Nestes dias em que vemos Inglaterra pelo canudo do Brexit comemoram-se os 60 anos do lançamento de um dos símbolos maiores da sua identidade, do seu espírito criativo, irreverente, iconoclasta: o Mini. Carro excêntrico que seria guiado pelas estradas da swinging London, ao som dos Beatles, dos Rolling Stones, que batizou a saia mais pequena do mundo (Mini saia) e protagonizou  a transformação de um país e de uma capital, Londres, na meca da moda e do design. A cidade que passou a preencher os nossos devaneios de liberdade, rebeldia e, sobretudo, estilo.; tudo o que queríamos ter estava algures entre a Kings Cross e a Carnaby street, a começar pelo estranho carro que parecia de brincar, mas era afinal o toque da alvorada da vanguarda londrina.

Desenhado por um engenheiro de origem turca, Alec Issigonis, para a British Motor Corporation (BMC) o Mini, recebeu os cognomes de Morris e Austin  e foi recebido na Inglaterra ao serviço de sua majestade com frieza e alguma indiferença. Eram os anos do reinado de James Bond e dos seus carros agressivos, com linhas duras e cheios de truques tecnologicamente sofisticados e o Mini, que mais parecia uma caixa em cima de quatro rodas, não combinava com a imagem que a velha Inglaterra tinha de si mesma. Era o verdadeiro maverick, um dissidente, assumidamente individualista e libertário e com ele nascia, em 1959, o espírito londrino que durante toda a década seguinte haveria de comandar o mundo.

Como colocar cinco adultos, uma criança, dois cães e muita bagagem num Mini, anúncio publicitário de1959

A ousadia do seu design, que permitia que 80% do seu interior fosse ocupado por passageiros, o seu preço e consumo de gasolina reduzido provocaram uma verdadeira revolução na vida da classe média britânica, à semelhança do que já tinha acontecido com o Ford no EUA, o Citröen em França ou o Volkswagen na Alemanha. Antes de ser adotado pelo espírito da Swinging London, pelas celebridades e pela própria família Real o Mini era o verdadeiro carro do povo “made in Britain” (a partir dos anos 70, passou a ser produzido também em Portugal, nas fábricas de Setúbal). Foi considerado o carro mais influente do século XX, venceu rallys, teve uma versão desenhada por David Bowie e claro, deu nome a outro objeto profundamente influente do século XX, a minissaia Com ela o automóvel aproximava-se, simbolicamente, da nova liberdade sexual feminina que tomaria conta do mundo na década de 60. Por isso, todas as atrizes, modelos e it girls da época, de Jane Birkin, a Twiggy, de Marianne Faithfull a Brigitte Bardot tiveram o seu próprio Mini.

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O cinema não deixou de perceber a expressividade deste automóvel e fê-lo co-protagonista de filmes como The Italian Job, com Michael Caine, A Shot in the Dark  com Peter Sellers, A Cœur Joie, com Bardot ou o cultuado Blow Up de Antonioni. Na TV a sua carreira não foi menos fulgurante com The Bionic Woman nos anos 60 ou mais tarde com Mr.Been ou Little Britain.

O Mini original de 1959 e a sua versão lançada já este ano para a comemoração dos 60 anos

Durante mais de quatro décadas teve múltiplas versões, desde o Cooper, à carrinha de caixa aberta, ao descapotável,  carrinha de viagem, ao jipe além das versões personalizadas por artistas como Bowie ou designers de moda Mary Quant e Paul Smith. Foi o carro dos Beatles, dos Beach Boys, de Spencer Davis, Mick Jagger, Eric Clapton.

Apesar da sua história se cruzar mais com a modernidade do que com as tradições, a família Real acabou por se render também ao pequeno carro, muito por influência do marido da princesa Margaret, irmã da rainha Isabel II, Lord Snowdon.  Também ele cultivando algumas aspirações a artista como fotógrafo, designer, terá sido o primeiro membro da realeza a comprar um Mini. Em 1965 fotografa a princesa Margaret e o seu filho David numa excursão a Londres ao volante de um Mini. Mas, logo em 1960, terá  levado a rainha Elizabeth a fazer um passeio de Mini pelos jardins de Windsor, conduzida pelo próprio Alec Issigonis que, anos mais tarde, haveria de receber das mãos dela o título de Cavaleiro.

Em 2000 a marca é vendida à BMW e o Mini tornou-se um carro de luxo mais destinado a artistas milionários como Madonna do que aos working class heros do mundo. O velho maverick aburguesou-se mas não perdeu o estilo e continua a ser um carro de sonho de qualquer aspirante a artista apesar de, as suas novas versões, se distanciarem cada vez mais do icónico modelo, um puro sangue inglês. Os velhos Mini  recuperados tornaram-se valiosos e os seus proprietários e amantes juntam-se em clubes onde podem e gozar as suas afinidades eletivas. Para comemorar estes gloriosos 60 anos a BMW lançou o MINI 60 Years Edition e depois o MINI 60 Years Lifestyle Collection.  Reunimos um conjunto de imagens icónicas deste carro-estrela ao longo das suas seis décadas de vida, numa fotogaleria nostálgica.