Diamantino e Miguel, dois amigos que se reencontraram em Macau 20 anos depois, não estão de acordo sobre a vinda do Presidente chinês: para o primeiro é um ditador, para o segundo, é “amigo” de Portugal.

“É uma pessoa que não me diz absolutamente nada, acho que é um ditador”, diz à Lusa Diamantino Carvalho, sobre a chegada hoje do Presidente chinês, Xi Jinping, a Macau para as cerimónias de tomada de posse do novo Governo e celebração do 20.º aniversário da transferência de administração do território de Portugal para a China.

Já Miguel Canuto é da opinião que Xi “está a fazer a China levantar a cabeça” e “investiu em Portugal, como nenhum país da União Europeia investiu”. Sentado numa mesa da esplanada do Caravela, restaurante “bastião” da comunidade portuguesa local, a tomar uma bica, a poucos metros da escola Portuguesa de Macau e do Clube Militar, Diamantino Carvalho não vinha a Macau há quase 20 anos.

Durante a gestão portuguesa, “vim para cá com uma determinada missão, quando ela terminou, regressei”, conta, explicando que agora regressou para visitar amigos. “Acho que lhes devia isso”, afirma o residente em Leira, de 60 anos, agora reformado, que veio para Macau em 1998 para trabalhar na Polícia Judiciária.

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“Saí exatamente daqui no dia 21 de dezembro de 1999”, precisa, acrescentando sorridente: “Ainda cá fiquei um dia sob administração chinesa”. Foi precisamente no tempo que trabalhou no território, na altura administrado por Portugal, que conheceu o amigo Miguel Canuto, português de 55 anos nascido em Timor-Leste, que veio trabalhar para Macau em 1996 para a direção de Serviços de Justiça e que por cá ficou até aos dias de hoje.

Talvez por isso, os dois, que frequentaram o Colégio Militar em Lisboa, nutram sentimentos antagónicos sobre a vinda de Xi a Macau.Para o leiriense a vinda passa-lhe “completamente” ao lado, já para Miguel, “o cidadão do mundo português”, o sentimento de pertença a Macau e à China é mais evidente: “óbvio que vou comemorar, vou comemorar com amigos e também tenho família chinesa”.

“Vi como foi a transição, o pós-transição e o atual momento. A transição foi bem feita e a República Popular da China tratou muito bem Portugal, tratou-nos de igual para igual”, conta Miguel Canuto, admitido que as coisas mudaram muito em Macau, durante o tempo em que Diamantino esteve ausente. “As coisas mudaram com a liberalização do jogo, a economia está melhor”, afirma, referindo como o único fator negativo o elevado preço das rendas, numa cidade com pouco mais de 30 quilómetros quadrados e mais de 650 mil habitantes. Momentos antes, Diamantino já tinha assumido que após 20 anos “as diferenças são abismais”. “Havia 11 casinos, agora já há quase quarenta”, sublinha o leiriense.

A chegada do Presidente da China a Macau está a ser marcada por fortes medidas de segurança, algo que Miguel Canuto compreende e aceita quase de forma plena. “Um homem poderoso como é o senhor Presidente da China quando visita uma cidade, a segurança é igual como se fosse o senhor Putin, Presidente da Rússia, ou o senhor Trump, Presidente dos Estados Unidos. Homens poderosos requerem muito mais segurança, portanto é normal o que está a acontecer”, afirmou.

Residente em Macau há mais de 23 anos, admite ainda que deseja ver com os próprios olhos “o senhor Presidente” da China, por quem nutre um grande respeito: “o Presidente da China é uma pessoa extremamente inteligente (…) preparou-se muito bem, não é apenas mais um Presidente da China, é o Presidente da China”, frisa, acentuado o artigo.

No programa da visita de Xi Jinping divulgado pelas autoridades ao início da noite de terça-feira, indica-se que para além da reunião com o atual chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), Fernando Chui Sai On, o líder chinês recebe no dia seguinte os titulares dos principais cargos do Governo e individualidades de vários setores da sociedade.

Na manhã de sexta-feira, o Presidente assistirá à cerimónia comemorativa do 20.º aniversário da RAEM e tomada da posse do V Governo de Macau, que será liderado pelo ex-presidente da Assembleia Legislativa Ho Iat Seng. Posteriormente, estão previstos no programa oficial encontros com os novos responsáveis do Executivo, do poder legislativo e do judicial, deixando Macau, nesse mesmo dia.

Esta é a terceira visita do Presidente chinês a Macau, para a qual estão registados mais de 650 profissionais da comunicação social, marcada por medidas de segurança excecionais.