Downing Street continua a insistir na descriminalização do não pagamento do imposto usado para financiar a BBC, desta forma comprometendo a saúde financeira do histórico canal britânico que nos últimos tempos tem sido alvo de fortes criticas vindas dos dois lados do espectro político. Além disso, conta ainda o The Guardian, Boris Johnson ordenou um boicote do seu partido e Executivo ao programa “Today”, da Radio 4, por este alegadamente ter um apresentador anti-conservador.

O “nº 10” atacou a cobertura feita à campanha eleitoral, principalmente o monólogo do radialista Andrew Neil, que criticou Boris abertamente por este ter recusado ser entrevistado, mas também a “extensiva cobertura” do caso do rapaz de quatro anos, com suspeitas de pneumonia, que se viu obrigado a dormir no chão de um hospital –Downing Street considera que este comportamento prova a inclinação anti-conservadores e anti-Brexit desta organização noticiosa.

Do outro lado da “barricada” também o Labour fez ouvir o seu desagrado sobre a forma de atuar da BBC, destacando a exclusão do momento em que o público se ri de Johnson num debate exibido há umas semanas, por exemplo, e o facto de vários repórteres citarem sistematicamente fontes do partido conservador sem analisarem a veracidade das informações.

A BBC já rejeitou veementemente estas críticas e, num e-mail divulgado na passada sexta-feira, o diretor-geral Tony Hall escreveu: “Nesta campanha frenética produzimos centenas de horas de conteúdos. É normal que se cometam alguns erros mas nós responsabilizamo-nos por todos eles. Os editores estão a fazer chamadas difíceis a toda a hora. Não aceito é a visão de alguns críticos que se atiram imediatamente a uma mão cheia de exemplos para sugerir que nós somos, de alguma forma, parciais para um lado ou para outro.”

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Durante a campanha eleitoral Johnson ameaçou retirar o financiamento público da BBC (garantido pelo menos até 2027), alegando que o imposto que o alimenta já não é justificável dado que outras organizações de media já descobriram formas próprias de se financiarem. Qualquer alteração no modelo de financiamento da BBC, porém, exigirá sempre que o parlamento aprove legislação nova.

A juntar às preocupações da BBC estão ainda os comentários do secretário de estado do Tesouro, Rishi Sunak, que confirmou a existência de planos para descriminalizar o não pagamento do imposto de TV, medida que em muito prejudicaria os cofres da emissora britânica.

Ironicamente, o próprio Sunak disse à BBC que este assunto é algo “que o primeiro-ministro já tinha dito que ia analisar” e que o próprio público “tem várias questões” em relação à obrigatoriedade de pagamento desta taxa. Uma fonte do jornal Guardian junto do executivo confirmou que esta taxa está mesmo “na linha de fogo”.

No seguimento destas revelações, a BBC explicou que esta descriminalização retiraria cerca de 200 milhões de libras (cerca de 240 milhões de euros) dos cofres da emissora.

Dominic Cummings, o conselheiro principal de Boris Johnson, é um conhecido crítico da BBC, tanto do seu modelo de financiamento como do seu trabalho. Cummings tem uma particular aversão ao programa “Today” e diz que o mesmo opera dentro de uma “bolha metropolitana” desligada do resto do país.