Depois de uma saída para a pausa internacional com a moral e a confiança nos píncaros, graças à vitória convincente perante o rival Manchester City que garantiu uma vantagem de nove pontos na liderança da Premier League, o Liverpool regressava este sábado ao Campeonato com uma visita ao Crystal Palace. Os compromissos das seleções acabaram por trazer, ainda que com algumas ressalvas, boas notícias à equipa de Jürgen Klopp, que entra nesta altura num ciclo intenso de jogos até ao final do ano civil.

Desde logo, o facto de Virgil Van Dijk, o crucial central holandês, não ter estado com a seleção de Ronald Koeman por “motivos pessoais”: logo, não se desgastou na antecâmara de uma semana que tinha marcadas uma visita ao Crystal Palace, uma receção ao Nápoles e uma outra ao Brighton. Depois, as pequenas lesões de Robertson e Salah, que apesar de limitarem os dois jogadores também permitiram que ambos ficassem em Liverpool, longe das concentrações da Escócia e do Egito, a recuperar. E por fim, as grandes exibições de Oxlade-Chamberlain, Wijnaldum, Fabinho e Alexander-Arnold, ao serviço de Inglaterra, Holanda e Brasil, e coroadas com golos no caso dos dois primeiros.

Talvez por isso, e ainda face às limitações físicas de Salah, Oxlade-Chamberlain era este sábado titular perante o Crystal Palace, ao lado de Firmino e Mané, enquanto que o avançado egípcio começava no banco. Robertson recuperou e estava na esquerda da defesa e o Liverpool procurava conquistar mais três pontos e pressionar o Manchester City, que esta jornada recebe um Chelsea em crescendo de forma e a beneficiar dos motivados Tammy Abraham e Mason Mount, que também marcaram ao serviço da seleção inglesa.

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O Crystal Palace de Roy Hodgson, que está nesta altura na segunda metade da tabela mas que já obrigou Jürgen Klopp a duas derrotas desde que o alemão chegou a Inglaterra, entrou no jogo de forma descomplexada e à procura do melhor que poderia aparecer, sempre assente na velocidade de Zaha e Townsend nas alas, que vinham de fora para dentro para aparecer nas costas do mais adiantado Ayew. A equipa do sul de Londres ganhou confiança com o passar dos minutos, também face a uma certa apatia do Liverpool, e Ayew desperdiçou uma ocasião de golo flagrante ao passar do primeiro quarto de hora, quando estava sozinho na cara de Alisson (16′).

Salah falhou os compromissos da seleção egípcia e foi suplente contra o Crystal Palace

Até ao intervalo, o Liverpool não fez qualquer remate enquadrado com a baliza de Guaita e estava muitos níveis abaixo do habitual, sem conseguir transformar a posse de bola na zona do meio-campo em situações palpáveis de perigo. Oxlade-Chamberlain estava apagado, perdido entre os centrais e os laterais do Palace, e Wijnaldum não conseguia ter influência ofensiva e construtiva por estar demasiado ocupado com tarefas defensivas que Fabinho não conseguia cumprir sozinho. Roberto Firmino pouca ou nenhuma influência teve na partida e acabava por ser Mané, muito móvel entre a linha intermédia e a mais adiantada, a causar os escassos desequilíbrios que o Liverpool conseguia ter. Ainda assim, os reds poderiam mesmo ter ido para o balneário a perder, já que o central Tomkins marcou de cabeça depois de um canto mas o lance foi anulado pelo VAR por falta de Ayew sobre Lovren (42′).

Na segunda parte, já depois de Salah ter realizado exercícios de aquecimento no relvado durante todo o intervalo, como uma espécie de arma secreta prestes a sair da manga de Klopp, o Liverpool voltou mais intenso e mais entrosado — mais à Liverpool, por assim dizer — e poderia ter marcado logo ao terceiro minuto. Mané recebeu uma assistência de Henderson e rematou ao lado na cara de Guaita, naquela que foi até então a melhor oportunidade da equipa em todo o jogo (48′). O senegalês, porém, falha uma mas não falha duas seguidas: no minuto seguinte, Robertson cruzou a partir da esquerda, Chamberlain falhou a receção e bola sobrou para Mané, que rematou para colocar o campeão europeu em vantagem (49′).

O golo sofrido motivou uma reação do Crystal Palace, que poderia ter chegado ao empate através de uma oportunidade de Townsend e outra de Zaha, e Jürgen Klopp respondeu com a entrada de Origi para o lugar de um apagado Chamberlain, com o objetivo claro de alcançar o segundo golo e conseguir gerir a vantagem até ao final. O encontro acabou por partir por volta da hora de jogo, altura em que o Liverpool assumiu sem grandes pudores o recuar do bloco e passou a atuar mais à procura de resguardar a vitória do que de engordar a vantagem. Roy Hodgson fez all in com as entradas de Benteke e Schlupp, para tentar restaurar o ímpeto ofensivo da primeira parte que se tornou menos esclarecido na segunda, e a equipa londrina soube mesmo arranjar maneira de empatar, com um remate rasteiro de Zaha depois de um lance de insistência (82′).

O Crystal Palace estava finalmente a recolher os frutos da inglória grande primeira parte que completou mas não conseguiu segurar com mãos de ferro o empate e o ponto, permitindo o golo da vitória por intermédio de Roberto Firmino, na sequência de um lance muito confuso depois de um canto (85′). Klopp, que já tinha trocado Henderson por James Milner, tirou o avançado brasileiro para lançar o central Joe Gomez e colocou oficialmente as trancas na porta — beneficiando ainda de um enorme desperdício de Zaha já no período de descontos que recolocaria alguma justiça no jogo, já que o Palace fez o suficiente para poder sair desta jornada sem uma derrota.

O Liverpool venceu, ainda quem em óbvios serviços mínimos e sem o fulgor ofensivo que derrotou o Manchester City há duas semanas, e pressiona agora a equipa de Guardiola. Pelo meio, garantiu mais uma semana na liderança da Premier League. E Mané, que desde o início da temporada assumiu um papel de destaque em relação aos colegas Salah e Firmino, voltou a ser crucial para Jürgen Klopp e um dos poucos elementos — sempre a par de Van Dijk — que esteve acima da média contra o Crystal Palace. Na seleção do Senegal, o avançado fez capas de jornal por ter sido o único jogador a ajudar o roupeiro a carregar águas e fruta do autocarro para o hotel; em Inglaterra, o avançado leva o Liverpool às costas.