O prolongamento da concessão do terminal de contentores da Bobadela, em Loures, está a ser criticada por entidades locais, que consideram que a decisão compromete a requalificação desta zona, que vai acolher as Jornadas Mundiais da Juventude.

As críticas têm surgido por parte da concelhia da CDU de Loures e da Associação de Defesa do Ambiente de Loures (ADAL), que defendem “há vários anos” a deslocalização do terminal de contentores.

Essa “esperança” renasceu quando a zona onde está integrado o complexo Ferroviário da Bobadela, designada por “Parque Tejo”, foi escolhida para acolher em 2022 as Jornadas Mundiais da Juventude, o maior evento católico do mundo.

No entanto, em março deste ano, a IP lançou um concurso público para a concessão deste espaço, tendo sido este mês adjudicada à empresa MSC Entroncamento, por um período de cinco anos.

“Isto é um absoluto contrassenso face às tentativas de reabilitação daquela zona. Além disso, é uma negação daquilo que é a vontade e o anseio dos moradores da Bobadela”, afirmou à agência Lusa Rui Pinheiro, da ADAL.

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Para o ambientalista, havia uma “perspetiva positiva” de que com este evento seria possível “expulsar os contentores e revitalizar a zona ribeirinha”, que agora é posta em causa com a decisão da IP.

“Creio que não existe uma obrigação legal, até porque estão a ser desenhadas alternativas”, sublinhou Rui Pinheiro, referindo-se à possibilidade de deslocalização dos contentores para a plataforma logística da Castanheira do Ribatejo, no concelho de Vila Franca de Xira.

No mesmo sentido, a CDU de Loures, que já apresentou na Assembleia Municipal uma moção a favor da retirada dos contentores, aprovada por unanimidade, considera que a decisão de concessão “deve ser revertida pelo Governo”.

“Durante décadas, a frente ribeirinha do Tejo em Loures sofreu um processo de degradação. Esta decisão é contrária à defesa da qualidade de vida das populações de Loures e um entrave à reconversão ambiental e urbanística da frente ribeirinha do Tejo”, referem os comunistas, em comunicado.

No entanto, numa resposta escrita enviada à Lusa, fonte oficial da IP ressalva que o Complexo Ferroviário da Bobadela “tem uma importante relevância estratégica para a economia do país” e que, nesse sentido, a interrupção da sua atividade seria prejudicial.

“Atenta a importância do Complexo da Bobadela, considera-se que a interrupção da sua atividade, mesmo que temporária, prejudicaria severamente o transporte ferroviário de mercadorias, contrariando tudo o que tem vindo continuadamente a ser defendido pela União Europeia e pelo Governo para este setor”, sublinha a IP.

Relativamente à requalificação do espaço para acolher as Jornadas Mundiais da Juventude, a IP ressalva que ainda é desconhecida a “concreta localização” do evento, “bem como os terrenos previstos para a sua implementação”, considerando, por isso, que não existe “qualquer impedimento motivado pela atividade do Complexo Ferroviário da Bobadela”.

“Caso não se verifique este entendimento será necessário avaliar previamente todos os impactos e consequências, também financeiras, para a economia nacional, de uma eventual interrupção temporária da atividade neste Complexo, o que certamente seria feito, de forma concertada, por todas as entidades envolvidas na procura das melhores soluções”, conclui a IP.