As contas maiores foram feitas logo no sábado, mas aumentando o zoom às votações das eleições no PSD é possível constatar curiosidades que também são pequenas tendências. Rui Rio teve mais sucesso na terra de Montenegro do que Montenegro na terra de Rio. O atual líder do PSD, que tantas vezes fala em alemão, perdeu na secção da Alemanha para Montenegro. Já na terra de Marcelo Rebelo de Sousa (e da sua avó Joaquina) e em Lisboa, Luís Montenegro levou a melhor, enquanto em Aveiro o espinhense perdeu mais de 100 votos em apenas quatro dias se forem tidos em conta os resultados para a concelhia no início da semana. Fora da Europa só contaram os votos nos Estados Unidos, onde houve um empate. Em Estrasburgo também empataram, mas em Bruxelas Rio ganhou.

As contas da segunda volta: um passeio no parque para Rio ou uma vitória à Soares-86?

Rio consegue quase um terço dos votos na terra de Montenegro

Apesar do apoio “unânime” declarado pela secção do PSD-Espinho a Luís Montenegro em meados de novembro, Rui Rio conseguiu obter 103 votos na concelhia onde milita o candidato à liderança, o que corresponde a 30,38%.

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Já na concelhia do Porto, onde Rio é militante, Luís Montenegro conseguiu 218 votos, ou seja, 26,23% da votação.

Luís Montenegro nas ruas de Espinho, na véspera da 1ª volta das diretas. CRÉDITOS: JOÃO PEDRO MORAIS/OBSERVADOR

Diretor de campanha de Montenegro perde eleição de delegados em Viseu

O diretor de campanha de Luís Montenegro, Pedro Alves, cumpriu o primeiro objetivo que tinha no distrito — que Montenegro ganhasse — mas perdeu na eleição paralela de delegados ao congresso. A lista do presidente da distrital obteve apenas 104 votos contra a 116 da lista de João Caiado, vice-presidente da concelhia de Viseu. Pedro Alves foi na mesma eleito delegado, mas sofreu uma derrota simbólica.

Pedro Alves, à esquerda, entrou na sala do hotel Epic Sana no último sábado com Luís Montenegro e a mulher

Rio perde na Alemanha, onde teve apenas um voto

Rui Rio é conhecido por falar alemão em várias circunstâncias, mas isso não foi suficiente para ganhar a secção de voto na Alemanha, onde só votaram seis pessoas: cinco em Luís Montenegro (83,3%), uma em Rui Rio.

Na Bélgica, cidade onde está um dos hemiciclos do Parlamento Europeu, Rui Rio teve metade dos votos da secção (8 em 16), com Luís Montenegro — que chegou a visitar o PSD/Bruxelas durante a campanha das diretas — a recolher apenas seis (Pinto Luz ficou com dois). Já em Estrasburgo, cidade onde está o outro hemiciclo europeu, houve apenas dois votos: um para Rio, outro para Montenegro.

Em Paris, uma das maiores secções no círculo Europa, Rio ganhou com 20 votos contra 17 de Luís Montenegro e dois de Miguel Pinto Luz.

Rio ganhou em outras zonas onde há comunidades portuguesas. Em Inglaterra, inverteram-se os resultados da Alemanha, com Rio a ganhar com cinco votos (83,3%) contra apenas um de Montenegro. No Luxemburgo também votaram cinco pessoas: Rio ganhou 3-2 a Montenegro. Na Suíça, houve quatro votos: dois para Rio, dois para Montenegro.

No fim das contas Rio ganhou o círculo da Europa com 40 votos contra 34 de Montenegro e 4 de Pinto Luz.

Montenegro vence na capital

Apesar de Miguel Pinto Luz ter vencido a distrital de Lisboa, na concelhia (que representa os militantes da capital), Luís Montenegro — que contava na sua candidatura com nomes como o do antigo presidente Rodrigo Gonçalves — levou a melhor com 640 votos. Rio ficou em segundo lugar com 482 votos e Pinto Luz logo atrás, com 465.

A sala onde Luís Montenegro falou aos jornalistas após saber os resultados no último sábado.

Rio rei de Portugal e dos Algarves

Rui Rio venceu a distrital do Algarve por 475 votos contra apenas 296 de Luís Montenegro. Além disso, o atual líder ganhou em 14 das 16 concelhias, tendo o espinhense vencido em apenas duas. Uma das vitórias de Montenegro foi na sede de distrito (Faro), a outra em Silves.

Rui Rio alterou o âmbito da festa do Pontal, onde já jogou futebol

Montenegro vence na terra de Marcelo (ou melhor, da avó Joaquina)

Luís Montenegro venceu o distrito de Braga, muito por culpa da votação que teve em Vila Nova de Famalicão. O apoio do presidente da câmara local, Paulo Cunha, foi essencial para a vitória obtida pelo espinhense na distrital. Montenegro venceu ainda concelhias muito importantes como Braga e Barcelos, e, simbolicamente, ganhou em Celorico de Basto com 71% dos votos (246).

