A apanha de azeitona e a produção de azeite correm o risco de parar e o setor olivícola pode colapsar no Alentejo por falta de capacidade das fábricas da região para armazenar bagaço proveniente dos lagares.

“Esta semana provavelmente, o mais tardar na semana que vem, vai haver um colapso no setor”, porque a apanha de azeitona e a produção de azeite “vão ter que parar”, já que “não há espaço para colocar o bagaço de azeitona produzido pelos lagares” do Alentejo, disse hoje à agência Lusa Aníbal Martins, vogal do conselho de administração da CONFAGRI — Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal.

Segundo o responsável, as três unidades do Alentejo que transformam bagaço de azeitona proveniente dos lagares da região “têm praticamente esgotada a sua capacidade estática de armazenamento” daquele subproduto resultante da produção de azeite.

Devido ao aumento da produção de azeitona e às condições climatéricas (falta de chuva) “favoráveis à apanha rápida de azeitona”, tem chegado azeitona “em maiores quantidades e mais rapidamente aos lagares” e “um volume inusitado” de bagaço de azeitona para ser transformado nas três unidades, explicou.

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Apesar de trabalharem 24 horas por dia durante 11 meses, as três unidades, duas no concelho de Ferreira do Alentejo e uma no concelho de Alvito, têm os tanques de armazenagem “praticamente cheios e a atingir a rutura” e “não havendo onde por o bagaço terá forçosamente de parar a apanha de azeitona e a produção de azeite”, disse.

Aníbal Martins, que também é presidente da FENAZEITES — Federação Nacional das Cooperativas Agrícolas de Olivicultores e gerente da União de Cooperativas Agrícolas do Sul (UCASUL), a dona da unidade de Alvito, alertou que a paralisação do setor, a verificar-se, “poderá provocar prejuízos incalculáveis aos agricultores e às empresas ligadas ao setor”. Por outro lado, alertou, “poderá ocorrer um verdadeiro caos ambiental ao não haver onde colocar” a produção de bagaço de azeitona, que poderá chegará às 600 mil toneladas na atual campanha olivícola.

Segundo Aníbal Martins, a unidade da UCASUL recebe cinco mil toneladas de bagaço de azeitona, mas só tem capacidade para transformar mil toneladas por dia, ou seja, “acumula quatro toneladas a cada dia que passa” e, atualmente, não tem capacidade para armazenar mais.

Atualmente, o escoamento do bagaço de azeitona é “o problema maior” do setor olivícola, que “cresceu de forma exponencial nos últimos anos”, mas “tem havido um desequilíbrio estrutural”, porque o aumento das produções de azeitona e azeite “não tem sido acompanhado” do aumento da capacidade de armazenamento e transformação de bagaço.

O “estrangulamento” na capacidade de armazenamento e transformação de bagaço “é um problema muito complicado para o setor olivícola”, “vai ser muito maior na próximo campanha”, com o esperado aumento das produções de azeitona e azeite com a entrada em produção de novos olivais, e “levará ao colapso das atividades relacionadas”, alertou.

Aníbal Martins disse que o setor cooperativo olivícola, através da CONFAGRI, da FENAZEITES e da UCASUL, “tem vindo a sensibilizar as entidades responsáveis”, nomeadamente o Ministério a Agricultura, para “o problema e a possibilidade de ocorrer a grave situação de colapso do setor olivícola no Alentejo”. A CONFAGRI e a FENAZEITES vão reunir “em breve” com a ministra da Agricultura para “analisar o problema e procurar uma solução”, disse, referindo que a reunião “está acordada, mas ainda não agendada”.

Aníbal Martins adiantou que é preciso uma nova unidade de transformação de bagaço ou ampliar a capacidade das três unidades existentes no Alentejo para resolver o problema.

“Há uma série de constrangimentos legais que não têm permitido que seja autorizada e surja uma nova unidade”, lamentou. Os planos diretores municipais (PDM) só permitem a instalação deste tipo de unidades perto de aglomerados urbanos, mas aqui “o problema, que está em vias de ser resolvido, é que as unidades têm má imagem do ponto de vista ambiental, porque, apesar de todas estarem a trabalhar dentro da lei, o aspeto visual é muito negativo”. E fora de aglomerados urbanos, “é difícil arranjar um terreno” onde se possa instalar uma unidade, porque todos estão dentro de Reserva Agrícola Nacional (RAN), explicou.