anos não escondeu que nem tudo está bem no Barcelona. Mas também garantiu que não é uma surpresa. “Claro que jogar no eixo é melhor para mim. Tenho as minhas orientações. Tenho aprimorado esta posição durante anos e anos. Mas tenho um novo clube. Tenho de me adaptar. Ainda estou a aprender. Quando cheguei já sabia que ia ser difícil. Eu sabia muito bem”, explicou Griezmann, complementando as declarações do selecionador francês, que reconheceu que a prestação do jogador em Espanha “poderia ser melhor”. “Está a ser usado em posições diferentes daquelas em que joga na seleção e precisa de se adaptar. Está num clube muito grande, com muitas expectativas e exigências, além de fazer parte de um grupo novo em que as referências não são as mesmas. Não acho que esteja a ser catastrófica, mas poderia ser melhor. Mas está numa equipa com muitos jogadores que também são muito decisivos”, disse Didier Deschamps.
Voici la une du journal L'Équipe ce mercredi 13 novembre.
???? Le journal > https://t.co/5cQVpLDJJ8
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O prolongar do período de adaptação do jogador, numa altura em que já estamos a meio de novembro, faz também levantar questões sobre a relação de Griezmann com os colegas de equipa — principalmente, claro, com Messi. As notícias de que os dois não se davam começaram a surgir logo nos primeiros dias do francês em Barcelona e o apoio do argentino à tentativa de resgate a Neymar, com quem se entende tanto dentro como fora de campo, só engrossou as suspeitas. E esta semana, um terceiro nome da equipa acabou por confirmar que as conversas entre francês e argentino escasseiam: ainda que ressalvando que não é um problema especificamente com Griezmann. “O Messi é muito calmo, muito relaxado, muito normal. É muito simples, deixa-te jogar. Foi assim que aconteceu comigo e que vai acontecer com o Antoine [Griezmann] também. Passo a passo, acabas por começar a falar com ele. Dá-se muito bem com o Luis [Suárez] mas também é aberto com os outros, fala sobre muitas coisas e não só sobre futebol”, explicou Lenglet, central do Barcelona e da seleção francesa.
“Não é simples integrarmo-nos num clube como o Barcelona. Alguns jogadores estão lá há muito tempo e têm uma história juntos. É preciso aprender, é preciso tempo”, acrescentou o jogador. Entre as palavras tempo e adaptação, todos garantem que o momento de Griezmann em Barcelona vai chegar. Resta saber quanto tempo vai o Barcelona esperar pelo momento de Griezmann.