“Pequena região fértil graças à presença de água, num deserto; lugar agradável entre outros que o não são”. Foi com base no significado da palavra “oásis”, como ponto de encontro, que o Teatro do Frio teve o ponto de partida para uma criação coletiva que promoveu o diálogo de nove criadores nacionais, entre músicos, compositores, intérpretes e artistas visuais, são eles Catarina Lacerda, Emanuel Santos, João Abreu, Jorge Queijo, Maria Luís Vilas Boas, Maria Mónica, Rodrigo Malvar, Rosário Costa, Sara Neves.
O coletivo de pesquisa, criação e produção teatral, nascido em 2005, tem-se dedicado nos últimos anos à escrita cénica, “onde a relação com o corpo, a componente acústica e o poder da palavra” ganham protagonismo, explica em entrevista ao Observador Catarina Lacerda, diretora artística.
Convocando diferentes olhares e formas de comunicar sobre o momento contemporâneo, o processo criativo durou um ano, contou com várias residências artísticas – Circolando, CulturDança e o espaço Fauna/ Teatro da Didascália – e foi inspirado por autores como Zizek, Rob Riemen, Markus Miessen, Bruce Mau, alimentados pela prática de cada criador.
A velocidade dos nossos dias, a tecnologia massificada, a voz feminina na sociedade, o esvaziamento do vocabulário, as ruas tomadas por manifestações, os movimentos extremistas, a ocupação do espaço físico e virtual ou os conceitos de amigo, antes e depois do Facebook, e de democracia são algumas inquietações que o coletivo cruzou, num espetáculo que pretende repensar o espaço no mundo contemporâneo. “Poderão os espaços que nos são familiares ser mutáveis, ocupados de uma outra forma? Como nos organizar nessa interação?”
Através de música ao vivo, projeções de vídeo em diferentes dispositivos multimédia, desenhos de luz imersivos, dança e atores que interpelam o público, a companhia convida a uma reflexão sobre a relação com a atualidade, num circuito onde o espetador é ativo e não passivo. “O espetador é um corpo sensorial e será capaz de criar espaços mentais e olhares indivíduos nesta experiência física”, explica Catarina Lacerda
Nesta criação original, o coletivo sediado em Vila Nova de Gaia propõe uma ocupação diferente do Teatro Helena Sá e Costa, criando várias configurações onde o público será conduzido pelo elenco ao longo de todo o espetáculo.
“Desconstruindo a convenção de palco, a companhia redesenha-o em sete micro-espaços onde público terá de circular, pretendendo-se uma nova vivência, mental e física. Tal como os criadores, o espectador vê-se também fora do seu lugar de conforto: ora ocupa o palco, enquanto os intérpretes habitam a plateia, ora cruza espaços que normalmente lhe são vedados – da boca de cena aos corredores, da zona técnica ao backstage. Tal como no espaço público, a audiência é obrigada a reposicionar-se, adaptando e atualizando o olhar.”
“Oásis” estreia esta sexta-feira, pelas 21h e conta com reposições no sábado e domingo, com duas apresentações diárias, às 17h e às 21h. Para maiores de dezasseis anos, a bilheteira do espetáculo tem o valor de 7,50€.