O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou esta quarta-feira que na relação entre Portugal e Angola só há “boas notícias” e foram essas que marcaram a agenda de um encontro de quase uma hora com o seu homólogo angolano.

Questionado pelos jornalistas, o Presidente português negou que os dois lhe tenham discutido eventuais implicações do arresto movido pela Procuradoria-Geral da República (PGR) angolana das contas e participações da empresária angolana Isabel dos Santos, que detém interesses em Portugal.

“É uma temática alheia àquilo que tratámos hoje, não me vou pronunciar sobre ela”, referiu após o encontro, à saída do qual o Presidente angolano, João Lourenço, não prestou declarações.

Marcelo disse que “o encontro correu muito bem” e que só houve matérias “sensíveis” no bom sentido da palavra, ou seja, acerca “das boas notícias que há”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“É um momento único em termos políticos, diplomáticos, económicos, financeiros. Um momento em que verdadeiramente só há boas notícias, ou quase ou a caminho”, referiu, relegando para as declarações dos ministros dos Negócios Estrangeiros quaisquer detalhes.

Os dois chefes de Estado participaram esta quarta-feira em Maputo, durante a manhã, na tomada de posse do Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, para um segundo mandato.

Durante a tarde, encontraram-se num hotel da capital, primeiro apenas os dois, durante cerca de meia hora, entrando depois o resto das delegações de cada país — incluindo os respetivos chefes da diplomacia — para a continuação da reunião.

“As relações bilaterais são excelentes”, descreveu o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Santos Silva, até para as empresas portuguesas, com “expetativa positiva de participar na agenda de desenvolvimento e no plano de privatizações” de Angola.

Questionado também sobre se foram discutidas questões de justiça, o governante português limitou-se a dizer que foram tratadas “questões que são dos executivos”, sem detalhes.

Santos Silva acrescentou que “as relações político-diplomáticas entre os dois países não podiam ser melhores”.

As relações económicas entre Portugal e Angola são crescentes, estão muito sólidas e assim vão continuar. Quanto mais sólidas forem as suas bases, mais as relações se desenvolvem e não há que ter nenhum receio nesse propósito”, concluiu.

Manuel Augusto, ministro das Relações Exteriores de Angola, acrescentou que os dois países estão a “beneficiar da troca de visitas ao mais alto nível, em especial no ano passado, e do ambiente que estas visitas criaram”.

O Tribunal Provincial de Luanda anunciou em 30 de dezembro que decretou o arresto preventivo de contas bancárias pessoais de Isabel dos Santos — filha do antigo Presidente de Angola José Eduardo dos Santos –, do marido, Sindika Dokolo, e do português Mário da Silva, além de nove empresas nas quais a filha do antigo Presidente angolano detém participações sociais.

Em Portugal, Isabel dos Santos detém participações em Portugal em setores como a energia (Galp e Efacec), telecomunicações (NOS) e banca (EuroBic).

Na sequência do anúncio da decisão do tribunal, a empresária afirmou que nunca foi notificada ou ouvida no âmbito no inquérito que levou ao arresto das suas contas em Angola, negando as acusações em que é visada num processo que afirma ser “politicamente motivado”.