O setor imobiliário diz que o novo aeroporto do Montijo tem despertado o interesse de investidores no concelho, no distrito de Setúbal, mas explicam que o aumento de preços na habitação se deve sobretudo à proximidade com Lisboa.

“Nota-se que há investidores à procura de lotes de terreno ou casas para recuperar, fazer apartamentos e colocar à venda. Acho que estão a apostar no Montijo porque vem o aeroporto”, referiu à Lusa a gerente da Paula Imobiliário, que tem duas lojas no concelho.

Na visão de Paula Gonçalves, que trabalha no setor há mais de 20 anos, a explicação para este aumento da procura é a possibilidade de construção do novo aeroporto na Base Aérea N.º 6, entre o Montijo e Alcochete, até porque “grande parte” dos investidores não são da região e alguns são estrangeiros. Também Nuno Brioso, da imobiliária Side4You, confirmou que “se tem assistido a uma maior procura de investimentos em armazéns, logística e terrenos para urbanizar”, numa perspetiva de que “venha o aeroporto para depois ganharem mais-valias”.

O preço das casas no Montijo e Alcochete subiu mais de 30% nos últimos dois anos, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), divulgados em janeiro, no entanto, os agentes imobiliários discordam de que o novo aeroporto já tenha alguma influência no custo das habitações. “Quando vem uma lufada de notícias sobre o aeroporto, realmente notamos que há uma maior procura por parte das pessoas, mas não considero que seja só o aeroporto. Atendendo aos preços que são praticados em Lisboa, as pessoas não conseguem chegar a esses valores e acabam por escolher a nossa cidade, porque fica perto e os preços são mais baratos”, explicou Paula Gonçalves.

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A mesma opinião tem Nuno Brioso, que admitiu um “ligeiro aumento da procura a nível de pessoas para habitação” quando são divulgadas notícias, mas frisou que a principal causa para a subida de preços é a proximidade com a capital do país. “Os habitantes de Lisboa estavam habituados a comprar casa a 300 ou 400 mil euros, mas agora custam entre 600 e 700 mil euros e muitos deles já não conseguem, por isso têm de vir para a periferia”, indicou.

Segundo as imobiliárias, no Montijo, a renda de um apartamento com três quartos custa, em média, 750 euros por mês, enquanto a compra já ronda os 250 mil a 280 mil euros. No concelho vizinho de Alcochete, também se tem verificado um aumento da procura e, de acordo com Nuno Brioso, os preços são até “um bocadinho mais caros”. “Alcochete tem menos imóveis, é mais pequeno e é um bocadinho mais caro. É uma vila mais pitoresca, tem aquele centro de vila piscatória e acaba por dar um encanto físico diferente do Montijo, que é muito maior. Alcochete está a tornar-se numa Cascais da Margem Sul”, mencionou.

Neste sentido, o agente imobiliário admitiu que os preços da habitação nos dois concelhos podem “subir ainda mais”, caso o novo aeroporto se concretize na localização anunciada. “O “boom” do aeroporto na procura, a vir, é realmente quando as coisas estiverem 100% definidas, com as obras já começadas, porque enquanto não acontecer não sei se vem para cá”, apontou. Ainda assim, Nuno Brioso mostrou-se positivo quanto aos benefícios que a infraestrutura trará à Margem Sul, como “mais emprego, logística e hotelaria”.

Em 8 de janeiro, a ANA – Aeroportos de Portugal e o Estado assinaram o acordo para a expansão da capacidade aeroportuária de Lisboa, com um investimento de 1,15 mil milhões de euros até 2028 para aumentar o atual aeroporto de Lisboa (Aeroporto Humberto Delgado) e transformar a base aérea do Montijo num novo aeroporto.

Já no passado dia 30 de outubro, a Agência Portuguesa do Ambiente emitiu a proposta de Declaração de Impacte Ambiental relativa ao aeroporto do Montijo e respetivas acessibilidades, tendo a decisão sido “favorável condicionada”, que viabiliza o projeto.