O diretor-geral da BBC, cadeia de rádio e televisão pública britânica, rejeita todas as acusações que têm surgido nos últimos dias de parcialidade e enviesamento durante a cobertura noticiosa da campanha eleitoral que culminou na maioria absoluta do conservador Boris Johnson.
Numa primeira resposta à polémica, através de uma nota enviada ao The Telegraph, Lord Hall afirma que a cadeia britânica tem a confiança da população e que o facto de a cobertura eleitoral ter provocado a ira tanto de conservadores como de trabalhistas prova precisamente a imparcialidade da BBC. Para o diretor-geral, a televisão estatal britânica continua a ser “a inveja do mundo”.
Num artigo em nome próprio assinado no Telegraph, Lord Hall defende-se das acusações com números: o facto de cerca de 27 milhões de pessoas em todo o Reino Unido recorrerem ao site da BBC para se informarem dos resultados das eleições prova, na sua opinião, que a BBC é o sítio que as pessoas mais “confiam” para aceder à informação.
“Claro que somos criticados e recebemos críticas sobre a nossa cobertura eleitoral. Mas isso é o que se espera de uma cadeia noticiosa de cariz nacional. Onde pudermos melhorar, e onde precisarmos de melhorar, nós melhoramos. Mas só o facto de as críticas terem surgido de todos os lados políticos mostra que estamos a fazer o nosso trabalho sem medo ou favor“, escreveu.
Uma posição que, no entanto, contrasta com declarações anteriores do diretor de informação da BBC, Fran Unsworth, que disse no início do mês (as eleições foram dia 12) que não subscreve totalmente o ponto de vista de que “se recebemos queixas de ambos os lados, estamos a fazer algo bem”.
Durante a campanha eleitoral que reafirmou a liderança de Boris Johnson, os conservadores pediram mesmo uma revisão interna da imparcialidade do canal, ameaçando boicotar o programa Today, da Rádio 4, onde foi transmitido um “monólogo” de um jornalista a destruir a recusa de Boris Johnson em conceder-lhe uma entrevista. O ataque do jornalista chegou mesmo a ser criticado pelo anterior diretor-geral da BBC, Lord Grade, por entender que é errado usar “táticas de humilhação” para forçar o primeiro-ministro a responder a entrevistas.
Mas não são só os conservadores que se queixam. Também os trabalhistas se queixaram do tratamento enviesado da BBC em relação a Jeremy Corbyn, identificando por exemplo o caso em que o jornalista Alex Forsyth se referiu à maioria absoluta de Boris Johnson como algo que o primeiro-ministro “merecia”. Fontes da BBC, no entanto, justificaram esse caso como tendo sido um lapso de língua.
Num período de duas semanas de campanha eleitoral, a BBC recebeu 24.435 queixas de enviesamento e parcialidade. Só o especial sobre “Perguntas aos Líderes” desencadeou mais de 4.400 queixas, muitas delas relacionadas com a forma como os conservadores foram tratados.
Na sequência das queixas, o governo de Boris Johnson equacionou a hipótese de rever a contribuição que os contribuintes britânicos pagam à BBC: “Acho que o sistema de financiamento assente num imposto merece reflexão”, disse o primeiro-ministro.
No artigo escrito para o Telegraph, contudo, Lord Hall desvalorizou esse debate. “Há sempre debate sobre a forma como a BBC é financiada, e o futuro da BBC. É uma instituição nacional importante e toda a gente se importa com ela. Mas uma coisa é certa: este país é a inveja do mundo e a BBC está no coração desse ecossistema”, escreveu.