Só quem ande muito distraído é que estranhará as 11 nomeações do inenarrável “Joker” aos Óscares. É que os Óscares também têm muito a ver com dinheiro, e “Joker” fez uma bilheteira de sonho. Além disso, é o tipo de filme plebiscitado por aquele que é neste momento o grupo de espectadores mais importante para a contabilidade da indústria cinematográfica americana, os adolescentes e os “nerds” de todo o globo que babam na gravata pela constelação dos super-heróis da Marvel e da DC e toda a sua circunstância de vilões e personagens laterais. Resta saber quantas destas nomeações se traduzirão em prémios na noite da entrega.

Acompanhando “Joker” na lista dos mais nomeados, e para contrabalançar, encontramos alguns daqueles que são indubitavelmente  dos melhores filmes de 2019, como “Era Uma Vez Em… Hollywood”, “O Irlandês” (10 indicações cada), “Marriage Story” ou “Parasitas” (6 cada). Este último, como se esperava, não se ficou só pela nomeação para Melhor Filme Internacional (a novilíngua do politicamente correto já chegou aos Óscares, pois a Academia embirrou com a designação “Língua Estrangeira” e alterou-a para “Internacional”, por promover “uma visão positiva e inclusiva do ato de fazer cinema”).

Entre as curiosidades deste ano surgem as seis nomeações da comédia “Jojo Rabbit”, que tem um Hitler muito peculiar como uma das principais personagens; a dupla nomeação de Scarlett Johansson como Melhor Atriz (em “Marriage Story”) e Melhor Secundária (no referido “Jojo Rabbit”); a ausência de Robert De Niro (“O Irlandês”) na categoria de Melhor Ator; uma categoria de Actor Secundário só com pesos-pesados (Brad Pitt, Al Pacino, Sir Anthony Hopkins, Tom Hanks e Joe Pesci); a total ausência do muito “scorsesiano” “Diamante Bruto”, dos irmãos Safdie; ou a não comparência de “Frozen II: O Reino do Gelo”, da Disney, em Melhor Longa-Metragem de Animação, embora o estúdio esteja lá através da Pixar com “Toy Story 4”. A Netflix está de novo muito bem colocada na lista, com um total de 24 nomeações. Mas também o estava nos Globos de Ouro, e foi o que se viu nas categorias de cinema como nas de televisão.

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Mal as nomeações foram anunciadas, surgiram logo as ladainhas do costume pela escassez ou total ausência de mulheres e de representantes das minorias étnicas este ano (Greta Gerwig, por exemplo, viu o seu “Mulherzinhas” ter 6 indicações, incluindo para Melhor Filme, mas ficou fora de jogo em Melhor Realizador). A verdade é que nem todos os anos coincide haverem filmes bons, meritórios ou comercialmente significativos em número suficiente, assinados por mulheres ou cineastas da dita “diversidade”, ou interpretações relevantes de atores e atrizes da mesma, e que continuam a ser minoritários em termos de representação no universo da indústria e na Academia de Hollywood; nem chegámos ainda a uma situação em que estes têm que surgir nas nomeações aos Óscares quer “porque sim”, quer por terem sido estabelecidas quotas.

Já agora: um dos nomeados em Melhor Curta-Metragem de Animação é o encantador “Hair Love”, de Matthew A. Cherry, um antigo futebolista negro da NFL, que financiou o filme no Kickstarter e conseguiu estreá-lo a nível nacional, como o apoio da Sony. como complemento de “Angry Birds 2 — O Filme” (“Hair Love” pode já pode ser visto no YouTube). É uma daquelas pequenas grandes vitórias das nomeações aos Óscares deste ano, mas parece que ignorada por quem acha que o que importa mesmo é marcar presença nas categorias mais vistosas.

Pode ouvir aqui neste Lado Bom da Vida Especial Eurico de Barros, Tiago Pereira e Gonçalo Correia discutirem as nomeações e o que se espera desta edição dos Óscares.

Especial. O que esperar desta edição dos Óscares