O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, defendeu esta segunda-feira um reforço da aliança transatlântica e afirmou que “aliados são aliados, mesmo se por vezes volúveis ou preferindo agir sozinhos e sem pré-aviso em áreas partilhadas”.

O chefe de Estado falava perante chefes de missão, embaixadores e cônsules-gerais de Portugal acreditados junto de vários países e organizações internacionais, num momento de escalada de tensão entre o Irão e os Estados Unidos da América, após a morte do general iraniano Qassem Soleimani num ataque norte-americano em Bagdad, na sexta-feira.

“Sabemos que aliados são aliados, mesmo se por vezes volúveis ou preferindo agir sozinhos e sem pré-aviso em áreas partilhadas”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, numa cerimónia em que recebeu cumprimentos de ano novo dos diplomatas portugueses, no antigo Museu Nacional dos Coches, em Lisboa.

Distinguindo aliados de países parceiros e de Estados considerados irmãos, o Presidente da República observou que uns e outros não mudam de categoria por artifício. Mais à frente voltou a falar nestas três categorias, referindo-se ao atual contexto geopolítico, sem nunca mencionar nenhuma situação em concreto.

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“A realidade é hoje, num breve apontamento sobre a hora que vivemos, sentirmos que cada vez mais difícil é explicarmos aos nossos irmãos, aos nossos aliados ou aos nossos parceiros que não há gesto singular, brilhante ou justo que pareça ser, ou insubstituível que seja para a afirmação conjuntural dentro de portas, se não for sustentado no horizonte a prazo, que valha mais do que anos e anos a preencher lacunas, a estabelecer partilhas, a recriar estruturas indispensáveis, a consolidar alianças, a tentar pacificar sociedades e regimes”, disse.

O chefe de Estado descreveu Portugal como um país com um longo passado que sorri frequentemente “com condescendência” perante os ensinamentos de quem nasceu séculos depois, “como perante um filho ou um neto que nos vem explicar que é uma ilha que pode viver e mandar sozinha” no mundo.

“Ninguém vive bem longe da realidade. E a realidade é hoje crescentemente multipolar, ainda que com traços de monopolarismo remanescente ou esbatido, e novo bipolarismo ainda muitíssimo incipiente. A realidade é hoje antigas potências globais passarem a fortes potências regionais, novas potências globais emergirem e potências regionais consolidadas constituírem fatores de perturbação e complexificação os mais imprevistos”, acrescentou.

Entre as metas da política externa portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa destacou o contributo para “reforçar a aliança transatlântica, apesar do ano eleitoral em curso, para ultrapassar também aqui compassos de espera e indefinições” num espaço que definiu como “obviamente vital” para Portugal.

O Presidente da República salientou também a ação climática e a preparação da presidência portuguesa da União Europeia em 2021, considerando a este propósito que “África não fica nem pode ficar mero campo de disputa de protagonismos europeus de ocasião”.

No quadro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), disse que há que “garantir, dentro dos possíveis, um novo ciclo ou, no mínimo, um novo espírito”.

“Metas, ao fim e ao cabo, como as que decorrem da vivência constante do multilateralismo possível, na linha da determinada saga do secretário-geral [das Nações Unidas] António Guterres e que não negam nem minimizam avanços bilaterais nucleares. Metas que exigem economia mais forte e coesa e, por isso, temo-lo demonstrado nos últimos anos, mais apoiada na internacionalização da nossa economia, e projeção universal”, concluiu.