O Conselho Geral Independente (CGI) da RTP — órgão criado em 2014 para diminuir o risco de governamentalização do canal público — manifesta “profunda preocupação” com a situação atual da estação televisiva, que levou a Direção de Informação a pôr o seu lugar à disposição.
“O CGI considera que o trabalho desenvolvido pela Direção de Informação correspondeu às linhas de orientação estratégicas que, a seu tempo, o CGI definiu para o serviço público de informação televisiva. Ao longo de 2019, a informação da RTP distinguiu-se pela independência, equilíbrio e neutralidade informativa”, lê-se no comunicado enviado esta quarta-feira às redações.
A reação do CGI surge na sequência da saída de Maria Flor Pedroso da Direção de Informação da estação televisiva. Em comunicado, o Conselho de Administração da RTP disse que “face aos danos reputacionais causados à RTP, não tem condições para a prossecução de um trabalho sério, respeitado e construtivo, como sempre tem feito”. Na origem da polémica, estão as acusações da alegada interferência de Maria Flor Pedroso no programa “Sexta às Nove”.
Agora, o CGI diz que não lhe compete, nos termos da Lei da Televisão, pronunciar-se sobre “matérias que envolvam autonomia e responsabilidade editorial pela informação”, competência que “pertence, direta e exclusivamente, ao diretor de informação”, mas que lhe cabe assegurar que a RTP “se adequa, com rigor, às linhas de orientação estratégica que definiu”, ou seja, que tenha uma informação “independente de todo o tipo de poderes”, “tendo como base critérios editoriais rigorosos e eticamente irrepreensíveis, sem concessões ao populismo mediático”.
“O CGI espera que o Conselho de Administração possa propor, com celeridade e no interesse da empresa, uma nova Direção de Informação que mantenha, no essencial, a orientação que a anterior Direção vinha a seguir, a qual correspondeu ao modelo de serviço público definido pela Lei da Televisão”, lê-se no comunicado.
O órgão considera ainda “desejável” que a nova direção de informação estruture “os mecanismos internos que garantam unidade e coerência da estrutura de informação e evitem situações fortemente lesivas da RTP, como as que recentemente tiveram lugar”.
Em causa estão as acusações feitas por Sandra Felgueiras a Maria Flor Pedroso: a jornalista acusou a diretora de informação de ter atrasado o programa “Sexta às 9”, que incidia sobre a prospeção de lítio em Portugal, para depois das eleições legislativas, quando já tinha sido anunciado para 13 de setembro. Mais tarde, a jornalista voltou a acusar Maria Flor Pedroso de ter tentado interferir numa investigação a uma escola onde Flor Pedroso já tinha dado aulas.