“Este é um dia muito especial para mim. Ainda ontem estava a passear junto às vacas na minha terra e hoje estou a treinar os melhores jogadores do mundo, numa equipa enorme. Jamais poderei melhorar, isto é o máximo. Obrigado ao clube. Nem nos meus melhores sonhos imaginava estar aqui”. Foi assim, a provocar algumas gargalhadas na sala de imprensa de Camp Nou, que Quique Setién falou pela primeira vez enquanto treinador do Barcelona. Ernesto Valverde ainda deu o treino na segunda-feira, Xavi e Ronald Koeman recusaram propostas, falou-se em Mauricio Pochettino e Massimiliano Allegri: no final, a escolha da Direção catalã recaiu em Setién, sem trabalho desde maio, altura em que deixou o Bétis.

O treinador de 61 anos chegou para substituir Valverde, que saiu pela porta pequena apesar de ter deixado a equipa a lutar pela liga espanhola e nos oitavos de final da Liga dos Campeões, e apressou-se a estender elogios a Messi, a garantir que está agora na melhor equipa do mundo e a proferir um discurso confiante e de vitória — ainda que com caricatos laivos de humildade. Setién, que chegou a ser associado ao Sporting no início da temporada depois da saída de Marcel Keizer, foi interpretado numa primeira fase enquanto uma espécie de “penso rápido”, um treinador para segurar as pontas até ao final da época e abrir caminho a um substituto a longo prazo em maio. O contrato assinado até junho de 2022, porém, deixa nas entrelinhas que o técnico espanhol pode ser uma aposta duradoura por parte da Direção comandada por Josep Maria Bartomeu.

Este domingo, já sem Suárez, que foi operado ao joelho e vai estar de fora até ao fim da temporada, Quique Setién estreava-se ao leme do Barcelona em Camp Nou perante o Granada dos portugueses Domingos Duarte e Rui Silva. Depois da vitória do Real Madrid já este fim de semana contra o Sevilha, os catalães estavam obrigados a vencer para colarem outra vez na liderança em conjunto com os merengues (e abrirem, ao mesmo tempo, um fosso de oito pontos de vantagem para o terceiro lugar e para o Atl. Madrid, que perdeu com o Eibar). No primeiro onze de Setién, o jovem Ansu Fati era titular, assim como os médios Arturo Vidal e Rakitic, e Riqui Puig, de apenas 20 anos, entrava na convocatória e estava no banco de suplentes.

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Ainda antes do apito inicial, alguns utilizadores das redes sociais já destacavam várias diferenças entre Quique Setién e os dois antecessores, Ernesto Valverde e Luis Enrique. O aquecimento dos jogadores do Barcelona foi feito no relvado tanto por titulares como por suplentes, sendo que tanto com Valverde como com Enrique os suplentes ficavam no balneário; o treinador assistiu aos exercícios de aquecimento, algo que os outros dois técnicos não costumavam fazer; e os jogadores titulares não estavam emparelhados em duplas mas sim em trios, para forçar as triangulações, algo que também não era usual com Valverde e Enrique.

Os primeiros minutos mostraram desde logo que seria Messi a atuar na faixa central do ataque, com Griezmann a cair na esquerda e Ansu Fati a ficar na ala direita. O jovem da formação do Barcelona foi mesmo o primeiro a ficar perto do golo, na sequência da primeira jogada de verdadeiro perigo: Fati apareceu tombado na direita no interior da grande área e rematou rasteiro e na diagonal para um grande defesa de Rui Silva (7′). O adiantar do relógio acabou por revelar que a ideia de Quique Setién para a frente de ataque passava pela mobilidade dos três jogadores, com Griezmann a ocupar também a posição central durante alguns períodos e mesmo Ansu Fati, numa fase já perto da meia-hora, a aparecer também entre o francês e Messi.

No final da primeira parte, ainda sem golos marcados em Camp Nou, o Barcelona ia para o intervalo com a certeza de ter estado sempre por cima do jogo mas longe de ter sido demolidor, muito graças à eficiente organização defensiva do Granada. Os catalães procuraram sempre construir através da faixa central para depois abrir nas alas à chegada à grande área, de forma a descentralizar o lance e difundir a atenção da defesa do Granada, e foi precisamente assim que Messi ficou perto de marcar já em cima do intervalo (44′). No final dos primeiros 45 minutos, porém, Quique Setién ia empatando na estreia enquanto treinador do Barcelona.

Arturo Vidal foi titular na estreia de Setién como treinador principal do Barcelona

Na segunda parte, o domínio do Barcelona agudizou-se e o Granada recuou por completo no relvado, tornando-se muito compacto e obrigando a equipa da Catalunha a rendilhar muito os lances antes de conseguir chegar perto da baliza de Rui Silva. Numa das poucas jogadas em que o Barça conseguiu romper a muralha adversária, Arturo Vidal recebeu de Messi na direita e conseguiu rematar por debaixo do guarda-redes mas um defesa evitou o primeiro golo do jogo (52′).

Na ausência de oportunidades do lado do Barcelona, apesar da inegável goleada no que diz respeito à posse de bola e ao controlo do jogo, acabou por ser o Granada a ficar perto de inaugurar o marcador numa das escassas ocasiões em que conseguiu lançar-se em contra-ataque. Eteki aproveitou uma perda de bola dos catalães no próprio meio-campo para avançar e acertar no poste da baliza de Ter Stegen (66′), deixando gelado o Camp Nou. Pouco depois, porém, o central Sánchez acabou por ver o segundo cartão amarelo e ser expulso, deixando o Granada a jogar com menos um elemento nos últimos 20 minutos do jogo (69′).

O Barcelona demorou pouco mais de cinco minutos a capitalizar a superioridade numérica: numa jogada de insistência, em que a bola chegou a ficar do lado do Granada, Messi segurou na grande área, soltou em Griezmann, o francês solicitou Vidal e o chileno, de calcanhar, devolveu a Messi, que rematou de primeira e de pé direito para bater Rui Silva (76′). Quique Setién ainda lançou o jovem Riqui Puig e Carles Pérez, além do médio Arthur, mas o Barcelona não conseguiu aumentar a vantagem e acabou por derrotar o Granada pela vantagem mínima, depois de um jogo surpreendentemente complexo.

Na estreia de Quique Setién ao comando da equipa, o Barcelona regressou às vitórias depois de derrota com o Atl. Madrid na Supertaça de Espanha que acabou por ditar a saída de Ernesto Valverde e voltou a colar-se ao Real Madrid na liderança da classificação. Mesmo sem grande nota artística e para além das diferenças que se fizeram sentir no aquecimento, ainda antes do apito inicial, Setién já mostrou que vai apostar em Ansu Fati, que quer dar minutos a Puig e Pérez e que os catalães vão regressar a um estilo de jogo muito mais central e rendilhado.