As sanções norte-americanas contra empresas associadas à construção do gasoduto russo Nord Stream 2, promulgadas esta sexta-feira pelo presidente Donald Trump, impedem os restantes países de desenvolver a respetiva economia, denunciou este sábado a porta-voz da diplomacia russa.

“Um Estado com uma dívida pública de 22 mil milhões de dólares proíbe países solventes de desenvolver a sua economia real”, disse Maria Zakharova na sua página no Facebook, denunciando que “a ideologia norte-americana não suporta a concorrência global”. “Em breve, pedirão que paremos de respirar”, acrescentou.

O gasoduto, que já está construído em mais de 80%, permitirá a Moscovo duplicar as entregas de gás natural russo na Europa, em especial na Alemanha, passando sob o Mar Báltico, contornando a Ucrânia.

O Presidente dos Estados Unidos promulgou, na sexta-feira, uma lei que impõe sanções aos investidores estrangeiros do gasoduto Nord Stream-2, projeto que pretende transportar gás natural da Rússia para a Alemanha e que está envolvido numa disputa económica e geopolítica. O Governo de Donald Trump justificou que o gasoduto Nord Stream-2 aumentará a dependência do gás russo por parte dos europeus, e desta forma fortalece a influência de Moscovo no continente.

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A administração norte-americana terá 60 dias para identificar as empresas e os investidores estrangeiros envolvidos no gasoduto, revogar os respetivos vistos norte-americanos e congelar os respetivos ativos. Como primeira consequência desta decisão norte-americana, a empresa suíça Allseas, dona da maior embarcação de oleodutos do mundo, contratada pela gigante russa Gazprom para construir uma secção do oleoduto, anunciou hoje a suspensão das obras.

A empresa disse que está a aguardar “esclarecimentos regulatórios, técnicos e ambientais das autoridades competentes dos EUA”.

Embora o gasoduto seja propriedade do fornecedor russo de gás Gazprom, metade do investimento canalizado para o projeto, cerca de oito mil milhões de euros, é assegurado por cinco empresas europeias das áreas da energia e dos produtos químicos, como é o caso da alemã BASF, da anglo-holandesa Shell e da francesa ENGIE.

O gasoduto Nord Stream-2 começa na Rússia e passa por áreas marítimas da Finlândia, Suécia, Dinamarca e da Alemanha, antes de alcançar a costa alemã.

O plano é transportar gás natural diretamente da Rússia para a Europa, num trajeto de cerca de 1.200 quilómetros. O Nord Stream-2 terá a capacidade para transportar 55 mil milhões de metros cúbicos de gás natural por ano.

O projeto do gasoduto tem sido alvo de críticas por parte da administração Trump, que quer exportar o seu gás natural liquefeito (gás natural em estado líquido) para a Europa, e de vários países europeus, que argumentam que o Nord Stream-2 vai aumentar a dependência da Europa da Rússia ao nível do fornecimento de energia.

Também a Ucrânia tem alertado para as repercussões, nomeadamente geopolíticas e económicas, do gasoduto Nord Stream-2. O projeto contorna o território ucraniano, o que significa que Kiev ficará privada de uma fonte financeira substancial e que perderá poder de influência face a Moscovo.