Harry e Meghan Markle chocaram o mundo quando anunciaram na quarta-feira que querem ser “financeiramente independentes”. O que isso quer dizer é, por enquanto, incerto — a rainha Isabel II, o príncipe Carlos e o duque de Cambridge já pediram aos respetivos gabinetes para encontrarem uma “solução” numa questão de “dias”. Mas antes da decisão tomada pelos duques de Sussex — um título que poderão ou não manter — já muitos membros da realeza trabalhavam. Abaixo reunimos alguns exemplos: do rei que pilotava aviões sem ninguém saber ao que vendia latas de Pepsi Cola no exílio (isto sem esquecer que tanto William como Harry já trabalharam em tempos, a pilotar aviões e enquanto membro do exército, respetivamente).
Oiça aqui o Termómetro desta quinta-feira dedicado a Harry e a Meghan Markle:
Condes de Wessex
Foi em 2002 que os condes de Wessex abandonaram os negócios a título pessoal para se tornarem membros da realeza a full-time, isto depois de serem acusados de estarem a fazer dinheiro à conta do estatuto real que detinham, uma acusação que pode remeter de igual forma para Harry e Meghan Markle que, agora, pretendem tornar-se financeiramente independentes e ainda assim apoiar a rainha Isabel II.
Eduardo, o quarto e o mais novo filho de Isabel, deteve uma produtora com o nome Arden Productions que em nove anos de existência acumulou perdas no valor de 2 milhões de libras (mais de 2 milhões de euros). A mesma que ele e a mulher optaram por abandonar em 2002 depois das muitas manchetes que questionavam a influência dos títulos reais dos donos no negócio. Quando foi liquidada, em 2009, a empresa tinha ativos no valor de apenas 40 libras (cerca de 47 euros). Eduardo foi ainda acusado de abusar da sua posição ao fazer vários programas sobre a família real, tal como a contou o The Telegraph.
Anos antes, em 1993, aquando do lançamento da produtora, o conde de Wessex argumentou que esta tornar-se-ia numa das produtoras líderes no país. Com o tempo a empresa seria duramente criticada, sobretudo pelo The Guardian, que afirmou que a Ardent Productions se tornara motivo de riso na indústria: “Poucos ficaram surpreendidos quando o príncipe Eduardo anunciou que a sua carreira na televisão tinha acabado. O único mistério foi como é que ela durou tanto tempo”.
Princesas Beatrice e Eugenie do Reino Unido
Apesar dos laços familiares que as ligam à rainha Isabel II, as princesas Beatrice e Eugenie não recebem dinheiro do Fundo de Soberania (fundo do governo que financia os deveres oficiais da rainha). Ao contrário de Harry e William, as irmãs trabalham há já vários anos. Tanto Eugenie como Beatrice não têm de comparecer nos muitos eventos oficiais em nome da monarquia britânica, pelo que desde 2011 que não têm segurança a full-time — uma das coisas que os duques de Sussex correm o risco de perder.
Beatrice, que se licenciou em História na Universidade de Goldsmith, em Londres, trabalha na área das finanças e da consultoria. Atualmente ocupa o cargo de Vice-Presidente de Parcerias e Estratégias na Afiniti, especializada em inteligência artificial — em novembro, a princesa participou em mais uma edição da WebSummit, em Lisboa. Antes, Beatrice trabalhou durante cinco anos para a empresa de investimento Sandbridge Capital. Atualmente, é patrona de diferentes empresas sem fins lucrativos.
Já Eugenie trabalha na galeria de arte londrina Hauser & Wirth enquanto diretora associada. Parte do trabalho é apoiar os artistas da galeria e organizar eventos. Apesar da dedicação ao universo da arte, a princesa também desempenha algumas atividades reais, ainda que essa não seja a sua ocupação a tempo inteiro, ao contrário do que era esperado, por exemplo, de Meghan Markle. Eugenie ingressou na Universidade de Newcastle para estudar Inglês, História de Arte e Política.
Tanto ela como a irmã mais nova recebem dinheiro do pai, o príncipe André, o mesmo que nos últimos meses foi afastado dos deveres oficiais enquanto membro da monarquia britânica na sequência de uma desastrosa entrevista sobre a relação deste com o milionário já falecido Jeffrey Epstein.