Celorico de Basto não é só o sítio onde Marcelo lançou a sua candidatura à presidência, onde o atual Presidente tem uma biblioteca com o seu nome e onde nasceu a célebre avó Jaquina. Foi em Celorico, por essa ligação familiar, que Marcelo esteve no último dia de campanha das autárquicas de 1997 e foi lá que falou ao país no dia do referendo ao aborto como líder do PSD.

Marcelo Rebelo de Sousa, antigo presidente do PSD, vota no concelho de Celorico de Basto

Fora da Europa, sobraram quatro votos nos Estados Unidos

No círculo eleitoral de Fora da Europa só foram reconhecidos os resultados da secção dos Estados Unidos, onde votaram quatro pessoas. Dois votos foram para Luís Montenegro e os outros dois para Rui Rio. Nas secções de Macau e Hong Kong, como referiu ao Observador na noite eleitoral o presidente Vitório Cardoso, a eleição foi impugnada e os votos não foram contabilizados.

Em Aveiro, Montenegro teve menos votos do que os seus apoiantes quatro dias antes

Previa-se que o concelho de Aveiro fosse dividido já que as eleições para a concelhia, quatro dias antes, indiciavam que a votação estava partida ao meio. Em meados da semana, com recurso a práticas de cacique como o transporte de idosos de um lar, o resultado foi de 292 votos na lista A (que tinha apoiantes de Rui Rio) contra 253 votos da lista B (que tinha apoiantes de Montenegro).

Angariação de votos em lar de idosos e uso de meios públicos. A guerra de caciques no PSD/Aveiro a quatro dias das diretas

Ora, Rui Rio acabou com 283 votos (próximo dos 292 da lista que o apoiava), mas Luís Montenegro teve apenas 141 (o que significa que menos 112 pessoas se mobilizaram a ir votar neste sábado). Para a concelhia tinham votado 553 pessoas, para a presidência do partido votaram 429, menos 124. A maioria das que ficou em casa foi do lado dos apoiantes de Montenegro.

Votos por telefone anulados

A Jurisdição não teve contemplações: onde houve queixas, os votos não foram reconhecidos. Um dos casos aconteceu na secção de Alter do Chão, no distrito de Portalegre, como o Observador noticiou na noite eleitoral. Diogo Cúmano, diretor de campanha de Montengro naquele distrito, acusou o presidente da secção de Alter do Chão e apoiante de Rui Rio, Luís Cané, de ter introduzido na urna “três votos que lhe foram confiados por telefone”. De acordo com o diretor de campanha de Luís Montenegro, quando o seu delegado chegou ao local de voto, às 14h11, foi informado por Luís Cané e por um vereador do PSD local que já tinham votado oito pessoas, três delas por telefone e protestou.

Depois do protesto, acusou a candidatura de Montenegro na queixa enviada para a jurisdição, Luís Cané pegou na urna e pôs precocemente, logo ao início da tarde, fim à eleição. Não houve secção de voto aberta até às 20h00 e a Jurisdição anulou os votos.

Amadora com votos anulados por entrega de cartões de militante à porta

A Amadora foi onde foram registados os primeiros problemas da noite eleitoral. O antigo presidente da concelhia do PSD/Lisboa e mandatário distrital de Rui Rio na capital, Paulo Ribeiro, denunciou à Jurisdição que o regulamento das diretas foi violado por “desde o início do ato eleitoral e até pouco depois das 15h” a Mesa ter admitido que “cidadãos votassem munidos apenas e só de cartão de militante como meio de identificação.” Na mesma queixa pode ler-se que “o delegado da candidatura de Rui Rio foi impedido de acompanhar o ato eleitoral junto à mesa de voto, por o presidente da Mesa em exercício entender, num primeiro momento, que a credencial de que este se fez acompanhar, devidamente emitida através da Plataforma Informática disponibilizada às candidaturas pela Secretaria-Geral, não estar autenticada, quando não se verifica qualquer disposição regulamentar que a tal obrigue”.

Depois disso, revelou Paulo Ribeiro, “foi admitida a presença do delegado na secção de voto, mas foi obrigado a ficar a uma distância tal da Mesa de voto que o impediu de fiscalizar o ato eleitoral de forma apropriada”. A queixa de Paulo Ribeiro dizia ainda que, na Amadora, estavam a “ser entregues cartões de militante à porta da secção de voto para que os cidadãos possam votar”, o que no entender do mandatário de Rio é mais uma violação dos estatutos. A Jurisdição acabou por anular todos os votos da Amadora.