GLOAT. Greatest Liverpool Of All Time. Algo como o melhor Liverpool de todos os tempos. É este acrónimo, GLOAT, e esta definição, que tem sido utilizada para descrever a atual campanha do Liverpool na Premier League. 51 jogos seguidos sem perder, nenhuma derrota no espaço de um ano civil, 20 vitórias em 21 jornadas e o melhor arranque entre as cinco principais ligas europeias. Estamos a aproximar-nos do fim de janeiro e a realidade da liga inglesa é uma pergunta que há seis meses seria quase impensável: quando, e não se, vai o Liverpool sagrar-se campeão inglês 30 anos depois?

Ainda que a equipa de Jürgen Klopp esteja a atravessar uma fase bafejada pela sorte de uma espécie de estrelinha de campeão, em que tudo parece acabar por correr bem mesmo quando o grupo não faz um grande jogo nem regista uma grande exibição, os dois principais candidatos ao primeiro lugar têm contribuído para esta temporada que já o coroa o melhor Liverpool de todos os tempos. Esta jornada, o Manchester City cedeu um empate em casa com o Crystal Palace e o Leicester perdeu com o Burnley — resultados que deixavam o Liverpool com mais 13 pontos do que o City e mais 16 do que o Leicester e menos dois jogos disputados.

Este domingo, ainda assim, o Liverpool recebia em Anfield aquele que era considerado por Jürgen Klopp o adversário mais complexo de ultrapassar. O Manchester United, ainda que a cinco pontos dos lugares que dão acesso às competições europeias, foi a única equipa que conseguiu roubar pontos ao Liverpool esta temporada — arrancou um empate em Old Trafford na primeira volta, em outubro — e é também o conjunto que mais dissabores provocou a Klopp desde que o alemão chegou a Inglaterra. Em dez jogos contra o Manchester United durante toda a carreira, o treinador só conseguiu ganhar dois, perdeu outros dois e empatou seis, o pior registo entre as 31 equipas que defrontou 10 ou mais vezes.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Sem Rashford, que agravou uma lesão nas costas no jogo a meio da semana para a Taça de Inglaterra e vai estar de fora durante algumas semanas, o Manchester United apresentava-se em Anfield com Daniel James e Andreas Pereira a fazerem companhia a Martial no ataque, enquanto que o jovem Mason Greenwood começava no banco. Luke Shaw, que tem perdido a titularidade na esquerda da defesa nos últimos jogos, regressava ao onze: e Brandon Williams, o reforço da formação que tem ocupado precisamente a posição de lateral esquerdo, mantinha-se enquanto opção inicial de Solskjaer mas numa zona mais adiantada do terreno, à frente de Shaw, numa tentativa de parar as investidas de Alexander-Arnold pelo corredor. Do outro lado, sem grandes surpresas, Jürgen Klopp lançava aquele que é o onze tipo do Liverpool, com Oxlade-Chamberlain no meio-campo a fazer companhia aos habitualmente titulares Henderson e Wijnaldum.

O inglês Oxlade-Chamberlain tem sido titular no meio-campo do Liverpool

O Manchester United entrou melhor no jogo — como, aliás, tem sido apanágio da equipa de Solskjaer contra os big six. Cientes de que a qualidade individual e até coletiva é inferior à de Liverpool, Manchester City ou Chelsea, os red devils têm enfrentado os grandes clássicos com as linhas recuadas e os setores muito compactos, entregando por completo a iniciativa aos adversários e atacando através de transições rápidas. Foi assim que goleou o Chelsea no início da temporada, foi assim que empatou com o Liverpool em Old Trafford e foi também assim, mais recentemente, que venceu o City: e em estratégia que tem funcionado, Solskjaer não mexe. O Liverpool arrancou com alguma cautela e tranquilidade, sem arriscar demasiado para não deixar espaço nas costas da defesa que pudesse ser explorado pela explosão de James ou Martial, e acabou por chegar à vantagem de forma natural e com alguma ajuda da tal estrelinha de campeão que acompanha a equipa de Klopp nos últimos meses.

Canto batido na direita por Alexander-Arnold e é Van Dijk, que aparece nas alturas e quase sem oposição a cabecear para bater De Gea (14′). Lindelof e Brandon Williams ficaram no chão, Maguire saltou atrasado e o central holandês não falhou. Com o golo de Van Dijk, o Liverpool registou mais um dado histórico, chegando aos 22 jogos seguidos a marcar na liga inglesa, algo que não acontecia desde que o Arsenal marcou em 38 jornadas consecutivas em 2001/02. Roberto Firmino voltou a fazer abanar as redes do Manchester United pouco depois (25′) e Wijnaldum também bateu De Gea (36′) mas ambos os lances foram anulados com recurso ao VAR, primeiro por falta de Van Dijk sobre o guarda-redes espanhol e depois por fora de jogo do médio holandês.

A equipa de Solskjaer ainda reagiu nos últimos cinco minutos da primeira parte, com Martial a fazer o primeiro remate dos red devils mas a atirar ao lado (40′), e o Liverpool ia para o intervalo com a certeza de que teria de manter a linha mais recuada bem sedimentada para não ser surpreendido pelos contra-ataques do United. Henderson acertou no poste ainda dentro dos primeiros cinco minutos do segundo tempo (49′) e Martial rematou por cima depois de uma assistência brilhante de Pereira (59′) mas o resultado não se alterou até os dois treinadores decidirem mexer nas respetivas equipas.

Klopp foi o primeiro, ao lançar Lallana para o lugar de Oxlade-Chamberlain — que saiu com algumas dificuldades físicas –, e Solskjaer reagiu com as entradas de Juan Mata e Mason Greenwood e as saídas de Brandon Williams e Andreas Pereira. O Liverpool perdeu ligeiramente o controlo do jogo nos últimos 15 minutos, graças também a um ligeiro ascendente por parte do Manchester United que permitiu aos red devils partir a dinâmica e tornar mais instável o destino da partida.

No final, e com o jogo a tornar-se totalmente incaracterístico nos derradeiros cinco minutos, o Liverpool ainda aumentou a vantagem por intermédio de Salah depois de uma assistência olímpica de Alisson (90+3′) e conseguiu vencer a única equipa que ainda não tinha derrotado esta temporada na liga inglesa, chegando à 13.º vitória consecutiva para o Campeonato. Num encontro que ficou ainda marcado pelo regresso à competição de Fabinho, o médio brasileiro que esteve afastado dos relvados por vários meses devido a lesão, a equipa de Jürgen Klopp abriu um fosso de 16 pontos de vantagem para o Manchester City e 19 para o Leicester (que se podem tornar 19 e 22 caso vençam o jogo que têm em atraso, contra o West Ham). Este domingo, dia 19 de janeiro, o Liverpool pode começar a encomendar as tarjas de campeão inglês. Não só pela diferença de pontos: mas também porque enquanto City, Leicester e Chelsea perdem e empatam jogos, Klopp e companhia só conhecem o sabor da vitória.