A Série A italiana (a primeira liga de futebol) encomendou três quadros ao artista plástico Simone Fugazzotto, com caras de macacos, para os incluir numa ação de combate ao racismo. Mas as obras estão a ser alvo de duras críticas por parte dos clubes e adeptos.

Ao longo das últimas épocas, os adeptos italianos têm tido vários comportamentos racistas contra jogadores. O episódio mais recente envolveu o defesa central senegalês Kalidou Koulibaly, que joga no Nápoles: enquanto este estava em campo, os adeptos do Inter de Milão reproduziram sons semelhantes aos de macacos. Já antes, Lukaku, que joga no Inter de Milão, e Mario Balotelli, que joga no Brescia, sofreram o mesmo tipo de reação.

Depois destes incidentes, os 20 clubes que fazem parte da Série A escreveram uma uma carta aberta a pedir que fossem tomadas medidas concretas de combate ao racismo. E a liga decidiu encomendar uma obra ao artista italiano Simone Fugazzotto, que usa metáforas entre homens e macacos nos seu quadros. Com as três pinturas entregues, começaram a surgir as primeiras críticas.

À CNN, o artista explicou que desenhou “um macaco ocidental com olhos azuis, um asiático com olhos amendoados e um terceiro negro, todos com a cara inscrita em bolas de futebol, como se dissessem: ‘Podemos ter cores diferentes, mas rolamos todas de forma igual'”.

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Na conta oficial de Twitter, o AC Milan criticou a decisão da liga. “A arte pode ser poderosa, mas discordamos fortemente com o uso de macacos na luta contra o racismo e estamos surpreendidos com a total falta de consulta [junto dos clubes]”, pode ler-se na publicação.

Mais clubes juntaram-se à equipa “nero rosso” nas críticas, com a AS Roma a questionar mesmo se esta seria a forma correta de fazer a campanha. “Compreendemos que a liga queira combater o racismo, mas não acreditamos que esta seja a maneira correta de o fazer”, escreveu a equipa da capital italiana também no Twitter.

À estação americana CNN, o artista explicou que recurso a macacos tem uma explicação: “Como testemunhei os insultos que foram feitos a Koulibaly, em San Siro, na forma de sons de macacos, cheguei a uma peça na qual utilizei a mesma linguagem dos adeptos, mas virei-a contra eles”. E acrescenta: “Para compreenderem este trabalho, têm de entrar no meu mundo e ver o macaco como o protagonista da minha arte ao longo dos anos, como uma metáfora do ser humano”, explicou Simone Fugazzotto.

“Ao longo dos anos, pintei quase todas as virtudes, fraquezas e loucuras do ser humano na forma do chimpanzé, que me permite expressar a alma do ser humano, ridicularizando os hábitos, os “tiques” e os hábitos não tão saudáveis”, acrescentou à estação americana.

As comparações racistas entre jogadores e adeptos nos estádios não são recentes. Em 2014, enquanto ainda jogava no Barcelona, Dani Alves foi atingido com uma banana que voou das bancadas onde estavam os fãs do Vilareal. Na altura, num gesto que ficou marcado, o lateral descascou a fruta e comeu-a em frente aos adeptos. “Um pouco como o Dani Alves quando gozou com quem lhe atirou bananas das bancadas, eu pego nela, como-a e mostro a outra face”.