A Associação dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) do Brasil anunciou esta sexta-feira que irá processar o ministro da Educação, Abraham Weintraub, por este ter afirmado que universidades produzem e “cultivam extensivamente” drogas nas suas instalações.

As declarações de Abraham Weintraub foram feitas ao portal de notícias Jornal da Cidade, na quinta-feira, tendo o ministro criticado mais uma vez as universidades públicas brasileiras.

“Foi criada uma falácia de que as universidades federais precisam de autonomia. Justo. Autonomia de pesquisa, autonomia de ensino. Só que essa autonomia acabou transfigurando-se em soberania. Então, o que temos? Plantações de canábis, mas não são apenas três pés de droga. Têm plantações extensivas de canábis em algumas universidades”, afirmou o ministro.

O governante acrescentou que encontrou “coisas piores”.

“(..) Uma faculdade de química não era um centro de doutrinação. Agora, desenvolvem laboratórios de droga sintética, de metanfetaminas, porque a polícia não pode entrar lá, nos campus universitários”, afirmou o ministro da Educação, pasta que tem a tutela do ensino superior federal.

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Perante as declarações de Weintraub, a ANDIFES refere, num comunicado difundido no seu site, a frequência com que o ministro lança ataques a instituições de ensino superior federais, adiantando que irá “tomar as providências jurídicas cabíveis”.

“Abraham Weintraub parece nutrir ódio pelas universidades federais brasileiras. Afinal, as instituições das quais deveria cuidar (…) são, a todo o momento, objeto dos ataques da sua retórica agressiva. Recentemente, o ministro ultrapassou todas as fronteiras que devem limitar, sobretudo, os atos de um gestor público do alto escalão da República”, sublinha a associação.

“Ultrapassando todos os limites, afirma que algumas universidades federais têm ‘plantações extensivas de canábis’, com o uso até de instrumentos tecnológicos para o seu cultivo, além de afirmar que ‘laboratórios de química’ das universidades se transformaram em centrais de fabricação de drogas sintéticas, como metanfetaminas”, afirma a ANDIFES em comunicado.

Face às declarações que considera “desconcertantes”, a Associação dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior indica que “está a tomar as providências jurídicas cabíveis para apurar o eventual cometimento de crime de responsabilidade, improbidade, difamação ou prevaricação”.

Em julho, em declarações à agência Lusa, o presidente da ANDIFES, Rui Vicente Oppermann, declarou que os ataques à educação pública no Brasil se devem, entre outras, a questões ideológicas.

“Este ataque à educação superior pública do Brasil tem várias motivações: a ideológica, no falso pressuposto que no Brasil as universidades são recintos de comunistas, anarquistas, drogados, uma balbúrdia, termo usado pelo ministro da Educação”, disse Oppermann, apontando também o dedo “à priorização do ensino superior privado de natureza mercantil”.

Em abril último, no mês em que assumiu a pasta da Educação após a demissão do anterior ministro Ricardo Vélez Rodríguez, Abraham Weintraub afirmou que iria cortar recursos das universidades federais que não apresentassem um “desempenho académico esperado” e que promovessem “balbúrdia” no seu recinto.

“Universidades que, em vez de procurar melhorar o desempenho académico, estiverem a fazer balbúrdia, terão verbas reduzidas. (…) A lição de casa precisa de estar feita, com publicações científicas, avaliações em dia, estar bem no ranking”, disse o ministro à imprensa local, sem explicar, no entanto, a que ranking se referia.