Ossadas de uma mulher foram descobertas na Península de Atos, na Grécia, onde estão instalados vários mosteiros que, no século X depois de Cristo (d.c.), baniram a entrada de mulheres no território.

A descoberta foi de Laura Wynn-Antikas, uma antropóloga americana que passou décadas a investigar o restos humanos em igrejas, túmulos subterrâneos e nas mais improváveis escavações arqueológicas. Segundo o jornal The Guardian, Wynn-Antikas ficou atónita com os achados.

Entre as descobertas estavam ossos que se pensa pertencerem a sete pessoas, como sete mandíbulas ou as várias tiroides e cartilagens calcificadas. Contudo, não foi encontrado nenhum crânio. Uma destas mandíbulas, sacro e tíbia parecem pertencer a uma mulher. “Enquanto os outros ossos são mais robustos e claramente pertenceram a homens, estas medidas caiem claramente no leque feminino. Eram visivelmente diferentes no tamanho”, explica a antropóloga ao jornal inglês.

A descoberta levanta questões, ainda para mais porque estas ossadas foram descobertas enterradas sob o chão da capela bizantina — no que os investigadores julgam ter-se tratado de um segundo funeral. “Se estamos mesmo a falar de uma mulher, ou mais do que uma, isso levanta muitas questões (…) a começar: quem poderiam elas ter sido?”, afirmou Laura Wynn-Antikas relembrando que nestas condições eram, geralmente, enterradas pessoas importantes. “Esta é a primeira vez que vejo ossos enterrados debaixo do chão de uma capela”, lembrou.

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Entre os mais curiosos para saber a quem pertenceram as ossadas estão os próprios monges do mosteiro de Pantokrator, no monte Athos, que requisitaram a realização de um teste de Carbono-14, para que se conseguissem datar os ossos. O processo é complicado e deve demorar três meses. “Se conseguirmos datar os ossos com uma data relevante sobre os acontecimentos que conhecemos [no mosteiro], então testes de ADN serão necessários para confirmar se, como parece provável, está uma mulher entre os [cadáveres] enterrados”, afirmou Laura Wynn-Antikas.

Os ossos foram encontrados no âmbito de um trabalho de restauro da região repleta de mosteiros, que dura há mais de 40 anos. Quando o líder das escavações, Phaidon Hadjiantoniou, se deparou com os ossos chamou Laura Wynn-Antikas.

A península grega onde as mulheres não entram

As mulheres estão banidas da península onde, no século X d.c., se instalou uma comunidade religiosa que tem o mosteiro de Pantokrator como principal atração. Hoje a região é uma comunidade autónoma governada pela Igreja Ortodoxa Grega.

Apesar de a União Europeia ter definido leis que tornam a interdição de mulheres ilegal, as mulheres continuam impedidas de entrar num raio de 500 metros da costa de Atos, onde vivem aproximadamente 2.500 monges nos 20 mosteiros, em cabanas ou nas grutas que existem na pequena região da península. A Virgem Maria é a única presença feminina aceitável.

Contudo, o líder dos trabalhos de restauro lembra que “houve alturas, durante os ataques de piratas e incursões hostis, em que os monges abriram as portas às mulheres, mas é muito raro”. “Há um conto famoso de um rei sérvio que trouxe a rainha a Atos, mas durante o tempo que cá esteve ela foi sempre carregada e nunca foi autorizada a pisar o chão. Colocaram-se carpetes em todas as divisões do mosteiro para que, mesmo lá dentro, ela não tocasse no chão”, conta Hadjiantoniou.

Hoje em dia, a península de Atos é património da humanidade declarado pela UNESCO e continua a ser administrada pela Igreja Ortodoxa Grega. Foi ocupada pelos nazis durante a Segunda Guerra Mundial, tendo sido poupada à destruição e aos bombardeamentos.