Milhares de pessoas foram esta quinta-feira, dia 21, dispersadas violentamente durante uma manifestação pacífica na capital da Bolívia, com bombas de gás lacrimogéneo lançadas por polícia e exército.
Os manifestantes, indígenas e apoiantes de Evo Morales, vinham em marcha desde El Alto, a cidade a 11 km de La Paz onde dois dias antes pelo menos oito pessoas tinham morrido, baleadas com armas de fogo, e outras 30 tinham ficado feridas, na sequência da intervenção do exército e da polícia para por cobro ao bloqueio que impedia a passagem de camiões-cisterna carregados de combustível para a capital.
Os manifestantes, que agitavam bandeiras “wiphala”, o padrão indígena colorido que o então presidente Evo Morales quis elevar a bandeira nacional e que hoje é símbolo da divisão do país, transportavam consigo cinco caixões, com os corpos de cinco das oito vítimas mortais de El Alto. Mas nem isso fez com que a resposta das forças de segurança afetas à auto-proclamada presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, fosse menos violenta.
Só quando os manifestantes, aos gritos de “Justiça! Justiça!”, se aproximaram das imediações do Parlamento, onde estava em debate a marcação de novas eleições, é que a polícia e o exército investiram contra a manifestação-funeral.
Recorde-se que Evo Morales, no poder na Bolívia desde 2006, foi acusado em outubro de fraude eleitoral, depois de a transmissão em direto dos resultados das presidenciais de 20 de outubro ter sido bruscamente interrompida, numa altura em que tudo indicava uma segunda volta entre ele e Carlos Mesa, para só ser retomada um dia mais tarde — com a notícia da sua vitória, à justa, afinal logo na primeira volta.
Footage of Bolivian security forces attacking a funeral procession in La Paz.
Tens of thousands of people, including children and elderly people, marched to honour those who were massacred for protesting the military coup regime, but they were met with heavy repression. pic.twitter.com/k824ik5aB4
— redfish (@redfishstream) November 21, 2019
Sem o apoio da polícia e do exército, o então presidente, de origem indígena, não teve outra opção senão resignar ao cargo, seguindo para o exílio no México, de onde tem gritado acusações de golpe de Estado contra a oposição e o exército.
A senadora Áñez, uma advogada de 52 anos que,como presidente interina do país, deveria estabelecer um governo de transição e marcar novas eleições, está a causar polémica por estar a preparar um decreto que isentará de qualquer responsabilidade penal polícias e militares que atuem “em legítima defesa”. “É uma alteração legal que na prática dará às forças da ordem ‘licença para matar’ em situações de confrontos com manifestantes”, traduz o jornal El Español.