O movimento Convergência, do Bloco de Esquerda, defende num manifesto divulgado esta terça-feira que o partido deve retomar a ação nas ruas, e não se acomodar aos “labirintos de São Bento”, nem esquecer o socialismo enquanto objetivo estratégico.

“Queremos um Bloco que vá à luta, que não se iluda nem se acomode nos labirintos de São Bento, que não amoleça nas mesuras da negociação institucional nem se deslumbre com a presença na comunicação social, um Bloco que retome a rua, a empresa, o bairro, a escola, o campo como o centro de gravidade da ação política, onde se disputam e se conquistam as maiorias sociais”, sustentam na moção divulgada, que foi preparada durante um encontro no domingo.

O manifesto sublinha: “Não perdemos de vista que o nosso objetivo estratégico é o socialismo“. Na pré-campanha para as eleições legislativas de 6 de outubro, a coordenadora do BE, Catarina Martins, referiu-se ao programa eleitoral do partido como sendo, “na sua essência, um programa social-democrata”, numa entrevista ao Observador.

Entrevista a Catarina Martins: “O programa do Bloco é social-democrata”

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Além do texto do manifesto a Convergência, que não é uma tendência formal dentro do BE, divulgou também os nomes que compõem a “articulação nacional” do movimento, aprovados por voto secreto na reunião de domingo, que decorreu na fábrica de Braço de Prata, em Lisboa.

Destacam-se nomes ligados à UDP (um dos partidos que esteve na fundação do BE, atualmente uma associação política), como o militar de Abril Mário Tomé, Carlos Marques, ou a ativista pelos direitos das mulheres Manuela Tavares, assim como o antigo deputado por Braga Pedro Soares, e o antigo deputado por Santarém Carlos Matias.

“Queremos um Bloco de Esquerda democrático, interventivo e dinâmico do topo à base, atento às realidades em que nos movemos, envolvido nas lutas políticas e sociais, grandes e pequenas, onde todos os aderentes são iguais entre si, onde haja respeito pela democracia interna, que confie e incentive as organizações locais, que rompa com os estereótipos viciantes e degradantes dos velhos partidos tradicionais e que se saiba construir segundo novas e fecundas lógicas de movimento”, sustentam.

No manifesto, com dez páginas, defendem que a “reversão das leis laborais e o fim do abuso da precariedade” é um “combate decisivo a ser travado” e apontam para o próximo Orçamento do Estado (OE) para 2020. “O compromisso do BE com a revisão da lei laboral, ou a falta dele, deve determinar a posição do Bloco acerca do Orçamento do Estado. Sem complexos, o Bloco assume-se como oposição influente, mas como oposição”, argumentam, sem apontarem para um sentido de voto específico.

No documento, criticam o que consideram ser, na vida interna do partido, “uma crescente fulanização típica dos partidos sociais-democratas ou dos vanguardismos iluminados”.

Esta situação está a bloquear a capacidade de crescimento e de ampliação da influência política, enraizada nos movimentos sociais, nas lutas contra a discriminação e as injustiças, nas populações, nos trabalhadores e nos territórios”, acusam.

Para os subscritores do manifesto, “o centro de gravidade do Bloco tem de ter mais movimento e mais local, não só pela preparação das autárquicas — normalmente desvalorizadas -, mas por ser imperioso enraizar e dar sustentabilidade à intervenção geral bloquista”.

Apesar de o manifesto divulgado fazer referência a questões de curto prazo, como o Orçamento de Estado, este movimento tinha, através de João Madeira, assumido no domingo aos jornalistas a ideia de transformar este documento numa moção a levar à próxima Convenção do partido, que se realiza no final de 2020.

“Vamos à convenção apresentar uma moção. As listas não são independentes das moções. A existência de uma moção política implica assumir responsabilidades na apresentação de uma lista. O resultado que obtivermos refletir-se-á na nossa participação dentro das estruturas nacionais do Bloco. Não se trata de disputar o cargo A ou B”, afirmou João Madeira. Ou seja, a moção a ser levada à convenção nacional do BE estará associada a uma lista aos órgãos nacionais.

“O que daí resultar traduzir-se-á na nossa influência nos órgãos nacionais. É necessário que o espaço democrático da convenção permita o aparecimento de várias propostas de natureza política e que possa traduzir em repartição proporcional dos lugares”, justificou João Madeira aos jornalistas.