Apesar de queixas alegando violação de privacidade, as autoridades australianas já colocaram ao seu serviço 10 câmaras para controlar condutores a velocidades de até 300 km/h e pretendem instalar, nos próximos três anos, mais 35 equipamentos destes no estado de Nova Gales do Sul, fazendo variar a sua localização e nunca alertando para a operação de controlo. A novidade é que esta tecnologia não se limita a controlar a velocidade, tal como fazem os “típicos” radares, pois trata-se da primeira solução a recorrer à inteligência artificial para detectar se quem vai ao volante… vai também ao telemóvel.

Em funcionamento desde o início do mês, estes poderosos instrumentos de detecção de prevaricadores na estrada combinam os mais recentes avanços tecnológicos. Entre outros componentes, conjugam a eficácia de raios infravermelhos com câmaras de alta definição e um software de inteligência artificial ao qual dificilmente escapará alguma coisa.

A solução foi criada pelo engenheiro Alexander Jannink, da Universidade de Melbourne, depois de este ter perdido um amigo ciclista, em 2013, na sequência de um acidente em que se suspeita que o condutor estaria a falar ao telemóvel. A “super” câmara e radar de Alexander tratam de fazer o registo fotográfico dos utilizadores da via, fotografando com elevadíssima resolução a parte da frente do veículo. Cabe depois à inteligência artificial determinar que infracção (ou infracções) está o condutor a cometer, pois a tecnologia também permite verificar o número de ocupantes no veículo, o uso do cinto de segurança e, claro, a velocidade.

Segundo as forças de segurança australianas, o sistema conta com um algoritmo capaz de “varrer” as imagens recolhidas em apenas uma hora, período findo o qual os agentes ficam na posse das imagens que fazem prova da infracção cometida. Neste caso, o objectivo é detectar apenas se o condutor, a quem a lei local permite que fale ao telemóvel, desde que o faça em modo mãos-livres, opta antes por manter uma delas no aparelho e, assim, infringir as regras. Nos primeiros três meses, a coima resume-se a uma carta de aviso, mas depois disso começam mesmo a ser aplicadas sanções. A multa pode chegar a 457 dólares australianos (283 euros) e à retirada de pontos na carta de condução.

Em três meses de teste, entre os 8,3 milhões de veículos capturados pela câmara, foram apanhados 100 mil condutores a usar o telemóvel enquanto conduziam, o que renderia 34 milhões de dólares em multas (21 milhões de euros).

Quanto às críticas de que esta solução pode constituir uma violação da privacidade, a posição oficial é que todas as imagens recolhidas que não sustentam qualquer acção contra o condutor são eliminadas de forma permanente do arquivo digital. O que significa que, de acordo com as autoridades australianas, mesmo que qualquer funcionário tivesse a veleidade de lhes dar um outro uso, tal seria impossível, pois esses registos são descartados, justamente para garantir o direito à privacidade.

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