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Luiz Phellype, a amnésia necessária para a memória de elefante (a crónica do Santa Clara-Sporting)

Este artigo tem mais de 4 anos

Numa altura em que a memória e as recordações parecem estar mais vivas do que nunca no Sporting, Luiz Phellype (que só chegou em janeiro) foi a amnésia perfeita para garantir a goleada nos Açores.

Ristovski assistiu o avançado brasileiro para o segundo golo dos leões
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Ristovski assistiu o avançado brasileiro para o segundo golo dos leões

EPA

Ristovski assistiu o avançado brasileiro para o segundo golo dos leões

EPA

Passou mais de um ano e meio. Mudaram-se direções, treinadores, jogadores e vontades. Ganhou-se, ainda que não tanto quanto se perdeu. Cumpriu-se uma temporada, que terminou com um registo acima do esperado tendo em conta o que a memória não permitia esquecer. Começou-se outra que, seguindo as leis da lógica e da evolução, se pedia melhor do que a anterior e de maior distanciamento àquele dia de maio há mais de ano e meio. Mas estamos em dezembro de 2019: e o dia 15 de maio de 2018 nunca esteve tão presente naquilo que é a atualidade do Sporting.

Primeiro, porque está a decorrer o julgamento aos crimes daquele dia, na Academia de Alcochete. Porque dirigentes, funcionários, treinadores e jogadores se têm apresentado no Tribunal de Monsanto, perante um alto órgão de soberania, para recordar o momento em que dezenas de encapuzados entraram nas instalações da Academia para agredir plantel e equipa técnica. E porque a grande maioria desses jogadores, que naquele dia estavam no balneário e que representam o Sporting, garantiram que ainda hoje têm receio de que tudo se repita quando a equipa não vai além de um resultado menos satisfatório.

Ficha de jogo

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Santa Clara-Sporting, 0-4

14.ª jornada da Primeira Liga

Estádio de São Miguel, em Ponta Delgada, nos Açores

Árbitro: Manuel Mota (AF Braga)

Santa Clara: Marco, Patrick, João Afonso, Fábio Cardoso, Zaidu Sanussi, Lucas Marques (Zé Manuel, 57’), Osama Rashid, Lincoln (Bruno Lamas, 57’), Ukra, Thiago Santana (Schettine, 64’), Carlos Junior

Suplentes não utilizados: André Ferreira, Dennis Piñeda, César Martins, Francisco Ramos

Treinador: João Henriques

Sporting: Luís Maximiano, Ristovski, Coates, Mathieu, Acuña, Doumbia (Battaglia, 64’), Wendel (Eduardo, 77’), Bruno Fernandes, Bolasie, Luiz Phellype (Jesé, 71’), Vietto

Suplentes não utilizados: Renan, Rafael Camacho, Rosier, Borja

Treinador: Silas

Golos: Luiz Phellype (40’, 47’), Bolasie (54’), Bruno Fernandes (gp, 60’)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Zaidu (22’), a Coates (66’)

Depois, porque uma fação ligada às claques leoninas não deixa que se esqueça o que se passou a 15 de maio do ano passado. “Alcochete sempre”, como se ouviu este domingo à noite na chegada dos jogadores do Sporting ao hotel em Ponta Delgada mas também ainda no Aeroporto João Paulo II, é uma recordação mas é também uma ameaça. De repente, o jogo desta segunda-feira com o Santa Clara parecia capital: se o Sporting não ganhasse, já se temia o pior. E era precisamente isso que esse número reduzido de adeptos queria e precisamente isso que os jogadores que têm testemunhado em Monsanto receava. Por mais surreal que parecesse, a ameaça pairava no ar e a memória do dia mais negro da história do clube estava mais viva do que nunca.

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Três longos parágrafos para falar de tudo menos de futebol depois — como, aliás, tem sido habitual no que diz respeito ao Sporting –, a verdade é que os leões podiam chegar esta segunda-feira ao terceiro lugar. Depois da derrota com o LASK na Áustria, que roubou o primeiro lugar do grupo da Liga Europa, a equipa de Silas só precisava de vencer o Santa Clara para aproveitar a derrota do Famalicão na Luz e subir ao pódio da classificação. O treinador leonino decidiu devolver a titularidade a Acuña e Luiz Phellype, que tinham ficado fora das opções iniciais durante os últimos dois jogos, e deixou no banco tanto Borja como Jesé. Bolasie e Vietto voltavam aos corredores, depois de não terem jogado contra o LASK, e era Ristovski quem estava na direita da defesa, ao invés de Rosier. Já Max, que tem sido o habitual titular na baliza mas foi suplente na Liga Europa (entrou depois da expulsão de Renan), regressava ao onze.

