Quem consegue bater os maiores e melhores fabricantes de automóveis do mundo na mobilidade eléctrica e, simultaneamente, se meter com os líderes da conquista espacial, tornando-se no mais barato e prolífico lançador de satélites e de visitas à estação orbital espacial, não está à espera de passar por um mau bocado pelo que escreveu num tweet. Mas foi exactamente isso o que aconteceu a Elon Musk, o CEO e o maior accionista da Tesla e da SpaceX, onde desempenha também a função de CTO.

Em Julho de 2018, num momento em que o mundo acompanhava colado aos ecrãs a libertação das 12 crianças e um adulto presos no interior de uma gruta na Tailândia, Musk colocou à disposição o potencial técnico das suas empresas para construir um mini-submarino que conseguisse retirar, uma a uma, as crianças da gruta alagada. O aparelho foi produzido e enviado para o local em tempo recorde, onde não foi considerado ideal para aquelas condições pelas autoridades tailandesas, embora estas tenham pedido para ficar com o mini-submarino para uma eventual próxima ocasião.

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Se as autoridades agradeceram a atenção de Musk, bem como a de outros indivíduos, empresas e países, a 13 de Julho, quando apenas quatro crianças tinham sido resgatadas da gruta de Tham Luang, Vernon Unsworth, um britânico a viver na Tailândia e apaixonado por grutas, definiu o mini-submarino de Musk como uma “manobra de relações públicas”, sugerindo mesmo que o gestor “poderia enfiar o submarino onde lhe doesse”. Na altura, Musk estava na zona das grutas, enquanto os mergulhadores da marinha local testavam o equipamento e ficou manifestamente irritado perante a sugestão de Unsworth, tanto mais que ela teve lugar perante as câmaras da CNN. Daí que, dois dias depois, Musk respondesse a Unsworth apelidando-o de “pedo guy”.

Vernon Unsworth recorreu à justiça e processou Musk por calúnia, exigindo 190 milhões de dólares num tribunal federal Los Angeles. Depois de analisar os argumentos de ambos os intervenientes, agora, o júri decidiu que não havia base para o processo de difamação e ordenou o arquivamento.

Num país como os EUA, em que toda a gente processa toda a gente, especialmente os que têm maior fortuna – e a de Musk é avaliada em 23,7 mil milhões de dólares –, processos deste tipo são normais. Mas um caso de difamação acusando alguém de pedófilo (apesar das justificações dos advogados em tribunal) é sempre uma mancha no currículo, para mais vindo de um gestor de empresas cotadas em bolsa, que já teve alguns confrontos com a Securities and Exchange Commission devido à sua proverbial irreverência.

Musk abandonou o tribunal visivelmente aliviado. Por um lado, declarou que “tinha restaurado a sua fé na humanidade”, ao ser ilibado pelo júri. Por outro, admitiu o que se esperava findo o processo: “Esta foi uma das coisas mais parvas que já fiz na minha vida.”