A presidente da Câmara dos Representantes e líder da maioria democrata na câmara, Nancy Pelosi, declarou esta quinta-feira que considera já haver provas suficientes para afirmar que o Presidente deve ser destituído do cargo (alvo de impeachment). Contudo, ainda não foi tomada nenhuma decisão final de quando avançar para essa acusação formal, já que as audições a testemunhas ainda decorrem.
“As provas são claras”, afirmou Pelosi em conferência de imprensa, citada pela agência Reuters. “O Presidente usou o seu cargo para fins pessoais e minou a segurança nacional, mas ainda não foi tomada nenhuma decisão final sobre o impeachment, já que os democratas da Câmara continuam a sua investigação.”
Ele violou o juramento que fez quando chegou ao cargo”, acrescentou a democrata aos jornalistas, referindo-se ao Presidente.
Em causa está a investigação aberta pelo Comité de Informação da Câmara, de maioria democrata, para concluir se há bases para uma destituição de Donald Trump. Os democratas têm suspeitas de que o Presidente terá exigido ao Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que abrisse investigações judiciais a uma empresa onde trabalhava o filho do seu adversário Joe Biden (a Burisma) e a suspeitas de ligações de ucranianos à campanha de Hillary Clinton em 2016. Em troca, Trump disponibilizaria ajuda militar e financeira ao país — que, no entanto, já tinha sido previamente aprovada pelo Congresso.
Esta quinta-feira foi ouvida no Comité de Informação a ex-conselheira de Segurança Nacional Fiona Hill, especialista sobre a Rússia. Hill aproveitou o seu testemunho para criticar o Partido Republicano, que acusou de estar a propagar uma “narrativa de ficção” sobre uma possível interferência de ucranianos nas eleições presidenciais de 2016 nos EUA. “Recuso-me a ser parte de uma tentativa de legitimação de uma narrativa alternativa que diz que o governo ucraniano é um adversário dos EUA e que a Ucrânia — em vez da Rússia — nos atacou em 2016”, declarou a ex-conselheira.
Impeachment de Trump. “Seguimos as ordens do Presidente”, diz embaixador na UE
Em causa está uma das teses defendidas pelos congressistas republicanos de que Donald Trump poderia estar a pedir a Zelensky investigações legítimas, razão pela qual consideram não haver nenhum quid pro quo. Na quarta-feira, o republicano Devin Nunes disse mesmo que “eles estavam a tentar apanhar o Presidente”, razão pela qual era legítimo duvidar dos ucranianos. Hill classificou esses argumentos de “ficções” e disse que são prejudiciais, “mesmo que sejam utilizados por razões simplesmente de política interna”.
Fiona Hill aponta na direção do antigo conselheiro de segurança John Bolton
O testemunho de Fiona Hill destacou-se ainda pelas referências ao seu antigo superior direto, o conselheiro de segurança John Bolton, que entretanto saiu da Casa Branca. Segundo Hill, Bolton — que recusou para já testemunhar — desconfiaria de algumas das ações levadas a cabo por pessoas dentro da Casa Branca no que diz respeito aos ucranianos. Como exemplo aponta uma reunião com o embaixador na UE Gordon Sondland, que sugeriu uma reunião para que determinadas investigações avançassem e que Bolton terá “ficado tenso” e dado o encontro por encerrado.
Referiu ainda ter recebido instruções diretas do chefe para que não entrasse no “negócio da droga” que dizia estar a ser levado a cabo por Sondland e Mick Mulvaney (chefe de gabinete interino do Presidente), não dando mais pormenores. Para além disso, reiterou que Bolton afirmou em tempos que o advogado pessoal do Presidente, Rudy Giuliani, tinha “uma granada de mão que iria rebentar com tudo”. Giuliani fez contactos em nome de Trump junto de representantes ucranianos para promover essas investigações.
A audição de Hill é a última audição marcada neste processo pelos democratas até agora, mas não é certo se será a última. A dirigente dos democratas na Câmara, Nancy Pelosi, referiu que o processo “ainda não acabou”. “Nunca se sabe quando é que o testemunho de uma pessoa pode levar à necessidade de ouvir o testemunho de outrém”, afirmou.