Cada época tem a sua história, cada Grand Slam tem o seu contexto. No ano passado, João Sousa chegou ao Open da Austrália num grande momento, começou por ganhar uma autêntica batalha ao argentino (e amigo) Guido Pella em cinco sets, voltou a vencer em cinco sets o alemão Philipp Kohlschreiber e caiu apenas na terceira ronda frente ao japonês Kei Nishikori, naquele que foi o melhor resultado em Melbourne a par de 2015 e 2016 – e ainda fez história em pares com o argentino Leonardo Mayer, só caindo nas meias contra Henri Kontinen e John Peers. Todavia, um ano depois, o contexto era diferente e era nessa base que o português defrontava Federico Delbonis.

Garra, entrega total ao jogo e uma incógnita: o que esperar da estreia de João Sousa no Open da Austrália

“Esperamos um encontro muito dividido, um encontro físico, entre dois jogadores se conhecem muito bem.  Vai ser um encontro de princípio do ano, talvez com um pouco mais de erros do que é normal nos atletas porque ambos ainda não competiram muito este ano. Mas são dois jogadores fisicamente muito fortes, dois lutadores e que se entregam ao ponto. O Federico taticamente é um jogador canhoto, com boa direita e muito boa dinâmica de fundo do court. É jogador com peso de bola e que gosta de comandar desde longe. Longe da linha de fundo. Vamos tentar ser fortes no princípio de jogada, dominar o campo com a direita e ocupar o campo com essa pancada”, dizia Frederico Marques, técnico do vimaranense, ao Bola Amarela, ao mesmo tempo que assegurou que o português “está melhor dia após dia” dos problemas no pé esquerdo que condicionaram a preparação.

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Rui Machado, antigo tenista com participação no Open da Austrália e atual capitão nacional, já tinha também dito no programa “Nem tudo o que vem à rede é bola” da Rádio Observador que essas questões físicas deveriam mudar a perceção com que se olhava para a estreia do melhor português de sempre no primeiro Grand Slam da temporada. “Este ano é preciso pensar que o João não está na melhor forma, não sabemos em que estado vai chegar porque não fez a melhor preparação como gostaria devido a uma lesão mas podemos esperar o de sempre do João – garra e uma entrega total ao jogo que tem dado resultados positivos. Não devemos olhar só para o João contra o Delbonis mas também para o estado em que o João vai conseguir estar”, destacou.

João Sousa eliminado nas meias-finais do Open da Austrália em pares depois de um trajeto histórico

Depois de uma entrada em falso no torneio de Aukland, com uma derrota frente ao canadiano Vasek Pospisil na ronda inicial, João Sousa defrontava pela sétima vez Delbonis – que depois de passar duas rondas de qualificação também caiu na primeira ronda do torneio de Adelaide diante do australiano James Duckworth –, com três vitórias para cada nos confrontos anteriores (sendo que apenas um foi realizado em piso rápido, com vantagem para o argentino). No entanto, não demorou a perceber-se que essas limitações físicas dos últimos tempos, primeiro com uma fratura de stress no pé esquerdo e depois com uma entorse no pé direito, condicionaram o melhor jogo do português, que demorou a encontrar o seu melhor no court e acabou por cair logo na primeira ronda.

A expressão No entiendo, no entiendo que atirou já no final do primeiro set dizia muito do estado de espírito de João Sousa no arranque no jogo: depois de sofrer um break logo no encontro inicial de serviço, o português foi tendo uma ligeira melhoria com o passar dos pontos mas ficou sempre condicionado pelo serviço agressivo do argentino e pelas boas respostas para o fundo do court ao seu serviço. Aliás, olhando para as estatísticas, a principal diferença acabou por ser a percentagem de pontos conseguidos no primeiro serviço (80%-69%) num set onde o tenista de Guimarães ainda deu sinais de poder quebrar o serviço mas que perdeu por 6-3 em 32 minutos.

O 76.º do ranking mundial, também ele assolado em anos anteriores por problemas físicos, percebia a importância de conseguir um break no serviço de João Sousa para poder depois ir tentando defender a vantagem ao longo do set, algo que voltou a acontecer no segundo parcial logo a abrir quando fez o 2-0. Até nos serviços com bolas novas do argentino dava ideia que o português tinha jogo suficiente para inverter o andamento do encontro mas, no final do oitavo jogo, voltou a ter um desabafo bem audível de “Não consigo jogar ténis, não consigo” que mostrava numa frase as dificuldades que o 59.º do ranking ATP estava a sentir para estabilizar o seu ténis. No jogo seguinte, Sousa venceu com facilidade o seu serviço mas Delbonis conseguiria mesmo fechar o 6-4 em 39 minutos, tendo mais winners, menos erros forçados e uma melhor percentagem de pontos conseguidos no primeiro serviço.

O terceiro set seria o mais equilibrado, com os primeiros quatro jogos de serviço fechados de forma relativamente até à quinta partida em que João Sousa teve algumas dificuldades em fazer o 3-2. Mais tarde, no oitavo jogo, a grande oportunidade para o português: o vimaranense teve três pontos de break para fazer o 5-3 mas Delbonis foi conseguindo aguentar enquanto Sousa atirava para o ar “Duas na tela, duas!”, lamentando duas bolas que bateram na rede e poderiam ter conseguido outro desfecho antes de salvar também ele o break do argentino. O jogo chegaria mesmo ao tie break, onde Delbonis foi mais forte e conseguiu fechar o jogo com 7-3, jogando agora na segunda ronda do primeiro Grand Slam da temporada com o número 1 do mundo, Rafa Nadal.