O ex-vice-primeiro-ministro e líder da extrema-direita em Itália, Matteo Salvini, está a ser investigado por possível uso abusivo de aviões e helicópteros da polícia e dos bombeiros quando era ministro do Interior, noticiou esta quinta-feira a imprensa italiana.

O Ministério Público de Roma enviou documentos para o Tribunal de Ministros, secção especializada com competência para julgar delitos cometidos por membros do governo, sobre 35 voos realizados por Salvini em aviões e helicópteros da polícia e dos bombeiros, segundo o Corriere della Sera.

Salvini já reagiu, indignado: “Todos os meus voos foram na qualidade de ministro”, disse, citado pelo jornal italiano. “Usava aviões estatais para visitar quartéis não para ir de férias. Não vejo a hora de me poder defender em tribunal”, acrescentou,

O Ministério Público pediu àquele tribunal especial, constituído por três magistrados, para proceder a um inquérito para verificar se a utilização dos aparelhos constitui um delito. Segundo uma investigação publicada há meses pelo diário de esquerda La Repubblica, Salvini fazia coincidir as suas deslocações oficiais com comícios e reuniões do seu partido, a Liga, realizados imediatamente antes ou depois dos encontros oficiais.

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Instado na altura a pronunciar-se, o Tribunal de Contas arquivou o processo em setembro, considerando que o custo dessas deslocações “não parece ter sido superior ao que a administração teria de suportar se o ministro e a sua equipa viajassem em voos comerciais”, escreve esta quinta-feira o Corriere.

O mesmo tribunal considerou, no entanto, os voos “ilegítimos” à luz da lei italiana, segundo a qual os aparelhos da polícia e bombeiros devem “servir exclusivamente para tarefas institucionais ou de trino e não para ‘voos de Estado'”. Apenas cinco pessoas — o Presidente da República, os presidentes das duas câmaras do parlamento, o chefe do governo e o presidente do Tribunal Constitucional — podem utilizar estas ligações aéreas, “salvo casos excecionais especialmente autorizados”, o que não ocorreu nos casos envolvendo Salvini.

Matteo Salvini está envolvido em outros processos judiciais, entre os quais um relativo a ligações ambíguas de colaboradores próximas com a Rússia e a confiscação à Liga de 49 milhões de euros na sequência de uma fraude de antigos responsáveis do partido com os reembolsos de gastos das campanhas eleitorais.

A Liga de Salvini, cuja popularidade tem baixado nas últimas semanas, reúne 33% das intenções de voto, segundo o site especializado Youtrend, o que faz do partido a primeira formação política de Itália.