Contra um Santa Clara que tem estado abaixo daquilo que mostrou na temporada passada (está apenas três pontos acima da zona de despromoção), o Sporting não demorou a mostrar que ia apresentar-se com as linhas subidas e uma reação rápida à perda de bola onde Luiz Phellype era o primeiro a correr atrás do prejuízo. Com mais posse de bola, os leões tinham em Acuña e Ristovski, os dois laterais, os elementos que mais esticavam o jogo e procuravam cruzar para a área ou abrir espaços em zonas interiores: até porque a faixa central do terreno estava normalmente congestionada por jogadores do Santa Clara.

Prova disso, além do grande envolvimento em jogo dos dois laterais, era a estatística de passe de Wendel. O médio brasileiro, que estava muito móvel entre linhas e tanto aparecia mais tombado na esquerda como depois apoiava na direita, chegou aos 25 minutos com uma eficácia de passe acima dos 90% mas sem ter passado a bola a Luiz Phellype (e com nove dos 23 totais a serem para os dois centrais do Sporting). Era através de cruzamentos, portanto, que os leões conseguiam criar perigo: Luiz Phellype teve três oportunidades para marcar de cabeça, a cruzamento de Vietto (7′), Bruno Fernandes (19′) e Ristovski (34′), e também Bolasie acabou por cabecear por cima depois de um passe do capitão leonino (36′).

Do outro lado, o Santa Clara ia tentando criar perigo através de transições rápidas e podia ter aproveitado dois erros de Coates, um logo nos primeiros instantes e outro já para lá do primeiro quarto de hora (20′), para abrir o marcador um pouco contra a corrente do jogo. Numa altura em que Silas, no banco de suplentes, já mostrava um semblante preocupado face ao caráter perdulária do Sporting nos Açores, Luiz Phellype acabou por conseguir capitalizar o ascendente leonino na partida e as diversas oportunidades que os leões tinham criado até então. Depois de uma perda de bola do Santa Clara, Vietto correu até à linha de fundo e cruzou tenso para a grande área, onde Luiz Phellype surgiu a encostar (40′). Na ida para o intervalo, o Sporting estava a ganhar de forma justa, porque estava a ser a melhor equipa, mas tinha de fortalecer a vantagem para não correr o risco de ficar dependente da fragilidade defensiva que estava a ser visível.

[Carregue nas imagens para ver alguns dos melhores momentos do Santa Clara-Sporting:]

Na segunda parte, sem que nenhum dos treinadores tenha feito desde logo qualquer alteração, o aumentar da vantagem do Sporting apareceu quando ainda não tinham passado dois minutos depois da saída das equipas do intervalo. Depois de um erro da defesa do Santa Clara, que deixou a bola à mercê de Ristovski no corredor direito, o lateral macedónio levou o lance até à linha de fundo de fundo para depois cruzar atrasado, onde Luiz Phellype voltou a aparecer para bisar e tranquilizar o resultado a favor dos leões (47′).

A partir do segundo golo do avançado brasileiro, a equipa de João Henriques entrou numa espécie de Lei de Murphy onde o coração começou a ocupar o lugar do discernimento e tudo passou a ser notoriamente mais simples para o Sporting. Menos de dez minutos depois do golo de Luiz Phellype, Bolasie aumentou a vantagem depois um canto batido na esquerda (54′) e praticamente arrumou os destinos da partida. O treinador dos açorianos reagiu com duas alterações, as entradas de Bruno Lamas e Zé Manuel — para tentar tirar partido da forma como o Sporting estava no relvado, muito subido e com espaço nas costas da defesa, que jogava quase no meio-campo –, mas acabou por ver Zaidu derrubar Bolasie na grande área (60′) e permitir a Bruno Fernandes fazer o quarto golo de penálti (e homenagear Luís Neto, ao mostrar um camisola do central que vai estar alguns meses lesionado durante os festejos).

Silas teve tempo e espaço para ainda proporcionar o regresso à competição de Battaglia, que esteve lesionado de forma prolongada, e voltar a dar minutos a Jesé, que até tinha sido titular nos últimos dois jogos. O Sporting poderia ter aumentado a vantagem diversas vezes — Vietto falhou na cara de Marco já nos últimos dez minutos (82′) — mas acabou por tirar o pé do acelerador com o aproximar do apito final, contentando-se com a goleada já confirmada e ainda permitindo algumas jogadas interessantes ao Santa Clara (Bruno Lamas chegou mesmo a marcar, de livre direto, mas o lance foi anulado porque Fábio Cardoso estava muito próximo da barreira do Sporting).

O Sporting goleou o Santa Clara nos Açores assente numa exibição que, sem ser ótima, foi boa o suficiente para anular por completo um conjunto açoriano que está muito longe do nível que apresentou na época passada. Os leões ultrapassam ao Famalicão e sobem ao terceiro lugar na Primeira Liga e vão entrar em 2020 com a certeza de que estão no pódio da classificação. Numa altura em que as más memórias parecem estar mais vivas do que nunca no Sporting, Luiz Phellype tornou-se fulcral: o avançado brasileiro que só chegou a Alvalade em janeiro deste ano, que não estava na Academia no dia das agressões e para quem só existe um pós-Alcochete.

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