“Graças a Deus”

François Ozon pensou, a princípio, fazer um documentário sobre o padre da diocese de Lyon que molestou vários menores ao longo de décadas, com o conhecimento da hierarquia e sem que esta reagisse para o afastar ou punir severamente, e continuava a lidar com jovens. Mas preferiu depois rodar uma ficção cuidadosamente ancorada nos factos, onde Melvil Poupaud, Denis Ménochet e Swann Arlaud interpretam três vítimas do padre que, já adultos, iniciam um movimento para o levar perante a justiça, tal como ao próprio bispo de Lyon. Ozon procura ser o mais rigoroso e objetivo possível na apresentação deste escândalo ainda na atualidade em França, sem o aproveitar para fazer comício anti-clerical ou cinema de “denúncia” simplista, pondo em cena, através das personagens principais, três vivências íntimas e três respostas emocionais e psicológicas diferentes ao caso, dentro do drama coletivo maior, embora a exposição narrativa aproxime “Graças a Deus” do telefilme demonstrativo.

“Frankie”

No novo filme de Ira Sachs, o realizador de “O Amor é uma Coisa Estranha” e “Homenzinhos”, Isabelle Huppert interpreta uma caprichosa estrela de cinema que está a morrer com um cancro e junta a sua família, mais uma amiga querida, em Sintra, numas últimas férias de Verão em conjunto, para tentar deixar arrumados todos os assuntos pessoais, materiais e sentimentais pendentes.  O cosmopolita elenco de “Frankie” é simpaticamente excêntrico (Marisa Tomei, Greg Kinnear, Brendan Gleeson, Pascal Greggory, Jérémie Renier, Carloto Cotta) e Sachs tira muito bom partido visual das paisagens de Sintra e arredores — por vezes, a namorar o “cliché” postal –, faltando apenas ao filme mais tonificação narrativa e uma caracterização das personagens que nos faça interessar-nos verdadeiramente por elas, em vez de nos ficarmos por tolerar a sua presença.

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“A Ovelha Choné – O Filme: A Quinta Contra-Ataca”

A segunda longa-metragem da Ovelha Choné, realizada por Will Becher e Richard Phelan, tira o chapéu ao cinema de ficção científica ao mesmo tempo que goza com ele. Um disco voador aterra perto de Mossy Bottom, provocando uma comoção ovnilógica nos habitantes da vila e a vinda de uma equipa do Ministério de Detecção de Alienígenas. Choné trava conhecimento com o tripulante da nave, um simpático alienígena com de nome Lu-La, descobrindo que se trata de um jovem que roubou o comando do aparelho ao pai e veio parar à Terra sem saber bem como. Com a ajuda das restantes ovelhas e a participação involuntária do cão Bitzer, Choné decide ajudá-lo a voltar ao planeta de origem. “A Ovelha Choné — O Filme: A Quinta Contra-Ataca” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.