O Landau do Regicídio, a viatura de passeio onde seguiam o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro D. Luís Filipe quando foram assassinados a 1 de fevereiro de 1908, regressou ao seu lugar na ala norte do primeiro piso do novo edifício do Museu Nacional dos Coches depois de uma temporada em Vila Viçosa e de uma intervenção de restauro realizada pela equipa do espaço museológico lisboeta.

O landau foi transferido para o Paço Ducal de Vila Viçosa em 2016, ao abrigo de um protocolo firmado entre a Fundação Casa de Bragança e a Direção-Geral do Património Cultural que prevê que a viatura circule alternadamente entre Vila Viçosa e Lisboa e que suscitou, na altura, um coro de críticas. O palácio tem o seu próprio Museu de Carruagens (instalado em quatro edifícios, no chamado “Terreiro da Ilha”), onde se encontram em exposição viaturas provenientes de vários museus portugueses, incluindo o dos Coches.

Este acordo, que previa uma permanência de um ano em cada um dos espaços, foi posteriormente alargado para um período de três. Em 2017, a diretora do Museu-Biblioteca da Fundação da Casa de Bragança disse à Rádio Campanário que a mudança se devia a questões de preservação. Maria de Jesus Monge explicou na altura que a Fundação e a Direção-Geral tinham chegado ao “entendimento” de que era melhor “não sujeitar a carruagem a demasiados transportes”.

O Laudau do Regicídio foi a primeira carruagem a ser transportada do antigo edifício do Museu Nacional dos Coches para o novo, em 2015 (HUGO AMARAL/OBSERVADOR)

Uma das críticas apontadas à deslocação do landau para Vila Viçosa prendia-se precisamente com a questão da sua preservação. Ouvido pela Renascença em 2016, José Folque Mendoça, vice-presidente da Associação Portuguesa de Atrelagem, considerou que o Paço Ducal não tinha as condições necessárias para receber o veículo do século XIX. “As condições que existem no novo Museu dos Coches foram criadas para proteger e dar longevidade não só às peças do século XVII e XVIII que lá estão, mas também às peças do século XIX que carecem de três vetores muito importantes — a temperatura, humidade e insetos xilófagos — e essas condições não são asseguradas nos espaços da Fundação Casa de Bragança”, declarou à rádio.

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Depois da temporada na antiga residência dos reis de Portugal, o landau “teve de ficar de quarentena”, recebendo um tratamento de desinfestação por inóxia e de conservação preventiva. O veículo, que chegou a Lisboa a 15 de julho deste ano, regressou à exposição permanente do Museu Nacional dos Coches no final de outubro, disse ao Observador a diretora do organismo, Silvana Bessone.

Construído em Portugal em finais do século XIX, para a família real portuguesa, o landau tem duas capotas rebatíeis, em couro preto, que se podem usar abertas ou fechadas, e o interior forrado a marroquim capitoné azul escuro. Nas portinholas, encontra-se gravado o monograma do rei D. Carlos, que foi assassinado, juntamente com o filho mais velho, o príncipe herdeiro D. Luís Filipe, no interior desta viatura a 1 de fevereiro de 1908, quando passava junto à esquina da Rua do Arsenal com o Terreiro do Paço. As marcas das balas disparadas contra a família real ainda são visíveis.

O primeiro coche já mora no novo Museu

O Landau do Regicídio, a última carruagem a entrar para a coleção dos Museu Nacional dos Coches, foi a primeira a ser levada para o novo edifício do outro lado da rua, em março de 2015, marcando o início de um processo delicado de transferência de 70 viaturas. O novo espaço foi inaugurado cerca de dois meses depois, em maio do mesmo ano.