Cada hora que passa, cada história que chega. Algumas negativas e até estranhas, como o roubo de mais de 100 equipamentos de comunicação que estavam no Estádio Monumental de Lima entre rádios portáteis, cabos, baterias ou carregadores. Outras inusitadas mas que mostram bem o clima de euforia que se vive entre os adeptos do Flamengo, como aqueles que conseguiram ocupar uns prédios perto do local de treinos (vedado) e fizeram chegar a Jorge Jesus camisolas e chapéus para autógrafos através de… uma corda – e o técnico não passou ao lado, dizendo que “a galera está a aumentar” antes de perguntar pelo “pão de queijo” de Minas Gerais.

A festa à chegada, os muitos cânticos e o pão de queijo. Como Jesus se tornou Deus para os adeptos do Flamengo

A final da Taça dos Libertadores joga-se já este sábado e, na véspera, foi altura das habituais conferências de imprensa de antevisão, com o River Plate a ser primeiro e o técnico Marcelo Gallardo a não ter problemas em anunciar a equipa inicial que entrará em campo, com Armani; Montiel, Martínez Quarta, Pinola, Casco; Nacho Fernández, Enzo Pérez, Palacios, De la Cruz; Borré e Suárez. Seguiu-se o Flamengo e com Jorge Jesus a dar logo a tática ainda antes do arranque. “Como é que é isto, perguntas para quem? Não, primeiro é para ele, depois é para eu”, atirou. Assim foi. E com uma surpresa: também o português deu o onze para amanhã.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Ainda ontem a minha equipa técnica estava a falar sobre isso comigo… Quando decidi treinar o Flamengo, num almoço, eu disse para prepararem as malas porque íamos para o Brasil e íamos à final da Libertadores. Conseguimos isso, chegamos com confiança, frente a um rival muito forte, com experiência mas sabemos do nosso valor e acreditamos no que podemos fazer”, começou por dizer na sala de conferências do Monumental de Lima, numa conversa que fechou a garantir que “não existe um jogador lesionado”.

O crescimento da água para um Barca Velha, a equipa vertical e o estilo de ‘xingar’ a ganhar: o fenómeno Jesus, aos olhos dos brasileiros

“O que estou a sentir? A responsabilidade e o prestígio que tem uma Taça dos Libertadores, um pouco semelhante ao que nós na Europa definimos como a Champions. Dei uns passos à frente, aqui cheguei à final mas na Champions só fiquei perto. Quando saí do Ninho senti que era um sonho. A nossa forma de trabalhar tem a parte do prazer e da paixão e não da responsabilidade porque as equipas assim ficam atrofiadas. O que nos move é a nossa segurança e confiança para o jogo”, referiu, prosseguindo: “São os dois troféus máximos de clubes, qualquer treinador e jogador que tenha essa possibilidade quer. O meu sonho era esse: a Libertadores e ganhar o Campeonato, que nunca pus à frente. É um orgulho ter jogadores e um staff que me permitiu chegar a este momento. Claro que penso ainda ter possibilidade de estar nas duas mais importantes, na Libertadores e na Champions”.

“Há muitos aspetos no jogo ofensivo em que as duas equipas são parecidas, em muitos momentos, na parte defensiva são opostos, completamente opostos”, respondeu sobre as parecenças entre as duas equipas, antes de falar do técnico argentino e do que é mais relevante numa final. “O Gallardo está na terceira final e sabe perfeitamente que não é numa final que um treinador vai deixar de ser como equipa e como ideia. Penso da mesma maneira. Se não acontecer nada, a equipa que vamos lançar é a mesma equipa que tem vindo a jogar: do Diego Alves ao Arrascaeta, passando por Rafinha, Rodrigo Caio, Pablo Marí, Filipe Luís, Arão, Gerson, Everton Ribeiro, Gabigol e Bruno Henrique. Fator técnico ou psicológico? A componente emocional está em todos os jogos, muito mais nas grandes decisões. Mais decisões, mais ansiedade… Mas a emoção é a experiência do conhecimento de uma carreira mas também se trabalha, também se treina. À frente da emoção temos outras particularidades, é o prazer de jogar bem, de jogar à Flamengo”.

Em termos individuais, Jesus falou também (bem) do peruano André Carrillo, antigo jogador do Sporting e do Benfica que levou para o Al Hilal “e foi considerado o melhor na Arábia Saudita”, e do cartão vermelho visto por Gabigol no último jogo com o Grémio (“Todos os jogadores vão crescendo, faz parte de um processo de crescimento técnico, tático e emocional que é necessário”, salientou), antes de se revelar surpreendido com o que encontrou no Flamengo pela análise ao capitão, Everton Ribeiro. “Tem sido uma surpresa muita grande, o compromisso de todo o plantel no interesse do Flamengo, pondo à frente problemas físicos e particulares. O Everton andou sempre com uma dorzinha mas temos feito uma partilha por causa da lesão que ainda tem mas está melhor. Isso mostrou bem o caráter como capitão, o dar o exemplo. A imagem do capitão é a melhor imagem da equipa”, frisou.

A certa altura, e sobre uma pergunta por ter nomeado Flamengo, Boca Juniors, Real Madrid e Barcelona como os maiores clubes do mundo, Jorge Jesus explicou que essa frase foi dita quando chegou ao Rio de Janeiro ainda longe de imaginar que iria defrontar o River Plate na final da Taça dos Libertadores (descartando assim qualquer tipo de provocação ao adversário) e reforçou o que tinha referido: “Quando falei nisso, tem um contexto. O Flamengo é o maior clube do mundo. não é desportivamente porque esses são os que ganham títulos, esse é o Real Madrid. Em termos de torcedores, é o maior clube do mundo e digo o mesmo”.