A deputada brasileira Gleisi Hoffmann foi reeleita no domingo como presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) nos próximos quatro anos, tendo contado com o apoio do ex-chefe de Estado e fundador do partido, Lula da Silva.

A eleição de Gleisi Hoffmann deu-se no sétimo congresso do PT, que decorreu entre sexta-feira e domingo, na Casa de Portugal, em São Paulo.

O congresso do PT culminou após três dias de debates e reuniões internas com convidados de partidos de esquerda do Brasil e do exterior, incluindo o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), representado pelo o antigo primeiro-ministro espanhol José Luis Rodriguez Zapatero (2004-2011).

O encontro do PT foi encerrado com eleições internas para a liderança do partido, nas quais Gleisi Hoffmann obteve 558 votos (71,74%), graças ao apoio firme de Lula da Silva, que foi a figura central do congresso, depois de ter saído em liberdade no início do mês, após um ano e meio de prisão por acusações de corrupção.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Hoffmann derrotou a deputada Margarida Salomão, que conseguiu 131 votos (16,79%), e Valter Pomar, ex-secretário executivo do Foro de São Paulo, organização formada por partidos de esquerda do continente sul-americano, e que recebeu 91 votos (11,67%).

Ao contrário de Lula da Silva, que defende candidaturas próprias do PT para as eleições municipais do próximo ano, Gleisi Hoffmann admitiu a possibilidade de alianças com formações políticas aliadas, “onde tem parceiros que podem enfrentar o governo” do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.

A deputada Gleisi Hoffmann tornou-se em 2017, quando era senadora, a primeira mulher a presidir ao PT – partido que emergiu dos movimentos sindicais dos anos de 1980, durante a ditadura (1964-1985) -, e atualmente está a ser investigada, juntamente com o marido, o ex-ministro do Planeamento Paulo Bernardo, na operação Lava Jato.

No seu discurso, Hoffmann admitiu que o PT tem falhas de comunicação e que “a direita está na frente”.

“Precisamos de nos armar em redes sociais, organizá-las, reuni-las, potenciar os nossos canais”, disse a deputada, acrescentando que, apesar de um julgamento político de destituição de Jair Bolsonaro ser algo improvável, devido à falta de mobilização popular e no congresso, essa possibilidade não está descartada.

Para Hoffmann, “a possibilidade sempre existe” : “O Presidente comete uma série de impropriedades, a sua família está a ser investigada, então, existe possibilidade de se configurar um crime de responsabilidade, como diz a Constituição”.

Segundo a deputada, e a pensar já nas eleições presidenciais de 2022, “o povo quer Lula da Silva como Presidente da República novamente”, para fazer frente ao projeto neoliberal e “destrutivo” de Bolsonaro.

Numa entrevista publicada na semana passada pelo jornal britânico The Guardian, Lula declarou que o PT prepara-se para voltar ao poder.

No entanto, o antigo chefe de Estado evitou responder se concorrerá às presidenciais de 2022.

“Em 2022, terei 77 anos. A igreja católica, com 2.000 anos de experiência, aposenta os seus bispos aos 75 anos”, argumentou Lula da Silva, sem responder se voltará a tentar chegar à presidência.

Luiz Inácio Lula da Silva, que governou o Brasil entre 2003 e 2010, saiu da prisão no dia 08 deste mês, após uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que alterou a jurisprudência, e proibiu a prisão após condenação em segunda instância dos réus que recorrem para tribunais superiores, como era o caso do ex-líder sindical.

O histórico líder do PT foi preso após ter sido condenado em segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), num processo sobre a posse de um apartamento, que os procuradores alegam ter-lhe sido dado como suborno em troca de vantagens em contratos com a estatal petrolífera Petrobras pela construtora OAS.