O jogo era uma daquelas partidas decisivas que os treinadores e jogadores dizem que significam apenas três pontos, mas na verdade significam muito mais do que isso.

O FC Porto, que estava a quatro pontos do líder Benfica, foi dizendo ao longo da semana a várias vozes que só tinha os olhos na partida diante do Sporting de Braga e que não valia a pena pensar no clássico entre Sporting e Benfica, que se jogaria logo a seguir no Estádio José Alvalade. Mas sabendo que precisaria de ganhar pontos ao rival vermelho em dois jogos, o FC Porto sabia que não depende de si para chegar à liderança.

A margem de erro era nula, a hipótese de ganhar pontos ao Benfica nesta jornada era quase imperiosa de aproveitar, mas o plano saiu furado: o FC Porto não conseguiu sequer pontuar na receção ao SC Braga, perdendo por 1-2, e colocou-se numa posição mais difícil para se aproximar da liderança.

A partida começou bem para os arsenalistas, que se viram a vencer logo aos cinco minutos, com um golo do médio Fransérgio. O tento chegou a ser anulado por Carlos Xistra, mas após ida ao VAR o árbitro da partida validou-o porque, ao contrário do que a equipa de arbitragem considerara, o defesa Raúl Silva, que estava fora-de-jogo, não teve qualquer envolvimento na jogada nem tapou a visibilidade do guarda-redes do FC Porto Claudio Marchesín.

Seria difícil imaginar um arranque pior para os dragões, que alinharam sem Pepe e Nakajima (lesionados), com Mbemba ao lado de Marcano no eixo defensivo e com Manafá na lateral-direita e Jesús Corona mais adiantado no terreno. No banco ficou Luis Díaz, um dos reforços sonantes da equipa de Sérgio Conceição, que estava a ganhar algum ascendente nas últimas partidas e cuja titularidade era esperada. Já o SC Braga de Rúben Amorim, que precisava de não deixar fugir o Sporting e Famalicão e queria colocar pressão sobre o Vitória de Guimarães (que seguia atrás), manteve o sistema de três centrais mas apostou numa surpresa: no lugar de Ricardo Horta, uma das figuras da equipa esta época, jogou Wilson Eduardo, que até foi o capitão.

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Sérgio Conceição assumiu-se responsável pela derrota da equipa (@ Getty Images)

Logo após o golo, ainda nos primeiros 15 minutos, o FC Porto teve algumas aproximações à área do SC Braga e à baliza defendida por Matheus Magalhães: aos 10′, numa boa incursão ofensiva, o lateral Wilson Manafá driblou vários jogadores mas rematou ao lado. O remate, contudo, foi intercetado: e na sequência do canto, o defesa espanhol Ivan Marcano cabeceou a rasar a baliza arsenalista.

Apesar do esboço de reação, o SC Braga mostou cedo que tinha um plano definido para o jogo que era ambicioso — e que só quando o FC Porto obrigasse a equipa a recuar é que abdicaria de ter bola e procurar a baliza dos dragões. O sistema de três defesas funcionou ao longo do jogo, apesar de vários sustos, entre eles duas grandes penalidades que o FCP desperdiçou.

Os centrais bracarenses controlavam a dupla de atacantes do FC Porto e Raúl Silva, que jogou pelo lado esquerdo, até aproveitava para subir e surpreender o meio-campo dos dragões. Os laterais Esgaio e Sequeira, melhores a atacar do que a defender (sobretudo o primeiro), tinham mais liberdade para subir no terreno, protegidos pela linha de três atrás. E no meio-campo Palhinha e Fransérgio corriam e pressionavam muito, fazendo passes simples, algo a que muito ajudou a mobilidade dos jogadores do SC Braga que não tinham a bola, dando sempre opções de passe nos corredores laterais (por Esgaio e Sequeira) e em zonas interiores pelo jovem Trincão, por Wilson e pelo “pivô” atacante Paulinho.

Talvez pela forma descomplexada como o SC Braga jogava, trocando a bola e escondendo-a do adversário mesmo a ganhar, a impaciência começava a notar-se nas bancadas e pouco depois dos 20 minutos já se ouviam assobios. Nem um lapso do defesa Bruno Viana, que quase fez autogolo num corte de cabeça, tirava o jogo do equilíbrio em que estava.

