Depois da Libertadores, depois do Brasileirão, faltava o Mundial de Clubes. O caráter improvável de todo o percurso de Jorge Jesus desde que chegou ao Brasil — desde a vitória nacional depois de ter sido muito criticado durante os primeiros meses passando pela conquista continental que escapava ao clube há quase 40 anos e foi garantida em formato remontada — permitia pensar que era possível ganhar ao Liverpool no Qatar. Afinal, todos lhe tinham antecipado o fracasso no Flamengo; todos lhe tinham antecipado o fracasso na final com o River Plate quando começou a perder; e todos lhe antecipavam o fracasso contra os ingleses campeões da Europa.

Sim, desta vez perdeu. Mas Jorge Jesus ainda era eleito Presidente (a crónica da final do Mundial de Clubes)

Desta vez, porém, o pessimismo venceu. O Flamengo de Jorge Jesus perdeu a final do Mundial de Clubes já no prolongamento, graças a um golo tardio e solitário de Roberto Firmino, e concedeu ao Liverpool a vingança depois de os brasileiros de Zico terem derrotado os ingleses de Dalglish na Intercontinental de 1981. A equipa do treinador português foi globalmente melhor, esteve perto de marcar, asfixiou e anulou um ataque que é interpretado como o melhor do mundo mas nada disso foi suficiente. Este sábado, no Qatar, Jorge Jesus conheceu o sabor da derrota. Um sabor que só conheceu quatro vezes desde que se mudou para o Rio de Janeiro.

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No relvado do estádio de Doha, em declarações à RTP3 e ainda antes de receber a medalha de finalista vencido, Jorge Jesus lembrou que o Flamengo voltou a fazer “um grande jogo”. “Jogámos contra a melhor equipa do mundo mas aqui não se notou quem foi a melhor. Sofremos o golo num contra golpe, estávamos preparados para isso. Fomos mexendo com o jogo porque alguns jogadores apresentavam alguma fadiga, era importante termos um corredores com mais velocidade. Tirámos dois jogadores que são importantes com bola mas que já não conseguiam. Tentámos mudar tudo, fizemos tudo, tivemos a última chance do Lincoln, não tenho nada a dizer desta equipa”, defendeu o treinador, que vai condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique pelo Presidente da República.

“Tenho um grande orgulho em ser treinador destes jogadores, tenho um grande orgulho por ter montado uma equipa com muita qualidade. Nós hoje [sábado] jogámos com o campeão da Champions, contra a equipa que é considerada a melhor do mundo. Mas no jogo foram duas equipas com o nível mais alto do mundo”, concluiu Jesus. “Foi a melhor época da minha carreira, hoje teria sido a cereja no topo do bolo… Ganhar Libertadores, Brasileirão e Mundial de Clubes… Era tudo o que poderia imaginar, mas era quase impossível. Estou muito orgulhoso de trabalhar com estes jogadores e com a opção de vir trabalhar no Brasil. Hoje saio daqui muito mais treinador, muito mais reconhecido graças aos jogadores do Flamengo”, disse.

Com a final do Mundial de Clubes, Jorge Jesus termina a temporada no Flamengo enquanto campeão carioca, campeão brasileiro e campeão continental. Foi o primeiro português a conquistar os três troféus e seria também o primeiro português a vencer o Mundial. Ainda assim, já nada apaga a histórica época do treinador: que agora pode olhar em volta e decidir se vai permanecer no Flamengo ou optar por voltar à Europa para se aventurar numa das principais ligas. Algo que o próprio comentou esta sexta-feira, na antevisão da final, onde garantiu que só sai do Brasil para um de cinco clubes.

“Há vários anos que sei muito bem o que quero. Eu abro a minha mão e tenho cinco dedos. Se não forem esses clubes escusam de me procurar, que eu não vou. O mais importante para mim é ganhar no Flamengo para daqui a um ano podermos dizer que o Flamengo é dos maiores clubes do mundo”, explicou Jorge Jesus.