Era uma primeira mão da meia-final da Taça da Liga inglesa — mas só ligeiramente. Era também um jogo às oito da noite de uma terça-feira, o que em Inglaterra é para lá de tarde, mas isso pouco interessava. Era mais um de dezenas de jogos que os clubes ingleses disputam entre as últimas semanas de dezembro e as primeiras de janeiro, mas nada disso retirava interesse. Afinal, mesmo sendo uma primeira mão de uma meia-final da Taça da Liga inglesa às oito da noite de uma terça-feira num mais do que denso mês de janeiro, era um Manchester United-Manchester City. E nenhum fator exterior retira interesse ao dérbi da cidade do norte inglês.

E Solskjaer e Guardiola sabiam perfeitamente disso. Seria de esperar que, tendo em conta os múltiplos compromissos que as equipas tiveram nas últimas semanas e os que vão ter nas próximas, os dois treinadores optassem por poupar alguns dos habituais titulares na Taça da Liga. Ainda assim, e novamente, era um dérbi — e Solskjaer não abdicava de Wan-Bissaka nem de Rashford, tal como Guardiola lançava Sterling, Bernardo, Mahrez e De Bruyne no onze inicial. Pelo meio, havia espaço para dar oportunidades a David James e Mason Greenwood, do lado do United, e deixar Agüero e David Silva no banco, do lado do City.

Mason Greenwood, que tem dado nas vistas na equipa de Solskjaer, foi titular no Manchester United

Na antevisão do dérbi, Pep Guardiola reiterou uma lealdade ao Manchester City que já tinha ficado clara noutras ocasiões e recusou qualquer possibilidade de algum dia treinar o United — assim como recusou qualquer possibilidade de algum dia treinar o Real Madrid, por ter orientado o Barcelona. “Depois de estar no City, nunca vou para o United. Também nunca iria para o Real Madrid, depois do Barcelona. Preferia ir para as Maldivas, se não tivesse mais propostas. As Maldivas talvez não, que não têm campos de golfe”, brincou o treinador espanhol.

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Com Wayne Rooney, que recentemente regressou ao futebol inglês através do Derby County, nas bancadas de Old Trafford a assistir à partida, o Manchester United procurava esta terça-feira repetir a vitória do mês passado no Etihad, para a Premier League. Algo que não acontecia — vitórias consecutivas frente ao rival da mesma cidade — desde abril de 2010. O Manchester City, que tem como objetivo chegar à terceira final consecutiva da Taça da Liga, abriu pouco depois do primeiro quarto de hora uma caixa de Pandora que acabou por deitar por terra tudo aquilo que o United vinha a fazer ao longo da primeira parte.

A equipa de Solskjaer entrou com as linhas recuadas e os setores muito próximos uns dos outros, de forma a tentar manter uma consistência defensiva que permitisse evitar sofrer golos e oferecesse ao grupo a confiança necessária para avançar e chegar ao ataque. A escassez de criatividade de Fred e de Pereira — que estão longe de ser Pogba — obrigava Lingard a recuar demasiado para ir buscar jogo ao meio-campo, deixando Greenwood totalmente isolado nos últimos 30 metros e Rashford e James perdidos entre as alas e espaços mais interiores. Aos 17 minutos, quando o City ainda só tinha procurado a baliza de De Gea via transição rápida, Bernardo Silva soltou um remate perfeito de pé esquerdo de fora de área que abriu o marcador. O internacional português tornou-se assim o primeiro jogador do City, desde Agüero em 2015, a marcar consecutivamente ao Manchester United.

Sterling, que nunca marcou ao Manchester United, esteve perto de quebrar o enguiço poucos minutos depois mas desperdiçou a oportunidade (24′). Com a equipa de Solskjaer totalmente desorganizada após ficar em desvantagem, Bernardo rasgou toda a defesa dos red devils com um único passe e isolou Mahrez, que fintou De Gea e aumentou os números no marcador (33′). Até ao final da primeira parte, Pereira ainda marcou na própria baliza ao desviar uma defesa depois de um remate de De Bruyne (39′) — num lance onde o melhor foi mesmo a finta do médio belga sobre Phil Jones. Na ida para o intervalo, o Manchester United tinha sofrido três golos sem resposta em 45 minutos em Old Trafford: algo que não acontecia desde maio de 1997, há mais de 22 anos.

No regresso para a segunda parte, Matic substituiu Lingard para dar mais equilíbrio à primeira fase de construção do Manchester United. Os red devils voltaram mais cautelosos na saída de bola, quase como se o objetivo para o segundo tempo fosse não sofrer mais golos ao invés de os marcar, e raramente conseguiam quebrar o bloqueio imposto pela muito adiantada linha inicial do City. Ainda assim, e na única vez que conseguiram aproveitar um erro de transição da equipa de Guardiola, o United acabou por conseguir reduzir a desvantagem por intermédio de Rashford, que marcou à saída de Claudio Bravo depois de um passo de Greenwood (70′).

Gabriel Jesus e Martial ainda entraram mas o resultado ficou fechado nos 1-3 a favor do Manchester City. Com a segunda mão da meia-final a ser disputada no final do mês no Etihad, o Manchester United olha para o golo de Rashford como a grande esperança para ainda sonhar com a remontada que permitiria a chegada à final da Taça da Liga. Até lá, numa semana em que Pep Guardiola falou nas Maldivas, foi Bernardo Silva a oferecer o paraíso ao Manchester City.