Esta segunda-feira, a arquiteta Cátia Meirinhos, da empresa municipal Go Porto, explicou com detalhe as razões do atraso nas obras de requalificação do Bolhão, garantindo que os trabalhos estão a decorrer e nunca estiveram parados.

“Foram verificadas ao longo da empreitada algumas alterações a nível do solo, questões geotécnicas da morfologia do terreno, diferentes do que inicialmente tínhamos conhecimento, o que obrigou ao desenvolvimento de novas sondagens geológicas e novos estudos para reavaliar o terreno”, começou por dizer aos vereadores na última reunião de câmara deste ano. Foi desta forma que se chegou à conclusão de apresentar uma solução alternativa que “permitisse minimizar o impacto e os atrasos”.

Tal como tinha explicado o presidente da câmara do Porto, na passada sexta-feira, o atraso deve-se a uma “dupla circunstância — solo diferente e ainda mais instalável e galerias mais degradadas”, aconselhando, por razões de segurança, uma abordagem diferente quanto ao método construtivo” na contenção e construção da cave.

“Em primeiro lugar porque, apesar do desvio do curso da água, os níveis freáticos do terreno continuam a ser mais elevados do que aquilo que se pensou ser tecnicamente possível. Por outro lado, concomitantemente, verificou-se que o estado de degradação das galerias superiores era, afinal bastante mais grave do que era possível apurar a partir dos estudos preliminares”, disse na conferência de imprensa da passada sexta-feira.

A CDU, pela voz de Vítor Vieira, mostrou preocupação relativamente ao nível freático superior ao esperado e que efeitos poderá esse cenário ter na envolvente. “Acho que não há motivos de alarme. O nível freático que estamos a falar condiciona os trabalhos planeados, não significa que vá agravar as condições da envolvente, tem a ver apenas com o método de execução previsto”, justificou a arquiteta da Go Porto.

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Também nas galerias superiores se notou “inúmeras patologias” que se prendem essencialmente com o estado das armaduras, bastante deterioradas e degradadas, o que também foi alvo de uma mudança do método construtivo. “Teve de ser desenvolvido um projeto de demolição e a recuperação total das galerias, preservando a traça e o seu aspeto original.”

Uma preocupação levantada pelo socialista Manuel Pizarro, que questionou se a alteração das galerias colocaria em causa o seu valor patrimonial. “Houve um levantamento exaustivo arquitetónico das galerias, de todos os seus pormenores (…) as galerias serão reconstruidas na íntegra, o objeto vai continuar tal e qual como ele é hoje”, garantiu a arquiteta.

Já a vereadora do PS Odete Patrício quis saber o impacto financeiro da “derrapagem temporal prevista” que, segundo a arquiteta, “não atinge sequer os 3% do valor da empreitada”. “Estamos a falar de aproximadamente 600 mil euros num orçamento de 22 milhões”, respondeu Cátia Meirinhos, sublinhando que o valor inclui toda a alteração do projeto, ou seja, a construção da cave, demolição e reconstrução da galeria.

No entanto, não se sabe ainda quem irá suportar este acréscimo. “Essa é uma análise que não podemos fazer neste momento. O que foi apresentado foi a alteração à metodologia construtiva do projeto, numa fase posterior irá falar-se sobre responsabilidades, quer do dono da obra ou do empreiteiro, consoante estes estudos”, adiantou a arquiteta.

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A solução encontrada é, segundo Cátia Meirinhos, uma alternativa mais célere, apesar do atraso, e com maior facilidade de execução relativamente à que estava inicialmente prevista. Perante o novo planeamento, a data prevista de conclusão dos trabalhos é para meados de 2021.

Rui Moreira deixou claro que “o projeto, no seu âmago, finalidade, resultado final, mantém-se inalterado”, não sofrendo qualquer alteração “a traça do edifício e das suas características”. O autarca reconhece, no entanto, que a obra será atrasada um ano relativamente ao previsto na adjudicação, mas sublinha que seria mais morosa caso se mantivesse o método inicialmente previsto.

Já a construção do túnel de acesso à cave, empreitada autónoma da obra de reabilitação do Mercado do Bolhão, “não sofreu, desde a sua adjudicação, qualquer atraso, pelo que o trânsito pedonal será retomado na rua da Formosa em fevereiro e a circulação automóvel reposta em setembro”, revelou o autarca que sublinhou que estes prazos foram sempre comunicados aos comerciantes.

Rui Moreira lembrou ainda a complexidade da obra, num edifício centenário que nunca recebeu qualquer intervenção de fundo, deixando claro que embora haja prazos legais e autarquia os faça cumprir, ignorar as circunstâncias “muito particulares” desta obra era ignorar as evidências históricas e a experiência em intervenções em património classificado.