Quando morreu, de velhice, aos 87 anos, em janeiro de 2008, Marcial Maciel Degollado, o mexicano que em 1941 fundou a ultra-conservadora Legião de Cristo, já tinha sido afastado do sacerdócio há dois anos. Ainda assim, e apesar de o papa Bento XVI ter finalmente reprovado publicamente o ex-padre pelos crimes de abuso sexual que cometeu — crimes esses que seriam ocultados pela Igreja Católica pelo menos desde 1943, sabe-se hoje —, Marcial Maciel nunca chegou a ser julgado. Um relatório divulgado este sábado pela congregação católica revela: não foi o único sacerdote da Legião de Cristo a ficar impune do mesmo crime.

Desde 1941, 33 padres terão abusado sexualmente de pelo menos 175 menores — seis dos sacerdotes morreram sem serem julgados, um foi condenado e outro, a quem já foi retirado o “estatuto clerical”, está neste momento a aguardar julgamento. “Provavelmente há mais casos de abuso do que aqueles que constam do relatório, pelo que as estatísticas terão de ser atualizadas regularmente”, admitem os investigadores no corpo do próprio documento, de 25 páginas. O fundador da Legião de Cristo, Marcial Marciel, é acusado de ter abusado de nada menos do que 60 rapazes menores de idade.

Num universo de 1.353 padres, são 33 os sacerdotes a quem são imputados estes crimes — o que significa que 2,44% do corpo clerical da Legião de Cristo abusou sexualmente de crianças, pelo menos uma vez. A investigação, levada a cabo por representantes de vários departamentos da congregação, que investigaram a informação já publicada sobre o assunto, contactaram 13 vítimas que nunca antes tinham falado sobre o assunto, e entrevistaram 40 membros da Legião de Cristo, trabalha sobretudo de forma estatística o abuso sexual de menores pelos seus padres.

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Dentro do universo dos 33 padres abusadores, o relatório revela que 18 ainda fazem parte da congregação, mas já foram afastados de funções de contacto com o público ou crianças; e que 14 já tinham sido eles próprios vítimas de abuso, também dentro da Legião de Cristo.

Em 2002, quando surgiram as primeiras acusações contra si, Marcial Maciel recusou-as liminarmente: “Nunca tive esse tipo de comportamento repulsivo de que esses homens me acusam”. O papa João Paulo II terá acreditado nele — ou, pelo menos, não tomou medidas para averiguar e investigar o que realmente se teria passado, o que resultou naquela que é, para muitos, a mais indelével mancha do seu papado.

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