Chegados a dezembro, na antecâmara do último jogo do ano civil de 2019 para o Campeonato, Sérgio Conceição aproveitou o encontro com o Feyenoord no Dragão para descrever aquilo que entender ser “o comportamento da equipa”. Um comportamento que nem sempre foi assim mas que acaba por ser uma imagem de marca nos primeiros meses da temporada. “Não podemos dissociar o processo ofensivo do defensivo. Há situações que temos que melhorar, como a dinâmica de jogo. Se estivermos mais fortes aí, defensivamente estaremos melhor posicionados para, quando perdermos a bola, não estarmos desequilibrados”, analisou o treinador do FC Porto no lançamento da receção ao Tondela.

FC Porto vence Tondela antes do clássico (3-0) com golos brasileiros de Soares e Otávio

Depois do empate no Jamor frente ao Belenenses SAD que deixou a equipa azul e branca a quatro pontos do líder Benfica (entretanto sete, depois de mais uma goleada dos encarnados frente ao Famalicão), e de uma roda no final do encontro onde atirou a certa altura a frase “Calma, calma… Somos melhores do que os outros”, Sérgio Conceição avançou com um discurso de confiança para dentro e para fora mostrando uma total convicção na conquista do Campeonato. “A qualidade quer existe no plantel e o trabalho que fazemos dão-me essa convicção”, explicou na antecâmara da receção ao Tondela. No entanto, a campanha europeia e os jogos fora no Campeonato (quase todos à exceção da Luz, curiosamente) mostraram uma equipa à procura de um ponto de equilíbrio perdido.

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O FC Porto já utilizou nove combinações diferentes no ataque. Umas, como Zé Luís e Marega, tiveram um sucesso mais refletido no número de golos apontado. Outras, como Soares e Marega, trazem rendimento num plano mais coletivo a nível de vitórias. Nem sempre as coisas funcionaram na parte ofensiva mas os dragões não perderam a capacidade de criar oportunidades – apenas eficácia. Na defesa, as experiências são menores: existem três vagas cativas (Pepe, Marcano e Alex Telles), uma que vai rodando (lateral direito), outra que tem sido uma das maiores revelações da equipa (Marchesín) e alguns registos interessantes como as seis primeiras jornadas em casa sem sofrer golos. Os portistas continuam fortes por setores mas fraquejam na ligação entre os mesmos. E, perante a ausência de Danilo (lesão, fadiga, gestão, algo mais?), o desafio tornava-se ainda maior.

Ficha de jogo

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FC Porto-Tondela, 3-0

14.ª jornada da Primeira Liga

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: Manuel Oliveira  (AF Porto)

FC Porto: Marchesín; Corona, Pepe, Marcano, Alex Telles; Uribe, Otávio (Sérgio Oliveira, 79′); Nakajima, Luis Díaz (Fábio Silva, 73′), Soares e Marega (Wilson Manafá, 46′)

Suplentes não utilizados: Diogo Costa, Mbemba, Romário Baró e Zé Luís

Treinador: Sérgio Conceição

Tondela: Cláudio Ramos; Moufi, Bruno Wilson (Yohan Tavares, 18′), Ricardo Alves, Filipe Ferreir; Jaquité, Pepelu (Pedro Augusto, 60′), João Pedro (Richard, 60′); Murillo, Jonathan e Denilson

Suplentes não utilizados: Niasse, Xavier, João Reis e Strkalj

Treinador: Natxo González

Golos: Soares (10′ e 32′) e Otávio (51′)

Ação disciplinar: nada a registar

Foi uma questão de falta de alternativas? Não. Foi um problema de ausências para a mesma posição? Não. Sérgio Conceição tinha Mbemba no banco, que já fez alguns minutos como falso ‘6’ à frente da defesa, e dispunha ainda de Sérgio Oliveira, que poderia complementar as características de Uribe no meio-campo. Ao invés, manteve todos os jogadores que defrontaram o Feyenoord mas lançando na frente Nakajima para um sistema que muitas vezes se transformava em 4x2x4 com bola e que apanhou por completo o Tondela na curva. Para se perceber o quanto, basta dizer que os visitantes não fizeram um único remate para amostra à baliza de Marchesín na primeira meia hora do encontro.

Com Soares e Marega mais fixos na frente, Luis Díaz e Nakajima a explorarem sempre os espaços mais interiores e Corona e Alex Telles a fazerem “piscinas” para cima e para baixo, o segredo do FC Porto foi a colocação de Otávio à frente de Uribe, num papel mais recuado no terreno mas capaz de dar outro critério em fase de construção aos azuis e brancos. O brasileiro recuou alguns metros, os dragões ganharam muitos metros, o Tondela ficou sem metros – e até o colombiano teve um encontro com mais protagonismo do que antes do “castigo” interno, ao nível do arranque de temporada.

Depois, fez a diferença a eficácia de quem conseguiu rematar enquadrado (neste caso literalmente, como se percebe nas estatísticas ao intervalo): na primeira vez que aproveitou a mobilidade entre linhas a fazer a variação entre corredores, Luis Díaz encontrou bem a subida pelo flanco direito de Corona, o mexicano cruzou largo e Soares, de cabeça, inaugurou o marcador logo aos dez minutos. O FC Porto, que em muitos períodos acampou no meio-campo contrário, dominava em termos territoriais, pecava com alguns rendilhados a mais que pediam um nó mais simples e prático mas aumentou a vantagem pouco depois da meia hora, com o avançado brasileiro a bisar ao segundo poste após canto batido por Alex Telles na direita com desvio inicial de Marega a encontrar Soares isolado (32′).

João Pedro, no único lance de algum perigo criado pela formação beirã, ainda teve um remate cruzado que passou perto do poste da baliza de Marchesín (34′) mas essa seria mesmo uma exceção, a única, ao domínio total dos azuis e brancos, também explicado num lance pouco depois em que Marega desceu até à sua área, cortou uma bola de carrinho e colocou logo no “cérebro” Otávio para mais uma saída rápida que ia apanhando em muitas ocasiões o Tondela mal posicionado e com dificuldades em travar a colocação de tantas unidades pelo FC Porto em zonas de finalização. Ao intervalo, 0 2-0 era sinal de eficácia mas escondia também uma superioridade demasiado evidente dos visitados.

O segundo tempo veio apenas confirmar as tendências do primeiro tempo mas com um FC Porto muito mais rematador entre o domínio total e Otávio a encher cada vez mais o campo, sendo ainda o grande protagonista do terceiro e último golo do encontro na jogada mais vistosa da partida que passou pelos pés de Nakajima e Corona até à assistência do mexicano na área para o brasileiro quebrar o jejum de golos na presente temporada e conseguir também o seu Óscar numa noite em que foi o ator principal de um dos melhores filmes da época na ressaca dos altos e baixos com o Feyenoord. O Bom Rebelde, que tantas vezes pecava no início de aventura no Dragão pelos posicionamentos errados ou menos ajustados à equipa, deu uma lição de como se consegue mudar um enredo.