O jogo tinha terminado há poucos minutos e Neymar já estava a reagir nas redes sociais. Até aqui, tudo normal – e mais horas tivesse um dia, mais publicações o avançado se entretinha a fazer. O “anormal” foi mesmo o gesto do jogador do PSG, a imitar a imagem de marca de Gabriel Barbosa com os dois punhos para cima a mostrar o bíceps. Esta noite, ao contrário do que é normal, o número 9 mal teve tempo para festejar dessa forma os seus golos: no primeiro, que deu o empate aos 89′, foi engolido por todos os companheiros de equipa junto a uma bandeirola de canto quando fazia o gesto; no segundo, que deu a vitória aos 90+2′, tirou a camisola perante o delírio à solta de todos os brasileiros dentro e fora de campo. Mais do que nunca, Gabigol é uma alcunha que faz sentido.

Aos 23 anos, o jogador que decidiu a final da Taça dos Libertadores e demorou apenas três minutos a chegar a um pedestal entre os 40 milhões de adeptos do Flamengo que antes só Zico tinha ocupado (ou seja, nem Romário nem Ronaldinho por exemplo lá conseguiram chegar), teve a época que prometia desde miúdo, quando se estreou com apenas 16 anos pelo Santos depois de ter marcado mais de 600 golos na formação. Sim, é verdade que ganhou dois Campeonatos Paulistas. E sim, é verdade que foi campeão olímpico em 2016, no Rio de Janeiro. Mas também é verdade que as experiências europeias não correram da melhor forma, quer no Inter, quer no Benfica. Agora, o avançado ganhou um estatuto individual que o maior título coletivo do Mengão veio eternizar.

O jogador era descrito como o dianteiro com “a inteligência de Ganso, a habilidade de Neymar e a velocidade de Lucas” (dito por Wagner Ribeiro, o empresário de Neymar). No futsal ou no futebol, era visto como o último artista saído da Vila, como Neymar. “Gosto de mostrar o meu estilo em campo. Fazer chapéus, ‘cavadinhas’, sempre tranquilo e alegre, e vou para cima dos adversários sem medo. Gosto de entrar em campo e jogar à bola. Fora de campo, divirto-me sempre e saio com os meus amigos; em campo a coisa é séria mas não perco a alegria de criança. Sei da responsabilidade que tenho e é importante às vezes ficar mais calado, mais concentrado. A cobrança veio cedo mas é por conseguir jogar bem à bola e ajudar a minha equipa”, disse nessa altura.

No ano passado, emprestado ao Santos, Gabriel Barbosa começou o caminho da redenção após as experiências europeias que lhe atrasaram a ascensão. Esta temporada, o avançado “explodiu” – sobretudo desde que Jorge Jesus, o treinador que o tinha tentado levar para o Sporting antes de ser ultrapassado na corrida pelo Benfica, assumiu o comando. Segredo? A nova forma de jogar do Flamengo, com a colocação de Bruno Henrique na frente e Everton Ribeiro e Arrascaeta (ou Vitinho ou Reinier) nas alas como falsos extremos a jogar muitas vezes por dentro. Em 28 jogos com o português, Gabigol só não marcou em oito e apontou 23 golos, alguns deles decisivos como nesta final da Taça dos Libertadores. Entre vários recordes, até os de Zico foram superados.

Se em campo os golos de Gabriel Barbosa se tornaram moda, fora dele o look de Gabriel Barbosa virou moda. Em todos os jogos do Flamengo havia pelo menos um sósia de cabelo descolorado e barba preta desenhada a régua e esquadro nas bancadas, além de dezenas de adeptos que levantavam cartazes com “Hoje tem gol do Gabigol” (os mesmos cartazes que o número 9 chegou a levantar em festejos no Maracanã). Até na vida privada o futebol marca de forma indireta o percurso do avançado dos rubro-negros, que voltou a namorar com a irmã de Neymar, Raffaela Santos, fazendo um dos casais mais badalados da vida social do Rio de Janeiro.

“Estou muito feliz. Hoje é um dia histórico. Quero agradecer muito a Deus, agradecer a toda a minha família, ao staff e à torcida do Flamengo por todo o apoio”, atirou nas primeiras palavras após a vitória frente ao River Plate o avançado que conseguiu o bis mais rápido da história das finais da Libertadores, que foi o melhor marcador da prova em 2019 e que conseguiu deixar marca em todas as fases da prova até ao encontro decisivo. Tornou-se um herói, como Neymar. “Sempre foi um dos meus ídolos, nunca escondi, também porque passámos pela mesma categoria de base, a do Santos. Admiro e respeito muito sua carreira. Espero vê-lo em breve no campo brilhando, sem lesões e com aquelas jogadas que os amantes do futebol gostam tanto”, referiu esta semana, esvaziando a polémica que se foi criando sobre o azedar da relação entre ambos. A festa de Neymar disse o resto…

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