Ernesto Valverde nunca foi um treinador propriamente querido dos adeptos do Barcelona. E muito disso deveu-se não a resultados desportivos mas ao facto de o espanhol ter sucedido a uma série de técnicos que consigo traziam não só experiência como carisma. Uma espécie de charme natural que acabava por acalmar os ânimos mesmo quando as coisas não corriam pelo melhor dentro de campo. Guardiola sucedeu a Rijkaard, Tito Vilanova conquistou um lugar no coração dos adeptos catalães, Tata Martino trazia o sangue quente argentino e Luis Enrique aliou o extraordinário sucesso à clara empatia.

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Valverde, de forma totalmente inocente e muito pessoal, não conseguiu levar consigo nada disso. Manteve-se — e, até prova em contrário, mantém-se — frio, distante, como se o Barcelona tivesse um treinador que guarda os sentimentos para si e que tem receio de se identificar com os milhares que enchem as bancadas. Tudo isto, apesar e para além das duas ligas espanholas conquistadas nos últimos dois anos, era provavelmente perdoável se Valverde tivesse alcançado aquilo que desde 2015 escapa aos catalães: a Liga dos Campeões.

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Mas a verdade é que a Europa afastou ainda mais os adeptos e a opinião pública do treinador espanhol. As duas últimas eliminações, ambas em formato reviravolta — primeiro com a Roma, depois com o Liverpool –, tornaram difícil manter a confiança numa equipa que parece não saber lidar com a vantagem quando a tem de defender. E esta quinta-feira, perante o Atl. Madrid na Supertaça espanhola, o enguiço de Valverde voltou a aparecer. O Barcelona esteve a ganhar, estava totalmente por cima do jogo mas permitiu a remontada da equipa de Simeone, que se apurou assim para a final da competição, onde vai encontrar o Real Madrid.

Ernesto Valverde nunca conseguiu conquistar a simpatia dos adeptos

“Temos de tentar continuar a jogar tão bem quanto jogámos hoje [quinta-feira] durante o resto do ano, mas temos de garantir que não cometemos erros infantis como estes. Controlámos o jogo durante cerca de 80 minutos, jogámos a um ritmo alto, atacámos o tempo todo e criámos muitas oportunidades. Mas nos últimos dez minutos deixámos fugir um jogo que tínhamos totalmente sob controlo”, disse Messi no final da derrota perante o Atl. Madrid, em declarações que pareceram deixar Ernesto Valverde, desde logo, desprotegido. Esta sexta-feira, apenas horas após a eliminação da Supertaça, a comunicação social espanhola avança que não foi apenas o argentino a retirar toda a confiança ao treinador.

De acordo com a RAC1, uma estação de rádio espanhola, Eric Abidal e Òscar Grau, diretor desportivo e CEO do Barcelona, reuniram durante a manhã com Xavi, histórico do clube e atual treinador do Al-Sadd do Qatar. Os dirigentes catalães aproveitaram o facto de estarem naquela região, já que a Supertaça espanhola está a ser disputada na Arábia Saudita, para se deslocarem a Doha para averiguar a disponibilidade do antigo jogador para assumir o comando técnico do clube. A confirmar-se, este golpe de teatro na Catalunha significaria o regresso de Xavi a Camp Nou: o antigo internacional espanhol representou o Barcelona durante 17 anos, até 2015, ano em que rumou ao Qatar para jogar pelo Al-Sadd. Depois de terminar a carreira, em maio do ano passado, começou a carreira de treinador no clube qatari, onde conquistou a Supertaça e disputou o Mundial de Clubes.