Kelleher, Hoever, Van den Berg, Boyes, Gallacher, Chirivella, Christie-Davies, Kane, Elliott, Hill e Longstaff. Esta foi a equipa inicial que entrou em campo para um encontro a contar para os quartos da Taça da Liga inglesa. Esta foi a equipa do Liverpool que se deslocou a Birmingham para defrontar o Aston Villa. Esta foi a equipa mais nova de sempre dos reds numa partida oficial, com uma média de 19 anos e meio e um treinador diferente do principal (Neil Critchley, adjunto). Esta foi a equipa que não fugiu a uma espécie de “degola dos inocentes” frente a um adversário que não perdeu a oportunidade para ir com tudo e garantir uma vaga nas meias da competição.

Jorge Jesus e um pé frio que aqueceu com o calor do Brasil (ou como o Flamengo chegou à final do Mundial de Clubes)

Ao intervalo, os visitados já ganhavam por 4-0 com golos de Hourihane, Boyes (na própria baliza) e Kodjia (dois). Foi nesse período que Critchley recebeu uma chamada de Doha. Do outro lado estava Jürgen Klopp, o treinador principal. “Continuem a ser corajosos no jogo, continuem a jogar da forma como estão a jogar”, disse. Wesley Moraes, nos descontos, fechou o 5-0 final mas nem por isso a goleada mexeu com o que quer que fosse em relação à época do Liverpool que, perante o sucesso desportivo e o calendário denso, assumiu que a Taça da Liga seria uma prova para “deixar cair” por cruzar com o Mundial de Clubes. O treinador alemão que renovou recentemente até 2024 pode ter construído uma verdadeira máquina mas aqui não conseguiu fazer milagres.

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O Mundial de Clubes, que sucedeu à Taça Intercontinental conquistada por duas ocasiões pelo FC Porto, é uma das poucas provas que o Liverpool nunca conseguiu conquistar: depois de, em 1978, Liverpool e Boca Juniors terem recusado jogar um contra o outro, os ingleses foram somando derrotas contra Flamengo (1981), Independiente (1984) e São Paulo (2005). Por isso, e como a máquina de Klopp parece agora estar de vez afinada para quebrar jejuns e marcos negativos, a prova que está a realizar em Doha era uma das prioridades da temporada a par da Premier League, depois da vitória na Liga dos Campeões. Nem por isso o alemão deixou de poupar algumas unidades habitualmente titulares na equipa. E teve mais dificuldades do que era esperado.

Sem Alexander-Arnold, Van Dijk, Wijnaldum, Firmino ou Mané (Fabinho, lesionado, não conta para esta prova), e com Milner e Henderson na defesa, o Liverpool entrou de forma dominante e demorou pouco mais de dez minutos a mostrar que muitas vezes os nomes podem não ser os mesmos mas as dinâmicas estão assimiladas por todos: Mo Salah recebeu bem de costas para a baliza, temporizou, viu a diagonal de Naby Keita a aparecer nas costas da defesa do Monterrey e fez a assistência para o 1-0 (12′). Pelas características que o jogo assumia e pela forma como foi desenvolvido o lance do golo inaugural, ainda houve uma ilusão de ótica de que poderia ser um passeio mas não demorou até essa visão transformar-se em miragem perante a reação forte dos mexicanos.

No seguimento de uma insistência após bola parada, o Monterrey conseguiu chegar ao empate através de Funes Mori, avançado que passou pelo Benfica (com poucas oportunidades curiosamente do técnico Jorge Jesus), que aproveitou um ressalto para desviar para a baliza de Alisson (14′). Voltava tudo à estaca zero mas com estados anímicos bem diferentes do arranque do encontro, com os mexicanos a conseguirem estabilizar o seu processo defensivo e a terem até duas das melhores oportunidades até ao intervalo com remates de Pabón (27′ e 38′) entre lances na área de Milner e Naby Keita que poderiam ter outra finalização para o Liverpool.

A segunda parte começou com as mesmas características e Pabón a ser um perigo constante para a baliza dos reds, com dois remates perigosos que voltaram a ser travados da melhor forma por Alisson. No entanto, há uma grande diferença entre o Liverpool e quase todas as equipas do mundo na atualidade: com mais ou menos dificuldades, com maior ou menor inspiração, Klopp montou uma máquina com fiabilidade germânica e pontualidade britânica que nunca se atemorizou com o passar dos minutos e que, já com Alexander-Arnold, Mané e Firmino em campo, chegou à vantagem em período de descontos com um desvio oportuno do avançado brasileiro na pequena área, após jogada de Salah com cruzamento rasteiro de Alexander-Arnold (90+1′).

Desta forma, o Liverpool marcou presença no encontro decisivo do Mundial de Clubes, defrontando no próximo sábado (17h30) o Flamengo numa reedição da final da Taça Intercontinental de 1981 ganha pelos brasileiros (3-0). E se Klopp montou a tal máquina do tempo, Jesus vai desafiá-la para manter o seu espaço naquele que o próprio treinador português já assumiu ser o encontro mais importante da sua carreira de três décadas.