A posse de bola era dividida, com um pouco mais para o FCP do que para o SC Braga, mas a tácica dos arsenalistas permitia liberdade aos três criativos do ataque, como Trincão que aos 34 minutos, em contra-ataque, quase isolava Paulinho. Antes do intervalo, o FC Porto teve uma oportunidade de ouro para igualar, após grande penalidade cometida pelo defesa Raúl Silva. Alex Telles, contudo, permitiu a defesa ao guarda-redes brasileiro Matheus Magalhães.

Os festejos do primeiro golo do SC Braga no Dragão. O jogo iria para o intervalo com 0-1 (@ Getty Images)

FC Porto cresceu na segunda parte, mas não o suficiente

A segunda parte começou numa toada muito diferente, com o FC Porto a pressionar muito o adversário, empurrando-o para próximo da sua área. Sem oportunidades de golo clamorosas, a equipa aproximava-se da baliza adversária e a chegada da igualdade parecia só uma questão de tempo.

Rúben Amorim, que já tinha trocado o defesa Raúl Silva pelo estreante David Carmo (da equipa B) ao intervalo, voltou a mexer aos 53′, substituindo Wilson Eduardo por Ricardo Horta. Mas o extremo mal teve tempo para sentir o ambiente do relvado até ver Carlos Xistra apontar para a marca da grande penalidade, após falta cometida pelo jovem David Carmo, dois minutos depois. Mudou o marcador da marca dos 11 metros, mas Soares não fez melhor do que Alex Telles e também não conseguiu marcar. Desta vez, a bola bateu no poste.

Quem esperava que o FC Porto se fosse abaixo depois da segunda grande penalidade falhada enganou-se: a resposta foi rápida e dois minutos depois do penálti, aos 58 minutos, o avançado Soares redimiu-se e igualou a partida, encostando para a baliza depois de assistência (um cruzamento atrasado) de Marega.

Rúben Amorim, uma aposta arriscada que já está a fazer história

Com o jogo em 1-1, o FC Porto cresceu, entusiasmou-se ao som dos cânticos das bancadas e Rúben Amorim não perdeu tempo: vendo a equipa recuar demasiado e perder o controlo emocional, parou o jogo a meia hora do fim e esgotou as substituições, trocando Trincão — que parecia desgastado — pelo mais fresco Galeno.

A substituição resultou, já que o ex-FC Porto, acabado de entrar, foi perigoso no contra-ataque e criou desequilíbrios, desgastando mais o adversário. Fê-lo por exemplo já no final do jogo, aos 89′, quando, isolado por Paulinho na esquerda, ligou o motor, desmarcou-se em velocidade e cruzou para um Ricardo Horta que na área não conseguiu encostar para a baliza.

O SC Braga conseguia finalmente respirar, até dava sinal de perigo no ataque e Paulinho, depois de ver Marchesín colocar-se entre ele e a baliza desviando um remate pela linha final, marcou mesmo na sequência do canto, de cabeça. O Estádio do Dragão gelou e Sérgio Conceição começou a mexer: primeiro fez entrar Luis Díaz, depois Aboubakar e finalmente, já em cima do tempo de compensação, Sérgio Oliveira.

Nada resultou, nem mesmo o cabeceamento de Soares aos 84′, a que o guarda-redes do Braga respondeu agarrando a bola. Para desespero dos adeptos nas bancadas, o FC Porto não conseguiu furar a linha defensiva dos arsenalistas. Notou-se até uma maturidade inesperada no Sporting de Braga, que conseguiu ter momentos em que segurava a bola e congelava o jogo no meio-campo do FCP já nos últimos minutos do encontro. Uma maturidade porventura ganha na fase de grupos da Liga Europa, este ano, na qual a equipa teve uma prestação impressionante ainda orientada por Ricardo Sá Pinto.

No final da partida, Sérgio Conceição assumiu-se culpado de um “jogo ingrato”, mas elogiou o desempenho da equipa no recomeço do jogo, durante a meia hora inicial da segunda parte. Saiu, contudo, com a certeza que mesmo que o rival Benfica perca pontos em Alvalade, continuará sem depender de si para ser campeão — e a confiança e a moral valem mesmo mais do que três pontos.