Jürgen Klopp renovou contrato com o Liverpool esta semana, estendendo o vínculo que o liga ao clube inglês até 2024. Fê-lo, segundo as declarações aos meios de comunicação dos reds, porque “o Liverpool é um sítio tão bom para se estar” que não pode “sequer pensar em sair”. Esta, à partida, seria a principal notícia da semana relacionada com o treinador alemão. Mas o Liverpool decidiu organizar uma visita de vários elementos do plantel à ala pediátrica de um hospital da cidade — e foi aí que Klopp acabou por protagonizar o momento especial da semana.

Na altura em que entrou no quarto de uma das crianças, o treinador alemão foi recebido com um ternurento “adoro-te” e emocionou-se desde logo, surpreendido com a demonstração de afeto. Os feitos da temporada passada, entre a conquista da Liga dos Campeões e a luta pela Premier League até à última jornada, acabaram por garantir a Klopp a certeza de que é uma das figuras do Liverpool — a par de um qualquer capitão ou de um qualquer goleador. O prolongar da ligação entre treinador e clube, por mais cinco anos, significa também para o Liverpool o prolongar de um capítulo que trouxe identidade a um grupo que parecia nos últimos anos ter perdido traços característicos estruturais.

Este sábado, no primeiro encontro da atual jornada da Premier League, o Liverpool recebia o Watford e procurava manter a invencibilidade, já que levava até aqui 15 vitórias e um empate desde o início da temporada para a Liga. O líder da classificação defrontava então o último, que já vai no terceiro treinador esta época e cuja única boa notícia nas últimas semanas foi a recuperação de Troy Deeney — o capitão e avançado que esteve lesionado nas primeiras jornadas e que mais do que garantir poder de fogo dentro de campo acaba por ser uma peça importante para liderar a equipa e ser uma extensão do treinador no relvado.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Contra o Watford, o Liverpool continuava então um período complexo em termos de agenda: depois do jogo a meio da semana com o Salzburgo na Áustria, que serviu para garantir a presença nos oitavos da Liga dos Campeões, os reds jogavam no fim de semana para a Premier League e preparavam-se para dois compromissos em que a equipa terá de se partir em duas metades. Na terça-feira, o Liverpool visita o Aston Villa nos quartos de final da Taça da Liga; na quarta-feira, no Qatar, o Liverpool disputa a meia-final do Mundial de Clubes. Já a pensar em tudo isto, Klopp poupava Robertson e Naby Keita e lançava James Milner na esquerda da defesa e Shaqiri no meio-campo (para além da titularidade forçada de Joe Gomez, já que Lovren se lesionou na Áustria).

O jogo não teve balizas praticamente até à meia-hora e foi jogado sempre no setor intermédio: o Liverpool, ainda que com mais bola e com o controlo claro das ocorrências, não tinha a velocidade necessária para entrar nas costas da defesa do Watford e parecia estar constantemente a tentar atrair o adversário para depois explorar a profundidade. Sem qualquer remate enquadrado até aos 30 minutos e sem qualquer oportunidade de golo, a partida acabou por ser desbloqueada pelo primeiro tópico de vários que separam Liverpool e Watford: a qualidade individual. Depois de um canto na grande área de Alisson, os reds lançaram-se rapidamente para o contra-ataque, com Mané a desmarcar Salah. O avançado egípcio, depois do golo genial que marcou a meio da semana ao Salzburgo, voltou a assinar um remate impressionante ao atirar em arco a partir da esquerda (38′) e concretizou o que instantes antes Doucouré não tinha conseguido.

Antes do intervalo, o Watford conseguiu reagir ao golo sofrido e poderia até ter empatado se Sarr não tivesse falhado de forma impressionante o remate depois de uma boa jogada de Deulofeu (42′). No final de uma primeira parte sem grandes pontos de destaque à exceção do grande golo de Salah, o Liverpool estava a vencer graças à abissal diferença individual entre os jogadores de cada uma das equipas: mas faltava a qualidade global que normalmente torna inequívocas as vitórias do Liverpool e não abre espaço a dúvidas no que ao resultado diz respeito.

No início da segunda parte, o Watford regressou do balneário com o mesmo atrevimento com que tinha partido para o intervalo e Sarr voltou a beneficiar de boa oportunidade, ao deixar James Milner para trás e permitir a defesa de Alisson ao invés de assistir Deeney (48′). Pouco depois, Mané acabou por fazer o segundo golo do Liverpool depois de um cruzamento de Shaqiri na esquerda mas o lance foi anulado por fora de jogo do senegalês (49′) — que depois da decisão do VAR pediu o apoio dos adeptos para a equipa aumentar a vantagem e descansar na partida.

O Watford estava apostado em não permitir a tranquilidade do Liverpool e tanto Deulofeu como Sarr, um num corredor e outro noutro, causavam muitas dificuldades a Milner e a Alexander-Arnold. Foi ao assistir à fragilidade de Milner na hora de parar Sarr que Klopp acabou por tomar uma decisão alternativa quando Wijnaldum saiu com problemas musculares: ao invés de lançar o mais óbvio Keita para o meio-campo, o treinador fez entrar Robertson para a esquerda da defesa e mudou Milner para o setor intermédio, fortalecendo o espaço por onde o Watford estava a entrar no último terço com maior facilidade.

O Watford (onde o português Domingos Quina ainda entrou nos últimos instantes) não desistiu do resultado até ao apito final e manteve o jogo em aberto durante toda a segunda parte, ameaçando de forma consistente a baliza de Alisson. Do outro lado, o Liverpool tentou chegar ao segundo golo com investidas rápidas e com as entradas de Chamberlain e Origi mas foi novamente Salah, com um toque genial de calcanhar (90′). Longe de ter feito uma exibição brilhante — até à hora de jogo, o único remate enquadrado do Liverpool era mesmo o golo de Salah –, a equipa de Jürgen Klopp conseguiu garantir mais uma vitória e não perder qualquer distância para Leicester e Manchester City. O treinador alemão renovou contrato mas a única alteração que se verifica é mesmo o prolongar do vínculo: porque está lá a fórmula de sempre, com passes na profundidade que apanham as defesas desprevenidas, e está o génio de todos os dias, com Salah a resolver um encontro que esteve longe de ser fácil.