Se o velho ditado diz que a morte e os impostos são as duas coisas certas na vida, o boom das startups em todo o mundo veio também aumentar a aposta naquele que é considerado um dos setores mais tradicionais e conservadores: os funerais. De empresas que produzem roupas amigas do ambiente para usar depois da morte a startups que enviam cinzas para o espaço ou criam plataformas para facilitar a comunicação de mortes, há ideias para tudo e que mostram que o setor está a mudar.

Em março do ano passado, a morte de Luke Perry, conhecido pelo papel na série Bevery Hills 90210, deu que falar, não só por ser uma figura conhecida por todos, mas também pelo pedido peculiar que o ator deixou para o seu funeral. Perry foi enterrado com um fato biodegradável, feito a partir de fungos, que tem como objetivo acelerar o processo de decomposição e devolver o corpo à natureza mais rapidamente.

O fato foi produzido por uma startup de tecnologia funerária chamada Coeio e custou 1.500 dólares (cerca de 1.351 euros). Esta empresa, fundada por Jae Rhim Lee, desenvolve roupas com o objetivo de reduzir o impacto ambiental das pessoas e dos próprios funerais, ao “acelerar a decomposição, corrigir as toxinas e permitir o desenvolvimento de nutrientes para as plantas”. Tudo isto através de fungos e outros pequenos organismos que constituem o fato.

“O meu pai descobriu isto e estava tão entusiasmado como nunca o tinha visto. Foi enterrado neste fato, era um dos seus desejos finais. São mesmo uma coisa maravilhosa para este planeta”, referiu Sophie Perry, filha do ator, numa publicação no Instagram onde explicou o desejo do pai em ser enterrado com este fato.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

View this post on Instagram

????In December I went to San Francisco with two of my best friends. One of them, had never never been to California, so we went to show him the Redwoods. I took this picture while we were there, because i thought, “damn, those mushrooms are beautiful.” Now, mushrooms hold an entirely new meaning for me. Any explanation i give will not do justice to the genius that is the mushroom burial suit, but it is essentially an eco friendly burial option via mushrooms. All i can say is that you should all look into them at coeio.com or just by googling “mushroom burial suit” . My dad discovered it, and was more excited by this than I have ever seen him. He was buried in this suit, one of his final wishes. They are truly a beautiful thing for this beautiful planet, and I want to share it with all of you.

A post shared by Sophie Perry (@lemonperry) on

Esta startup, explica a Wired, está entre um conjunto de projetos que tenta encontrar um lugar num mercado tão tradicional e que vale cada vez mais. No Reino Unido, por exemplo, o mercado das funerárias vale dois mil milhões de euros por ano. Mas se a ideia do fato de fungos deu que falar, há outras startups que também querem marcar a diferença depois da morte e tentam também ter a ideia do ambiente como prioridade.

É o caso da startup norte-americana Eternal Reefs, que envia cinzas para as profundezas do oceano numa espécie de “bola” de recife biodegradável feita com cimento. “O Eternal Reefs pega nos restos cremados de um indivíduo e incorpora-os numa mistura de cimento ambientalmente segura, projetada para criar formações artificiais de recifes. Os recifes eternos são depois colocados num dos locais do oceano permitidos”, explica a empresa no seu site.

Há também empresas que enviam cinzas para o espaço, como é o caso da empresa Celestics ou da Elysium Space, que no ano passado colocou no foguetão SpaceX Falcon 9 as cinzas de 100 pessoas por 2.500 dólares, enquanto as famílias podiam acompanhar toda a viagem em Terra.

Neste foguetão SpaceX não seguiram só satélites. As cinzas de 100 pessoas também subiram ao Espaço

Num mercado que ainda é bastante conservador, as empresas mais tradicionais, juntamente com todo o sistema legal, tendem a colocar um preço mais alto para a realização de funerais, que envolvem todo o processo desde o transporte ao serviço do funeral em si. E também para inverter essa situação foram criados novos projetos. É o caso da Solace, uma startup fundada por dois antigos diretores de conteúdos da Nike, Keith Crawford e David Odusanya, que tem como objetivo “trazer os serviços funerários para o século XXI”.

Como? Através de uma plataforma online que permite que as pessoas decidam e controlem todo o processo de organização dos funerais, com um atendimento ao cliente 24 horas por dia. Para já, a empresa apenas trabalha com processos de cremação.

Mas não é apenas no processo de organização de funerais que estão a surgir novas startups. O que vem antes também é pensado. Mark Alhermizi, por exemplo, criou a Everydays, uma espécie de rede social para memoriais que tem como objetivo facilitar a comunicação da morte de alguém. “Todo o processo [após a morte] não poderia ser mais analógico. O meu pai destacou-se na sua comunidade, mas um mês depois as pessoas ainda me perguntavam ‘Ei, como é que está o teu pai?’, mesmo tendo em conta que ele morreu um mês antes. Foi quando vi que havia aqui uma oportunidade”, explicou Mark Alhermizi à Pitch Book.

A startup completou recentemente uma ronda de investimento série A de 12 milhões de dólares e em fevereiro do ano passado estava já avaliada em quase 100 milhões de dólares.