A partilha do tempo continua desigual entre homens e mulheres, razão para a Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego lançar esta quarta-feira uma nova campanha para mostrar que a igualdade é fundamental no equilíbrio da sociedade.

A campanha arranca em anúncios espalhados pela internet e por alguns jornais, com o mote “Tempo para termos tempo” e pretende sensibilizar a sociedade para a necessidade da partilha entre homens e mulheres do tempo de trabalho pago e do tempo que é dedicado ao cuidado ou às tarefas domésticas.

Paula Jacob e Paulo Rufino são um casal que dão a cara, e o seu exemplo, por esta campanha, para mostrar como é possível uma divisão equilibrada de tarefas, mesmo quando ambos trabalham e existem três filhos, a mais nova com um mês.

Em declarações à Lusa, ambos explicaram que logo quando começaram a viver juntos optaram por fazer essa divisão de tarefas, em que naturalmente cada um ficou com o que mais gostava de fazer, e garantem que hoje em dia essa divisão não é penalizadora para nenhum dos lados.

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“Basta que haja organização”, defendeu Paulo, sustentando que se for feita uma planificação atempada, há tempo para tudo, inclusivamente um momento só para si. Contou que gosta de fazer exercício físico e de correr e que se antes acordava às 7h00, passou a acordar às 6h00 para conseguir ter esse bocadinho de tempo para si antes de levar os filhos à escola.

Entretanto, é Paula quem trata dos pequenos-almoços e de despachar as crianças, conseguindo também ter um bocadinho de tempo só para si quando o marido chega a casa do trabalho e nessa altura fica com a bebé e ela vai correr.

À Lusa, a presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE) apontou para a importância de homens e mulheres equilibrarem a sua vida profissional e pessoal, destacando que “efetivamente os usos que ambos dão aos tempos pago e não pago do trabalho é muito diversa”.

Habitualmente a mulher é tida por cuidadora, quase a cuidadora natural da família, das crianças, das pessoas com dificuldade, de ascendentes, enquanto o homem é mais visto como o provedor do sustento da família”, apontou Joana Gíria.

De acordo com a responsável, a realidade mostra que as “mulheres quase têm uma jornada dupla de trabalho”, o que se traduz numa “dupla penalização”, não só porque têm de trabalhar dentro e fora de casa, mas também pela falta de tempo que os homens acabam por ter para estar com a sua família.

A responsável lembrou um inquérito da CITE, de 2015, sobre o uso do tempo entre homens e mulheres, que mostrou as diferenças entre géneros, desde logo revelando que os homens, em média, faziam mais 27 minutos por dia de trabalho pago do que as mulheres, o que dava mais 2h15 por semana. Por outro lado, acontecia exatamente o oposto no trabalho não pago, onde as mulheres, em média, faziam mais 55 minutos por dia de tarefas de cuidado, equivalente a mais cinco horas por semana, e mais duas horas por dia de trabalho doméstico, o correspondente a mais 10 horas por semana em dias úteis.

Este paralelismo é importante para percebermos que 27 minutos por dia de trabalho pago de diferença entre mulheres e homens depois não é compensado com as tarefas de cuidado e com as tarefas domésticas em termos de partilha. E é isto que reflete esta dupla jornada de trabalho das mulheres”, explicou.

Joana Gíria alertou que este desequilíbrio na partilha dos tempos pode também ser fator de problemas entre o casal e chegar até a ser uma possível causa para a violência, apontando que “quando não há equilíbrio familiar e nos tempos de trabalho isso pode gerar conflito”.

“A igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho e fora dele é fundamental para o equilíbrio de toda a sociedade”, frisou, acrescentando que o objetivo da campanha é que a sociedade fique sensibilizada para o facto de que “a partilha do tempo de cuidado e de divisão de tarefas entre mulheres e homens é fundamental para o equilíbrio da vida familiar, pessoal e profissional”.