Zara Tindall e Peter Phillips, Reino Unido
Zara Tindall, prima de Harry e a filha mais nova da princesa Ana, é financeiramente independente e não tem quaisquer obrigações do foro real. Tão pouco vive numa residência oficial da monarquia britânica — coisa que, até ver, não se aplica aos duques de Sussex, cuja informação veiculada na página oficial recentemente criada assegura que Harry e Meghan ficarão na Frogmore Cottage, em Windsor, nas temporadas que passarão no Reino Unido. Zara conseguiu criar o seu próprio percurso profissional, o qual tem vários momentos de glória: incluindo a medalha de prata que venceu nos Jogos Olímpicos de 2012 quando representou a Federação Equestre Britânica — certamente para orgulho da avó, Isabel II, que tem grande apreço pelo hipismo. Recentemente foi noticiado que Zara conseguiu o cargo não executivo de diretora no Hipódromo de Cheltenham.
Peter Phillips, o irmão de Zara e o neto mais velho de Isabel, também não corresponde ao que a imprensa britânica designa de “working royal”. Ao longo da sua vida — Peter tem 42 anos feitos em novembro — já ocupou diferentes cargos, incluindo 11 anos na Fórmula 1 e posições no Royal Bank of Scotland. Desde 2012 que tem a sua própria agência de entretenimento e desporto sediada em Londres, especializada em consultoria de eventos.
Princesa Marta Luísa da Noruega
Antes de ser notícia pelo suicídio do ex-marido, estava 2019 a acabar, a princesa da Noruega comunicou que ia deixar de usar o título real em futuros projetos profissionais. A decisão surgiu depois de a princesa ter sido criticada por usar o título real em seminários que apresentou com o namorado, o xamã Durek Verret. Os workshops, escreveu então a revista Hello, chamavam-se “A Princesa e o Xamã” e pretendiam ser uma viagem de “auto-descoberta”.
Marta Luísa optou por criar uma conta separada de Instagram onde atualmente publicita o seu trabalho — o último post é, no entanto, uma homenagem ao ex-marido com quem esteve casada entre 2002 e 2017. A princesa da Noruega acabaria por admitir o “erro”, ainda que não fosse incomum trabalhar com alguma liberdade, coisa que faz desde 2002. Marta estudou fisioterapia, apesar de nunca ter exercido essa profissão, escreveu livros infantis e chegou a apresentar uma programa de televisão para crianças. É uma figura controversa na monarquia, já que recentemente encerrou, devido a problemas financeiros, uma escola que fundara 11 anos antes: a Astarte Education pretendia ensinar os seus alunos a comunicar com anjos…
Príncipe Nikolai da Dinamarca
Nikolai, o filho mais velho do príncipe Joaquim e da princesa Alexandra, tem trabalhado enquanto modelo e até já desfilou para marcas conhecidas, Dior Homme incluída. O jovem príncipe, de 21 anos, é o sétimo na linha de sucessão ao trono da Dinamarca e, por isso, não tem direito a receber dinheiro da avó, a rainha Margarida II, que está no trono desde 1972.
Rei Guilherme Alexandre dos Países Baixos
Rei dos Países Baixos desde 2013, admitiu em maio de 2017 que durante duas décadas foi piloto de aviões em regime part-time. Guilherme Alexandre era co-piloto de voos da KLM — companhia aérea dos Países Baixos com sede na cidade de Amstelveen — duas vezes por mês, admitindo que era um hobby “relaxante“. O segundo trabalho foi sempre realizado em simultâneo com os deveres reais.
#King Willem-Alexander of the #Netherlands has surprised #passengers on a scheduled #flight to #Turkey by turning up as the plane's #co-pilot. #airplane #KLM https://t.co/s0WtSeeeUX
— Aviomanix (@aviomanix) November 28, 2018
Rei Emmanuel Bushayija, Ruanda
O pai de dois foi proclamado rei de Ruanda em 2017, três meses após a morte do anterior monarca, o seu tio. Antes, Emmanuel Bushayija trabalhou como vendedor para a Pepsi Cola. Desde 2000 que vivia no Reino Unido, embora tenha crescido em exílio no Uganda, onde trabalhou para a empresa de refrigerantes em Kampala. Segundo um artigo de dezembro de 2017, publicado no The Sun, Emmanuel continuou a viver em Manchester mesmo depois de ter sido proclamado rei — toda a família real daquele país foi exilada na década de 1960 quando Ruanda tornou-se numa república.
Ao The Sunday Times, Emmanuel chegou a declarar: “Sou um grande fã da rainha britânica. Devo ser o único dos seus súbditos que também é um rei”.
Emmanuel Bushayija became king-in-exile of a country of almost 12m people: “I’m a big fan of the British Queen. I must be the only one of her subjects who is also a king” https://t.co/Mp5V6dlSrv
— The Sunday Times (@thesundaytimes) December 4, 2017