Tornou-se um momento habitual no início de todos os jogos dos Michigan State Spartans. Cassius Winston, o base de 21 anos que é a estrela da equipa universitária de basquetebol, cumprimenta todos os colegas, saúda os adeptos nas bancadas e vira-se para o cesto que vai defender. Bate a mão contra o vazio, passa-a no ombro esquerdo e dá um pequeno salto para a frente, como que à procura de um outro corpo para dar um amigável encontrão. Não está lá mais ninguém, mas Cassius parece estar a cumprimentar especialmente outra pessoa. Porque para ele, essa outra pessoa está lá.
O jogador norte-americano, candidato a saltar para a NBA a curto prazo, é o principal elemento dos Spartans e um olhar à vista desarmada poderia achar que os gestos não passam de uma de tantas superstições que os atletas colecionam. Mas o gesto é um hábito — um hábito adquirido durante a infância, durante a adolescência, durante a passagem de menino para jovem e de jovem para adulto. Era a forma como Cassius cumprimentava Zachary, o irmão mais novo que se suicidou no início de novembro do ano passado. O irmão mais novo que Cassius quer manter em cada pavilhão em que joga.
This move by Cassius Winston is a handshake he shared with his late brother, Zachary.
He now does it alone before every Michigan State game.
It's among many changes for Winston and the team since the suicide of someone the Spartans considered family.https://t.co/hG4phLXcem pic.twitter.com/cxpv8YXXfz
— Oskar Garcia (@oskargarcia) January 7, 2020
Com apenas 19 anos, Zachary Winston foi colhido por um comboio — numa tragédia que chocou o basquetebol norte-americano, tanto universitário como profissional, já que também o irmão de Cassius praticava a modalidade, na Albion College. No dia seguinte à morte de Zachary, quando ainda nem se conheciam ao certo as circunstâncias da morte, o base jogou, marcou um triplo no primeiro lançamento da partida e fechou a exibição com 17 pontos e 11 assistências antes de sair no final do segundo período. “Para ser honesto, não estava à espera de que ele jogasse. Mas toda a gente faz o seu luto de forma diferente e nós deixámos que fosse uma decisão do Cassius a 100%. Os irmãos são o mundo inteiro para ele. Nunca conheci um miúdo, ao longo de todos estes anos, que fosse tão próximo dos irmãos. O Zachary também cresceu com esta equipa, era próximo de todos os jogadores”, disse Tom Izzo, treinador da equipa, no final do jogo.

Com Tom Izzo, o treinador dos Spartans
Tom Izzo, que nesse jogo menos de 24 horas depois da morte de Zachary teve de controlar as lágrimas antes do apito inicial, tem sido o principal braço direito de Cassius Winston. Em conversa com o The New York Times, o treinador garantiu que este é “o período mais difícil” pelo qual já passou e que pediu a Cassius para lhe ligar “sempre que for preciso” — mas que, por vezes, não sabe também o que dizer porque ele próprio está a atravessar um período de luto. “Não há livro para isto. Só quero perguntar: ‘Qual é o capítulo?’. Quando perdemos, as pessoas ficam chateadas e parece que é a morte para essas pessoas e tentamos tornar os jogos como se tratasse de vida e de morte, mas não são nada disso. Mesmo algumas dessas coisas, por muito traumáticas que sejam, não são vida e morte. E isto, o que torna tudo isto diferente, é que se trata de vida e morte”, explicou Tom Izzo, acrescentando ainda que por vezes se coíbe de festejar vitórias porque “não se sente bem a sentir-se bem”.
Desde novembro que os Spartans jogam com um emblema no equipamento onde se lê “smoothie”, a alcunha pela qual os amigos de Zachary Winston o tratavam. No passado domingo, menos de dois meses depois da morte do irmão, Cassius quebrou o máximo pessoal ao marcar 32 pontos num único jogo. No final, disse aquilo que toda a gente vê no início de todos os jogos. “Todas as memórias que tenho dele são boas memórias e isso é tudo o que posso pedir. Não existem más memórias. Não existe nenhum arrependimento. Agradeço tudo o que ele foi na minha vida, agradeço pela nossa relação e esta é a minha maneira de mostrar que ainda aqui estou, que ainda me esforço por ele e que um dia vou vê-lo outra vez. Ele está ali comigo”, confessou.