No último verão, Real Madrid e Barcelona encerraram duas das respetivas novelas que se arrastavam há várias temporadas: os merengues acertaram a contratação de Hazard ao Chelsea, os catalães fecharam a ida de Griezmann do Atl. Madrid para Camp Nou. Por resolver ficou uma espécie de dossiê comum — o regresso de Neymar a Espanha –, que não caiu nem para um lado nem para outro. Assim sendo, e na ausência daquele que seria o eventual grande protagonista do início da temporada, Hazard e Griezmann voltaram a assumir os papéis de nomes maiores da janela de transferências de verão.

Em comum, além do valor milionário que moveram — o primeiro custou 100 milhões aos cofres merengues, o segundo obrigou os catalães a desembolsarem 120 –, Hazard e Griezmann têm o facto de estarem a ser duas contratações de quem se esperava muito e que estão a concretizar pouco. Se o belga leva um golo e quatro assistências em 12 jogos, entre liga espanhola e Liga dos Campeões, a verdade é que o francês leva quatro golos e as mesmas três assistências em 16 jogos nas duas competições. Ainda que nenhum dos dois seja um goleador nato e as estatísticas pouco ou nada indiquem sobre o rendimento de Hazard e Griezmann, os números são manifestamente baixos e curtos para aquilo que os adeptos, do Real Madrid e do Barcelona, esperavam de dois jogadores de classe mundial.

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Se no caso de Griezmann as fracas exibições têm sido frequentemente associadas ao facto de o jogador francês não estar a jogar na posição que lhe é mais favorável, no caso de Hazard as críticas têm sido feitas diretamente ao belga — ou à forma física do belga. Os aparentes quilos a mais que o médio não conseguiu esconder no início da temporada tornaram-se o bode expiatório de todos os adeptos (assim como da comunicação social) que não estão satisfeitos com tudo o que Hazard mostrou — ou não mostrou.

Ainda assim, o médio belga tem demonstrado uma subida de rendimento inegável que se prende também com um entendimento louvável com Benzema, que está num pico de forma assinalável. Mesmo que os golos continuem a escassear, Hazard é cada vez mais influente na equipa de Zidane e foi precisamente a meio deste escalar de uma montanha que surgiu logo no arranque da época que o jogador decidiu conceder uma entrevista ao LeParisien. Dias antes da receção ao PSG para a Liga dos Campeões, e depois da derrota por 3-0 em Paris na primeira jornada da fase de grupos, Hazard não escondeu que o objetivo é a “vingança”.

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“Perdemos lá, é tempo de vingança. Acima de tudo, queremos qualificar-nos o mais rápido possível, o que acontece que ganharmos ao PSG. Perder dói sempre, seja em Paris ou contra o Maiorca. Mas também não estamos a falar da final da Liga dos Campeões. Mas claro que aquela derrota te afeta o ego”, explicou Hazard, que também comentou o rumor de que o PSG o tentou contratar durante o verão — depois de já ter dito que, em cenário de regresso à liga francesa, só representaria o Lille, onde jogou de 2007 a 2012. “Nunca quis regressar a França. Não é que não goste do PSG, estamos a falar de um super clube e os adeptos estão entre os melhores do mundo, mas não se ajusta ao plano que estabeleci para a minha carreira”, atirou.

Sobre Mbappé, outros dos eternos prometidos do Real Madrid por quem Zidane garantiu esta segunda-feira estar “apaixonado”, Hazard defendeu que “em poucos anos será o melhor jogador do mundo” e não escondeu a vontade de partilhar o balneário com o francês no Real Madrid. “Tem um grande talento. Se continua assim, o Kylian [Mbappé] vai ser um dos melhores jogadores da história. Um jogador de futebol sonha sempre em jogar com os melhores e se amanhã puder ajudar a trazê-lo para o Real Madrid, vou tentar fazê-lo, ainda que não acredite que alguém me peça opinião”, explicou o capitão da seleção belga.

O jogador tem sido criticado pelo aparente excesso de peso

Hazard falou ainda sobre o excesso de peso, garantindo que as pessoas que o criticaram “tinham razão”. “Vinha de três semanas de férias em que relaxei. Faço-o sempre no verão. E também sabia que isso me ia trazer mais críticas no Real Madrid do que trazia no Chelsea”, disse o jogador, que garantiu ainda que não pensa no valor que o clube desembolsou para o contratar porque “o mercado está louco” e “um jogador nunca deveria custar 100 milhões”.

No tópico do vencedor da Bola de Ouro, e numa análise a uma shortlist onde ele próprio está incluído, Hazard garante que deveria ser “um jogador do Liverpool” a conquistar a distinção — e até elegeu um favorito. “Se o Sadio Mané tivesse vencido a Taça das Nações Africanas, não existiria qualquer debate”, atirou. Nascido na parte francesa da Bélgica, Eden Hazard é um dos elementos que esta temporada engrossou o caráter francófono do futebol do Real Madrid: com Benzema, Mendy, Areola e Varane, todos franceses, no plantel, Zidane conta ainda com os adjuntos David Bettonie e Hamidou Msidie e substituiu o preparador físico, que era o italiano Antonio Pintus, pelo compatriota Grégory Dupont, que até ao passado verão trabalhava com a seleção de Didier Deschamps. Acrescenta-se a esta lista o guarda-redes Courtois, também belga e também ele francófono. Num Real Madrid cada vez mais pintado de azul, vermelho e branco, como a bandeira francesa, a inclusão de Mbappé no plantel parece progressivamente mais adequada aos olhos dos responsáveis merengues.